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Empresariado deve pressionar por caminhos sustentáveis na infraestrutura

Mensagem foi destacada por participantes do evento Humanidade 2012, parte da programação paralela à Rio+20.

Por Júlia Dias Carneiro
Atualização:

Uma discussão sobre infraestrutura e sustentabilidade na Rio+20 se transformou em uma sessão de cobranças para que o setor empresarial tenha papel ativo em influenciar esse processo. Em resposta, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) assumiu um compromisso com o Greenpeace pela discussão de estratégias conjuntas neste sentido. À indústria não basta construir a infraestrutura, mas também pressionar para que ela seja sustentável, buscando influenciar tanto a demanda como as políticas públicas. Esta foi a mensagem destacada por participantes de um debate neste sábado no evento Humanidade 2012, no Forte de Copacabana, como parte da programação paralela à Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, que acontece até o próximo dia 22 no Rio. Ana Toni, presidente do Conselho Internacional do Greenpeace, começou a discussão ao argumentar que hoje cabe também às empresas refletir sobre o legado que podem deixar. Elas devem fazer pressão para que seus produtos tenham destino sustentável. "Acho que vocês (empresários) têm escolhas que muitos de nós consumidores não temos. Vocês podem se tornar os maiores fornecedores de aço para carros ou deixar o legado de ser os maiores fornecedores de aço para o transporte público. É uma escolha que pode ser feita. É sobre esse legado que queremos conversar", disse. A provocação ecoou no painel, que reunia ambientalistas, representantes do setor industrial e pesquisadores. Marilene Ramos, presidente do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea), falou sobre a pressão que crises econômicas exercem sobre o poder público e criticou a frequência com que se recorre à produção de automóveis para aquecer a economia. "Sempre que a crise baixa, a primeira coisa que se faz é incentivar a produção de automóveis, em cidades que estão entupidas de carros, com engarrafamentos monumentais onde perdemos duas a três horas por dia, com poluição e emissão de carbono." "Em um momento em que estamos falando de sustentabilidade e de Rio+20, não há nada mais contraditório que isso", apontou. Influência no consumo O vice-presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, presente no debate, aceitou o desafio. Ele convidou a representante do Greenpeace a iniciar conversas para chegar a uma proposta concreta de como o setor produtivo poderia influenciar a demanda, em vez de apenas atendê-la. "É uma proposta para que a gente discuta de forma conjunta temas importantes para fazer com que a iniciativa privada, através da Fiesp, possa priorizar interesses do Greenpeace e vice-versa", afirmou Steinbruch, ao lado do presidente da federação, Paulo Skaf. Em seguida, ele ouviu de Ana Toni as primeiras áreas por onde a ONG gostaria de iniciar as conversas e contar com adesão do setor empresarial: nas campanhas pelo desmatamento zero, pelo uso de energias limpas e pela proteção aos oceanos. A ideia de que empresas devem se unir para influenciar padrões de consumo ou políticas públicas foi defendida também por Caio Koch-Weser, vice-presidente do Deutsche Bank. "Não podemos contar com um quadro global. A ONU é muito decepcionante nos progressos que têm feito. Estamos vendo isso aqui novamente nas negociações. Eles focam crescentemente em questões de legitimidade, que são importantes, mas não resolvem as coisas." Como alternativa, Koch-Weser defendeu o investimento em dois sistemas diferentes. De um lado, alianças entre países com posicionamentos semelhantes deveriam ditar o ritmo e assumir liderança diante da "falta de liderança" da ONU frente à comunidade global. De outro, o setor empresarial também deveria buscar maior protagonismo, formando coalizões de empresas afins que tomem a frente investindo em tecnologias e projetos inovadores. "É uma inversão da dinâmica. Elas podem apresentar suas propostas aos políticos para cobrar que sejam viabilizados, mas sem esperar por projeto político." Koch-Weser defendeu ainda a maior participação do capital privado e de investimentos de bancos nacionais e de desenvolvimento para alavancar o crescimento verde. Segundo o vice-presidente do Deutsche Bank, um programa para tal será lançado neste domingo na reunião dos B20, a cúpula de negócios realizada pelas 20 maiores entidades empresariais do mundo em paralelo ao encontro do G20, que acontece no México na próxima semana. Será batizado de "Green Growth Action Alliance" (Aliança de Ação para o Crescimento Verde). "Instituições internacionais, bancos nacionais e regionais e investidores privados vão trabalhar com governos para alavancar investimentos no crescimento verde no mundo todo", explicou. "Vamos fazer alianças, não vamos esperar a ONU." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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