Documentarista de "Crude" é obrigado a entregar copiões de filme à Chevron

Decisão da corte de Manhattan revolta diretor, que diz que vai entrar com apelação

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Por Redação
Atualização:

Uma decisão da corte americana ordenou que um documentarista entregasse os copiões de um filme sobre poluição na Amazônia para a gigante do petróleo Chevron. Esta foi a última cartada de um processo multibilionário, informa matéria do jornal britânico The Guardian.

 

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Judge Lewis Kaplan, juiz da corte do distrito de Manhattan, decidiu ontem a favor da requisição da Chevron de assistir 600 horas de filmagens de Crude: The Real Price of Oil – indicado a vários prêmios e vencedor do Festival de Cinema Ambiental de Yale e do Festival de Cinema Independente de Boston no ano passado.

 

O filme de 105 minutos é simpático às vítimas de uma catástrofe ambiental que ocorreu no Equador por conta da produção de petróleo, em pleno coração da Amazônia, mas a Chevron espera que trechos não utilizados na montagem final ajudem a amenizar danos potencias da ordem de $ 27,3 bilhões.

 

Joseph Berlinger, diretor do documentário, disse que entregar o material bruto seria uma violação do sigilo jornalístico e contribuiria para minar o processo que foi aberto pelo Equador contra a empresa, um dos maiores da história. Os ambientalistas temem que a Chevron consiga munição para se livrar do processo e os produtores do filme temem que a integridade das fontes seja comprometida.

 

Mas o juiz sublinhou que a permitir à empresa o acesso às imagens brutas feitas no Equador e nos EUA durante três anos é uma atitude a serviço da transparência e da justiça. O material inclui entrevistas com ativistas como Sting e sua mulher, Trudie Styler.

 

“Rever as cenas brutas irá contribuir para que vejamos não somente que a justiça vem sendo feita, mas que ela está sendo feita de forma aparente”, diz a decisão judicial. “O tribunal não manifesta nenhuma posição em relação à possibilidade de as preocupações de ambos os lados serem sustentadas por provas de influência política imprópria, corrupção ou outra forma de conduta inadequada afetando os processos no Equador”.

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Crude, lançado ano passado, é focado na batalha legal de 17 anos entre a Chevorn e 30 mil equatorianos que alegam que suas terras, rios, bens, animais e seus próprios corpos foram envenenados durante décadas de imprudência na perfuração de poços de petróleo na floresta tropical.

 

Os reclamantes dizem que a Texaco – que foi comprada pela Chevron em 2001 – descarregou nos rios da região 68 bilhões de litros de águas residuais entre 1972 e 1990, causando uma epidemia de doenças, como leucemia, por exemplo. Alguns chamam o incidente de Chernobyl Amazônico.

 

A Chevron dia que testes científicos mostram que a água é segura, que as doenças têm outras causas, que a Texaco limpou o local e a poluição e que a culpa pelo problema foi da companhia estatal, a Petroequador.

 

Berlinger disse que recebeu apoio de centenas de outros documentaristas que temem um impacto na produção de documentários se a proteção das fontes não for garantida. O diretor disse que iria apelar contra a decisão judicial.

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