PUBLICIDADE

Especialistas defendem informação e participação da sociedade no destino das cidades na pós-pandemia

Redução da desigualdade social também foi tema do terceiro painel do seminário promovido pelo Estadão sobre Retomada Verde

Por João Prata
Atualização:

As cidades no pós-pandemia e a discussão sobre como reduzir as desigualdades sociais e aumentar a qualidade de vida nas metrópoles brasileiras foram tema do terceiro painel do seminário virtual promovido pelo Estadão sobre Retomada Verde. Ao longo de uma hora de conversa, especialistas em urbanismo falaram sobre a importância das cidades voltarem a ser ocupadas e pensadas mais para as pessoas e menos para os carros. Também defenderam que a população se mobilize para acordar os políticos para a necessidade de priorizar uma agenda mais sustentável.

A mesa de debates online reuniu Roberta Kronka, Philip Yang e Ilan Cuperstein. A mediação foi feita por Mauro Calliari, doutor em Urbanismo e blogueiro do Estadão Foto: Estadão Retomada Verde

A mesa de debates online reuniu Roberta Kronka, professora da FAU-USP, Philip Yang, fundador do Urbem, e Ilan Cuperstein, vice-diretor regional da C40 para a América Latina. A mediação foi feita por Mauro Calliari, doutor em Urbanismo e blogueiro do Estadão.

PUBLICIDADE

"É o momento de retomada da cidade. Temos de vivenciar a cidade como cidadãos. Usar a cidade e nos sentir como participante, como alguém que tem de votar pelo que quer, ir atrás dos direitos. O momento é oportuno para colocarmos a voz e defendermos os nossos direitos. A cidade é nossa, somos nós que construímos. As plataformas estão aí para nos auxiliar. Participem, cobrem vereadores, deputados... Temos todo potencial para melhorar nossas cidades", disse Roberta Kronka, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP).

Philip Yang, fundador do Instituto Urbem, que trabalha com questões de urbanismo e estudos para a metrópole, exemplificou como os políticos podem ajudar a pensar em cidades mais justas ao citar uma comunidade que fica na Vila Leopoldina, em São Paulo, próxima ao encontro dos Rios Pinheiros e Tietê. O local costuma alagar com as chuvas de verão.

"Temos um projeto para ser votado, com financiamento privado. Tem agente de mercado disposto a colocar R$ 130 milhões para resolver o problema de assentamento. Mas o projeto está dormindo na Câmara há mais de um ano e o pessoal não vota. É um sinal de desrespeito não dar prioridade quando se sabe que tem 3 mil, 4 mil pessoas vivendo nessas condições", afirmou Yang.

Ilan Cuperstein, vice-diretor regional da C40 para a América Latina, organização que trabalha com a questão das mudanças climáticas nas cidades, ressaltou a importância do combate à desigualdade especialmente durante a pandemia, citando pesquisa que apontou que "100 milhões de pessoas devem entrar na linha da pobreza, sendo 70% de extrema pobreza." 

Segundo os especialistas, a crise global possibilita que as cidades sejam repensadas com foco, por exemplo, na redução da poluição. Cuperstein lembrou que a cidade de São Paulo tem um projeto para que os caminhões de coleta de resíduos sejam elétricos. "É fundamental que o diesel não seja utilizado. Cidades que diminuíram a circulação de veículos a diesel conseguiram melhorar na qualidade do ar. Em termos de transição tecnológica, combater o motor a combustão movido a diesel é necessário." 

Publicidade

Roberta também defendeu que a tecnologia seja usada em favor do envolvimento das pessoas no destino de sua cidade. "Na Espanha, há uma participação absurda das pessoas por meio das plataformas para votar tudo o que acontece", disse. Para isso, diz a professora da USP, o cidadão precisa se informar - os meios de comunicação, políticos e professores precisam dar mais condições para que cada um saiba como pode melhorar seu município.

"É complicado perguntar o que cada um quer se a pessoa não tem parâmetros porque conhece muito pouco (sobre a sua cidade). Nesse ponto as smarts cities podem ajudar muito, podem aumentar a participação e trazer demandas do que está acontecendo."

As regras no pós-pandemia também precisarão ser mais flexíveis nas grandes cidades para não ir na contramão da tecnologia. Yang deu como exemplo a concessão feita por 15 anos para a explorar as áreas de Zona Azul, sendo que a cidade pensada para a próxima década é de carros autônomos. "O estacionamento no meio fio poderia abrir espaço para mais calçadas, poderia abrir espaço para e-commerce. Uma das coisas que se fala sobre o futuro planejador é que ele tem de pensar em modalidades flexíveis."

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.