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Estamos indo rápido demais?

Expansão acelerada das renováveis leva ao receio de que a infraestrutura não acompanhe o ritmo

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Por Redação
Atualização:

Há vários números e indicadores que demonstram o rápido crescimento da produção de energias renováveis no Brasil. Na energia eólica, o País saltou em dez anos do 15º para o 6º lugar no ranking mundial de capacidade instalada, de acordo com o Global Wind Energy Council (GWEC). No ano passado, o Brasil foi o terceiro país que mais instalou usinas eólicas no mundo. No que diz respeito à energia solar, a produção nacional foi multiplicada por quase sete vezes nos últimos cinco anos, saltando de 2.416 GW para 16.414 GW. E todas as projeções indicam que o ritmo de crescimento continuará forte na próxima década.

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São dados que todos aqueles que desejam um futuro mais sustentável devem celebrar, mas, ao mesmo tempo, têm trazido um certo receio aos especialistas no mercado de energia. A infraestrutura do País vai dar conta de escoar toda essa crescente produção ou a transmissão poderá apresentar gargalos num futuro próximo? Há riscos de que, depois de tantos investimentos em geração, parte da produção das usinas eólicas e solares acabe não chegando aos consumidores?

Essa preocupação tem uma justificativa geográfica, relacionada às condições naturais do Brasil e ao histórico do desenvolvimento do País. Tanto as usinas solares quanto as eólicas se concentram em grande parte na Região Nordeste, distante dos centros com maior demanda, que estão no Sudeste. Por conta disso, são necessários milhares de quilômetros de linhas de transmissão e um planejamento integrado para que toda a produção de renováveis seja aproveitada. Quanto mais novas usinas são construídas, mais linhas de transmissão são necessárias. Isso exige, claro, investimentos.

Conta dividida

“É fundamental que ocorra uma modernização do planejamento da expansão da transmissão, de modo a tratar adequadamente a forte inserção das fontes renováveis”, alerta Carlos Dornellas, diretor da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Ele descreve a ocorrência, em muitos casos, de um descompasso significativo entre o ritmo de desenvolvimento da geração e da transmissão. “As grandes usinas solares fotovoltaicas podem ser implantadas em até 18 meses, enquanto os sistemas de transmissão associados podem levar mais de 60 meses.” As consequências desse descompasso podem, sim, resultar em futuros gargalos, alerta Dornellas, com prejuízo aos empreendedores e aos consumidores.

Para a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, a questão ainda não configura um grande risco, mas sem dúvida é um ponto de atenção. “Há um esforço de planejamento para que novas linhas de transmissão sejam leiloadas, construídas e colocadas em operação. É necessário que nossa malha continue sendo ampliada para que possamos seguir crescendo”, ela enfatiza.

Com base nas demandas previstas pelo Plano Decenal de Expansão de Energia 2030, o Ministério de Minas e Energia pretende expandir a rede de transmissão no Nordeste – a expectativa é de iniciar projetos para a construção de 6,6 mil km de linhas, com investimentos totais de R$ 18,2 bilhões. 

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Parte desses custos será dividida entre todos os consumidores do País, por meio dos subsídios de transmissão a renováveis embutidos nas contas de energia – processo que já existe, embora a maior parte das pessoas nem tome conhecimento disso. Como resultado da expansão recente da produção dessa modalidade, o valor da tarifa rateada quase triplicou nos últimos cinco anos, de acordo com dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

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