Em meio a entraves e protestos, presidente da COP-15 renuncia

Connie Hedegaard vinha sendo acusada de privilegiar países ricos em negociações; polícia prende mais ativistas

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Por Eric Brücher Camara
Atualização:

A presidente da conferência das Nações Unidas para mudanças climáticas (COP-15) em Copenhague, Connie Hedegaard, renunciou ao cargo nesta quarta-feira, 16.

 

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Hedegaard, que vinha sendo acusada por representantes de países em desenvolvimento de querer beneficiar os países ricos nas negociações, será substituída pelo primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen. As razões da renúncia ainda não estão claras. Hedegaard disse que seria mais apropriado que a conferência fosse presidida pelo primeiro-ministro tendo em vista a presença de tantos chefes de Estado nos estágios decisivos do evento, marcado para terminar na sexta-feira. As negociações continuam marcadas por divisões e os protestos nas ruas de Copenhague parecem ter ganhado força nessa reta final da COP-15. Ministros e representantes de 192 países tentam superar obstáculos que - em alguns casos - vêm travando as negociações há dois anos. Manifestantes protestam contra o pouco progresso nas negociações por um acordo. Pouco após o início de uma passeata, na manhã desta quarta-feira, a polícia disse ter prendido cerca de cem pessoas, após supostas ameaças de ativistas de que o grupo furaria um bloqueio policial. No centro de convenções, as discussões parecem estar irremediavelmente paradas em questões como metas para países desenvolvidos e, principalmente, financiamento para redução de emissões de gases do efeito estufa em longo prazo.

Ema entrevista ao jornal britânico Financial Times publicada nesta quarta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, afirma até que os países em desenvolvimento deveriam deixar este objetivo de lado para obter um acordo. Na abertura da fase atual das negociações, entre ministros, Ban Ki-Moon pediu claramente que os líderes fechassem um acordo. "A hora é de fazer concessões", disse o sul-coreano. Líderes a portas fechadas Líderes de quase 120 países chegaram nesta quarta-feira a Copenhague, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participa de encontros fechados. Cerca de 35 mil pessoas se credenciaram para a reunião climática, mas a sede do encontro, o Bella Center, tem capacidade para apenas 15 mil. Diante das pressões, o número foi elevado para 18 mil. Mesmo assim, após enfrentar filas de até seis horas, milhares de pessoas que vieram à cidade para participar da conferência ficaram do lado de fora, a uma temperatura de 0ºC. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, também já está na cidade e afirmou estar esperançoso sobre um acordo, apesar do atual impasse. "Há uma boa vontade para se chegar a um acordo", disse Brown, admitindo que essa é provavelmente a negociação mais difícil que já houve. No entanto, as delegações não conseguiram sequer fechar um acordo preliminar para ser discutido pelos ministros. Isso significa que a presidente da conferência, Connie Hedegaard, teve que elaborar um documento, baseado nas propostas já discutidas. A partir deste documento base, os ministros poderão começar a tentar superar os principais obstáculos: Metas de redução para países desenvolvidos. Até o momento, não existe consenso sobre um número ou mesmo em que forma essas metas seriam apresentadas - como extensão do Protocolo de Kyoto para os seus signatários (países ricos com exceção dos Estados Unidos) ou em um novo tratado incluindo os americanos. Financiamento. A proposta mais próxima de ser aceita é de um fundo de US$ 10 bilhões por ano, para os próximos três anos. Mas não está claro de onde sairiam estes recursos e quem faria as contribuições. Redd (mecanismo que incentiva Redução de Emissões geradas por Desmatamento e Degradação Florestas em Países em Desenvolvimento). Como mencionado acima, faltam pontos fundamentais. Suspensão temporária Na segunda-feira, as negociações foram temporariamente suspensas depois que representantes de países africanos se retiraram em protesto contra o que chamaram de "abandono das metas firmadas no acordo de Kyoto". Esses países criticaram a organização da conferência por, supostamente, se concentrar apenas nas negociações para um novo acordo climático, em vez de trabalhar paralelamente em uma extensão do Protocolo de Kyoto. Países emergentes insistem que países desenvolvidos que ratificaram o protocolo devem se comprometer com maiores cortes de emissões dos gases que causam o efeito estufa. A conferência das Nações Unidas sobre o clima vai até sexta-feira na capital da Dinamarca.

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