Economia diz ser favorável a trocar meta sobre desmatamento até 2023

Pasta não explica no comunicado se aceitará a proposta de conservação de 390 mil hectares na Amazônia, rejeitada em discussões internas, ou se ainda aguarda uma alternativa mais ampla

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Por Mateus Vargas
Atualização:

BRASÍLIA - O Ministério da Economia afirmou nesta terça-feira, 4, ser favorável à mudança de meta sobre prevenção e controle de desmatamento de incêndios em todos os biomas no País, prevista no Plano Plurianual (PPA) do governo de 2020 a 2023.

"O Ministério da Economia concorda com o pleito apresentado pelo Ministério do Meio Ambiente, de tornar a meta do Programa de Prevenção e Controle do Desmatamento e do Incêndio dos Biomas do PPA compatível com as metas definidas no Acordo de Paris", afirma nota divulgada à imprensa. Pelo acordo citado, o Brasil se compromete a zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030.

Economia diz ser favorável a trocar meta sobre desmatamento até 2023 Foto: Gabriela Biló/Estadão

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A manifestação da Economia foi divulgada após o Estadão revelar que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pede para ser desconsiderado o objetivo de reduzir desmatamentos e queimadas ilegais em 90% no País. Em troca, deseja comprometer-se a conservar 390 mil hectares de floresta nativa na Amazônia, área menor do que 0,1% da Amazônia Legal.

Como mostrou a reportagem, a área técnica do Ministério da Economia afirmou que os parâmetros de preservação até podem ser alterados, mas apontou insuficiência na alternativa apresentada. "Tem-se que a meta proposta para o combate ao desmatamento e incêndio florestal no País objetiva proteger 0,07% da cobertura florestal amazônica com um projeto piloto de pagamento de serviços ambientais da floresta. Dessa maneira, acreditamos que o Programa Floresta+ é relevante, porém insuficiente", afirma o documento revelado pela reportagem. O programa citado foi lançado recentemente e ainda está em fase embrionária.

O PPA foi aprovado em dezembro passado pelo Congresso e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, que não vetou a meta questionada pelo Meio Ambiente. O plano serve para balizar a elaboração do Orçamento da União.

Análise feita pela equipe técnica da pasta comandada por Paulo Guedes afirma que programa Floresta+, proposto por Salles como alternativa à meta inicial do PPA, é "relevante", porém "insuficiente" Foto: Reprodução/Documento

A meta de quatro anos proposta por Ricardo Salles, e rejeitada em documentos internos da Economia, corresponde a aproximadamente um terço do que foi desmatado no bioma amazônico no período de julho de 2018 a agosto de 2019. Neste intervalo, a destruição total da floresta chegou a 1 milhão de hectares, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A nova proposta ainda acaba com metas para os demais biomas brasileiros.

Na nota divulgada nesta terça-feira, a Economia afirma concordar que outros ministérios se envolvam no trabalho necessário para objetivos metas do PPA. "Desse modo, as metas intermediárias devem indicar os programas que serão utilizados nos próximo 4 anos para contribuir para zerar o desmatamento ilegal em 10 anos, e é isso que está sendo ajustado no PPA", afirma a Economia.

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A Economia não explica no comunicado se aceitará a proposta de conservação de 390 mil hectares na Amazônia, rejeitada em discussões internas, ou se ainda aguarda uma alternativa mais ampla. Procurado na última sexta-feira, segunda-feira e nesta terça-feira, o Meio Ambiente afirmou que “acordou com a Economia apenas o detalhamento e a transversalidade da meta”. A pasta não explicou a razão da alteração e se há risco de o objetivo tornar-se muito limitado.

Nota técnica do Ministério da Economia em resposta ao pedido do Salles conclui que proposta apresentada pelo Meio Ambiente de mudar meta de preservação até 2023 não é "adequada" Foto: Reprodução/Documento

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