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Emergentes saem mais fortalecidos de Poznan

Países como Brasil, China e Índia assumem novo protagonismo

Por Andrei Neto
Atualização:

As negociações da maratona ambiental de 15 dias que resultaram no relatório final da 14ª Conferência do Clima das Nações Unidas, fechado na madrugada de sábado na Polônia, demonstraram a vitória de um grupo de países. Enaltecidos por personalidades da comunidade ambientalista e reconhecidos pelas maiores ONGs do mundo, emergentes como Brasil, China, Índia, México e África do Sul foram alçados ao protagonismo do futuro acordo do clima, em Copenhague, em 2009. Veja também:  ONU deve convocar cúpula do clima para setembro em NY Brasil é exemplo de economia verde, diz Ban Ki-moon Minc anuncia ação para fomentar tecnologia verde Andrei Netto faz um balanço da reunião do clima de Poznan  Andrei Netto fala sobre a reunião de Poznan  Andrei Netto fala sobre a reunião de Poznan (2)  Andrei Netto fala sobre a reunião de Poznan (3)  Andrei Netto fala sobre a reunião de Poznan (4)  Brasil fica em 8º lugar em índice de mudança climática Entenda a reunião sobre clima da ONU na Polônia Quiz: você tem uma vida sustentável?  Evolução das emissões de carbono    Acompanhe a reunião de Poznan  Página oficial da conferência    A nova configuração de forças nasceu da conjunção de três fatores na Polônia. Um deles foi a transição de poder nos Estados Unidos, que reduziu à discrição total a delegação americana enviada por George W. Bush. O outro foi o impasse na União Européia, cujos líderes se dividiam em torno da aprovação ou não de suas metas – o Pacote Energia-Clima. O último deles foi o abandono, por parte dos emergentes, do discurso da "responsabilidade histórica". Esse argumento atribuía ao processo de industrialização dos países desenvolvidos, a partir do século 18, a responsabilidade pelo aquecimento global, e desobrigava os mais pobres de também empreenderem ações fortes de mitigação. Essa postura permitiu que países como o Brasil assumissem, ao longo do último ano, uma ação mais proativa no cenário internacional, desarmando o argumento dos EUA, que condicionava suas atitudes à fixação de metas por emergentes. A nova conduta foi marcada por projetos como o Plano Nacional de Mudanças Climáticas. Com ele, Brasília se comprometeu, pela primeira vez, com metas de redução de emissões de CO2. Embora criticado por ONGs internamente, o plano – cujo objetivo é reduzir em 73% o desmatamento até 2017 – fez sucesso nos corredores de Poznan. QUERIDINHOS Ao longo da segunda semana da COP 14, as palavras de apreço aos emergentes se multiplicaram. Yvo de Boer, secretário-executivo do Painel do Clima da Organização das Nações (ONU), martelou todos os dias que esses países haviam assumido suas responsabilidades. A cobrança, argumentava, recairia sobre as nações mais ricas. Uma lista de prêmios Nobel – como o coordenador do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Rajendra Pachauri, e o economista Wangari Maathai – também enalteceram os novos protagonistas. Richard Worthington, um dos líderes do Greenpeace, reconheceu o novo cenário: "Países em desenvolvimento como o Brasil, que criou o Fundo da Amazônia e já tem US$ 1 bilhão para enfrentar o desmatamento, o México, a África do Sul, a China dão sinais. Mas não vemos avanços dos países ricos." "Estou particularmente orgulhosa do papel dos países em desenvolvimento nessa conferência", reiterou Tasneen Essop, membro da WWF África do Sul. MÍDIA Leandro Waldvogel, diplomata do Itamaraty envolvido nas negociações, relativizou a aclamação internacional do Brasil e dos emergentes. "As pessoas se deram conta do peso político que o país já tinha nas negociações. Somos, com certeza, um dos cinco maiores players das rodadas do clima das Nações Unidas", afirma, fazendo uma concessão: "Talvez com o plano de mudanças climáticas tenhamos sido mais midiáticos." Quarto maior emissor do mundo, o Brasil, como os demais emergentes, será cobrado pelas metas de preservação que assumiu – e corre risco de desmoralização caso não as cumpra. Além disso, nadará em águas mais turvas em Copenhague, entre 30 de novembro e 11 de dezembro de 2009. Lá, as negociações com nações ricas serão duras, e a pressão, imensa. "O embrião do acordo final está desenhado", disse, confiante, Luiz Alberto Figueiredo, chefe da delegação brasileira em Poznan.

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