ENTREVISTA-Ricos devem liderar ação antiaquecimento, diz ONU

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Por JEREMY LOVELL
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Os esforços de combate ao aquecimento global correm o risco de perder fôlego porque os países ricos e desenvolvidos não estão assumindo as rédeas do processo como deveriam, afirmou nesta sexta-feira Yvo de Boer, chefe do secretariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para as mudanças climáticas. Em entrevista, De Boer disse que continua existindo boa vontade e desejo político para agir depois do acordo selado em dezembro a respeito de esforços para tentar selar um novo pacto global de combate ao aquecimento. De Boer observou, porém, que pouca coisa de concreto vinha sendo realizada. "Precisamos de uma liderança da parte dos países ricos e de dinheiro na mesa para que os países em desenvolvimento consigam adotar medidas que seriam impossíveis dentro de seus parâmetros de crescimento econômico e de erradicação da pobreza", disse ele à Reuters. "Não identifico sinais claros da vontade de mostrar liderança e, para mim, não está claro como o dinheiro será disponibilizado", disse De Boer, atualmente em Londres para reunir-se com o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, que defende uma iniciativa de combate às mudanças climáticas. De Boer, cuja Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês) dirige o Protocolo de Kyoto (que prevê cortes na emissão de gases do efeito estufa), disse que os países pobres haviam aceitado adotar políticas climáticas viáveis e verificáveis. No entanto, para dar início a esse processo, os países desenvolvidos precisam não apenas mostrar que estão adotando medidas duras eles próprios, mas também precisam realizar gestos concretos, como transferência de tecnologia e concessão de fundos para ajudar as nações pobres a cumprir suas promessas. "Não consigo ver com clareza como os governos mobilizarão seus recursos financeiros, tornando possível um envolvimento maior da parte dos países em desenvolvimento", afirmou De Boer. URGÊNCIA Segundo cientistas, as temperaturas médias do planeta vão subir entre 1,8 e 4 graus Celsius neste século devido às emissões de gás carbônico resultante da queima de combustíveis fósseis. Esse aquecimento ameaça provocar enchentes e surtos de falta de alimentos, colocando em perigo milhões de vidas. Os países ricos e pobres aceitaram em dezembro dar início a negociações sobre um acordo capaz de suceder o Protocolo de Kyoto, que deixa de vigorar em 2012. "O problema é que os países ricos não começaram a pensar realmente sobre como gerar os recursos necessários para tornar viável um futuro acordo", disse a autoridade. De Boer pediu ainda que a comunidade internacional imbua-se de um sentimento maior de urgência. "Precisamos de clareza neste momento e não em 2050, quando todos estaremos nos congratulando", disse, referindo-se à meta de emissões globais para 2050, acertada em caráter provisório pelo Grupo dos Oito (G8), no ano passado. "Precisamos saber o que deverá ser feito até 2020. Isso significa um maior sentimento de urgência e um encurtamento dos prazos."

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