As negociações da Comissão Internacional da Baleia (CIB) para encontrar uma saída para a questão da caça às baleias fracassaram em Agadir. Japão, Noruega e Islândia queriam mais dez anos de não observância da moratória à caça, instituída em 1986, em troca da redução do número de baleias mortas anualmente. Os países contra a caça disseram não. As negociações foram suspensas por um ano.
Delegados dos 88 países membros da Comissão estão reunidos no Marrocos desde o dia 21.
"Nós tivemos dois dias de conversa, mas não chegamos a um consenso", disse Geoffrey Palmer, chefa da delegação neozelandesa.
Os grupos estavam muito divididos. A União Européia, liderada pelo Reino Unido, adotou uma posição comum no final de semana, contra a retomada de qualquer tipo de caça às baleias. Mas os Estados Unidos e a Nova Zelândia continuaram a endossar fortemente o pacote de medidas proposto pelo presidente da CIB.
Até mesmo o movimento ambientalista não tinha um discurso comum. Três dos maiores grupos não-governamentais do mundo - WWF, Greenpeace e Pew - disseram estar preparados para o recomeço da caça comercial contanto que as seis condições que estipularam em conjunto fossem observadas. Seriam elas: o fim da caça no Santuário Baleeiro do Oceano Austral; o condicionamento da caça à garantia de que os produtos originários das baleias sejam consumidos apenas no mercado doméstico (interno); o uso das medidas científicas da CIB para a mensuração do número de animais que podem ser caçados anualmente (chamadas de Revised Management Procedure - RMP); a proibição da caça de espécies ameaçadas de extinção; a mudança na redação do artigo VIII da Convenção Internacional para Regulação da Atividade Baleeira (que trata da caça para fins científicos e especifica que cada país pode estipular sua quota de captura) e a aceitação das regras estipuladas neste encontro por parte de todos os países participantes da CIB (visto que Noruega, Japão e Islândia voltaram a caçar por fazerem objeções às definições da CIB).
Mas esta possibilidade foi imediatamente rejeitada por muitos outros grupos ambientalistas, incluindo o Whale and Dolphin Conservation Society (WDCS) e o International Fund for Animal Welfare, que afirmaram que não estavam dispostos a aceitar qualquer tipo de retorno da caça comercial.
"Seria um erro fundamental aceitar que essas três nações continuem a ignorar a moratória", disse Nikki Entrup da WDCS. "Que tipo de menssagem isso pode gerar para países que costumavam caçar baleias, como a Coréia? ", perguntou-se Entrup.
O Greenpeace, na ocasião, esclareceu sua posição. "O problema é que essa caça acontece fora do alcance da CIB. A única maneira de fazer com que a moratória funcione de fato é trabalhar para trazer a caça comercial para dentro do alcance da CIB e então forçar o banimento", conclui Sarah North, diretora de campanha do Grupo.
A caça mata aproximadamente 2 mil baleias por ano, incluindo espécies à beira da extinção. Desde que a moratória foi introduzida, há 25 anos, aproximadamente 33 mil baleias foram mortas, de acordo com o Animal Welfare Institute, em Washington.
Mas há o temor de que, se não for feito um acordo em Agadir, a CIB pode entrar em colapso. O encontro, que começou nesta segunda, termina na sexta, dia 25.06.
Celebridades
Nas últimas semanas, várias celebridades manifestaram suas opiniões acerca da caça de baleias. O ex-beattle Paul McCartney foi um deles. Em sua declaração, McCartney afirma: "chegou o momento de acabarmos com o abate cruel das baleias, deixando essas maravilhosas criaturas em paz. Em pleno século XXI, como ainda podemos conceber a matança de baleias – ou de qualquer animal – de forma tão bárbara? Os governos devem agir com responsabilidade e proteger esses belos seres." Paul McCartney conclui que "a melhor forma de nos relacionarmos com as baleias é por meio da observação desses animais e não através da caça".