Estudo revela queda de 75% no número de insetos voadores na Alemanha

Redução de insetos sofreu redução brutal em apenas 30 anos e preocupa cientistas; de acordo com autores, dados foram obtidos em áreas protegidas do país, mas resultado têm implicações para todas as regiões onde a paisagem é dominada pela agricultura

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Por Fabio de Castro
Atualização:

O volume total de insetos voadores teve uma redução de 75% em apenas 27 anos em áreas protegidas da Alemanha, de acordo com um novo estudo publicado hoje na revista científica Plos One. De acordo com os autores da pesquisa, a constatação é preocupante, já que os insetos têm um papel crucial no funcionamento dos ecossistemas, polinizando 80% das plantas e fornecendo alimento para 60% das aves.

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Embora os dados tenham sido obtidos na Alemanha, o estudo tem implicações para as paisagens dominadas pela agricultura em todo o mundo, segundo os autores. A causa da redução de de insetos ainda é obscura, de acordo com os pesquisadores, mas eles acreditam que o uso de pesticidas é uma das explicações mais prováveis.

"Desde 1989, em 63 reservas naturais da Alemanha, a biomassa total de insetos voadores caiu mais de 75%. Há muito tempo já se suspeitava dessa redução, mas o estudo mostrou que ela é muito mais severa do que imaginávamos", disse o autor principal do estudo, Caspar Hallmann, da Universidade Radboud, na Holanda.

"Um declínio do número de insetos voadores em uma taxa tão alta e em uma área tão grande é uma descoberta alarmante", comentou outro dos autores, Hans de Kroon, também da Universidade Radboud.

Segundo Hallmann, estudos anteriores já haviam indicado um padrão generalizado de declínio da diversidade e abundância dos insetos, mas eles tinham foco em uma só espécie ou grupo taxonômico, enquanto a nova pesquisa monitorou a biomassa de insetos ao longo de um período extenso.

Armadilha de Malaise montada em área protegida dominada por paisagem agrícola, na Alemanha; estudo revelou um declínio de mais de 75% na biomassa de insetos voadores do país em apenas 27 anos. Foto: Caspar Hallmann

Para compreender a extensão e as causas do declínio de insetos, os cientistas mediram a biomassa total desses animais utilizando armadilhas de Malaise, que foram distribuídas ao longo de 27 anos em 63 áreas de proteção na Alemanha. Eles concluíram que a biomassa média de insetos voadores nesses locais caiu 76%, chegando a 82% no meio do verão, em comparação a 1989.

Uma das áreas protegidas na Alemanha, onde o estudo constatou uma queda brutal da biomassa de insetos em menos de 30 anos; problema detectado tem implicações para todas as regiões onde a paisagem é dominada pela agricultura. Foto: Caspar Hallmann

Os resultados, segundo Hallmann, são coerentes com os declínios recentemente registrados de espécies como borboletas, abelhas selvagens e mariposas e sugerem que toda a comunidade de insetos voadores vem sendo dizimada nas últimas décadas.

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Os cientistas descobriram que esse dramático declínio ocorreu sem relação aparente com o tipo de habitat - e que não pode ser explicado por mudanças climáticas, por mudanças no uso da terra, nem pelas características do habitat. 

Eles sugerem que fatores de grande escala podem estar envolvidos com o fenômeno, mas dizem que será preciso realizar novos estudos para investigar toda a gama de variáveis climáticas e agrícolas que poderiam ter impacto potencial na biomassa de insetos.

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