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Estudo liga energia menos poluente a redução de mortes

Pesquisas no Brasil e nos EUA mostram que nova matriz energética evitaria problemas de saúde e pouparia recursos

Por Juliana Tiraboschi
Atualização:

SÃO PAULO - Pesquisas recentes nos Estados Unidos e no Brasil reforçam o entendimento de que as mudanças na matriz energética - com substituição de uso de combustíveis fósseis por alternativas menos poluentes - levam à melhora na qualidade do ar e, assim, reduzem riscos de mortes prematuras. Os estudos ainda apontam vantagens econômicas nas alterações. 

Apesar do avanço, a energia eólica ainda tem participação pequena na geração do País Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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Uma das pesquisas, da Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA), mostrou que, entre 2007 e 2015, a melhoria na qualidade do ar de várias cidades do país - graças, em grande medida, a investimentos em energia solar e eólica - levou a uma economia de US$ 29,7 a US$ 112,8 bilhões, dependendo da região, e poupou entre 3 mil a 12,7 mil mortes prematuras que seriam causadas por problemas de saúde. O estudo foi publicado em agosto na revista científica Nature Energy.

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Enquanto os incentivos federais à energia solar e eólica ficaram na ordem de US$ 6,5 bilhões em 2010, a economia relativa à melhoria da qualidade do ar e redução na emissão de gases de efeito estufa foi estimada pelos pesquisadores em US$ 8,3 bilhões. Para 2013, foram US$ 11,5 bilhões de incentivos para economia de US$ 13,1 bilhões. Os valores levam em conta o que se deixa de gastar com internações, faltas no trabalho e perda de produtividade por doenças e mortes. 

“Comparando ano a ano, claramente os benefícios se igualam ou superam os incentivos”, disse ao Estado Dev Millstein, autor principal do estudo. “Além disso, a vida útil de parques solares e eólicos é de 20 a 30 anos, então eles continuarão a fornecer benefícios por muito tempo depois que os incentivos tiverem cessado.” 

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Diferentemente do Brasil, que tem nas hidrelétricas a maior fonte de geração de energia, os Estados Unidos têm o gás natural e as termelétricas movidas a carvão como protagonistas de sua matriz energética. 

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A queda na emissão de poluentes ajudou a evitar até 12,7 mil mortes prematuras, dependendo da região, que seriam provocadas por doenças causadas pela poluição. “Foi, de longe, o maior benefício da melhoria na qualidade do ar”, diz Millstein. “Também houve significativas reduções na incidência de asma, bronquite, enfartes não-fatais, visitas ao pronto-socorro por problemas respiratórios e cardiovasculares e nas faltas ao trabalho e escola.”

Brasil

Um estudo do Instituto Saúde e Sustentabilidade, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), divulgado em maio, também relacionou os benefícios à saúde causados por uma mudança na matriz energética. Mas, nesse caso, a pesquisa avaliou a energia usada no transporte público sobre rodas na cidade de São Paulo, que é o diesel, na maior parte dos casos. 

O trabalho analisou três cenários, elaborados pela organização Greenpeace. O pior reflete a continuidade das políticas públicas atuais. Se mantida essa situação até 2050, seriam contabilizadas 178.155 mortes que podem ser atribuídas à poluição do ar por causa da emissão de material particulado fino.

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No cenário mais otimista, no entanto, com 100% da substituição do diesel pela matriz elétrica, 12.796 vidas seriam poupadas até 2050. A mudança também evitaria gastos da ordem de R$ 3,8 bilhões por causa da perda de produtividade decorrente das mortes.

Segundo Evangelina Vormittag, diretora técnica do Instituto Saúde e Sustentabilidade e uma das autoras do estudo, o material particulado é o elemento mais preocupante da poluição que vem do diesel. “Ele causa problemas sistêmicos, como enfarte”, diz. O material particulado costuma ser mais associado aos problemas respiratórios, mas 80% dos efeitos são no sistema cardiovascular. “Ele entra no organismo pelo pulmão e passa para a circulação”, diz. 

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De acordo com o médico Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e coautor do estudo, os poluentes da queima do diesel podem aumentar ainda o risco de derrame, além de câncer de pulmão e bexiga.

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