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Dieta vegana evitaria conversão de florestas em lavouras, diz estudo

Cientistas mostraram impactos do tipo de alimentação no meio ambiente; dietas ricas em carne favorecem desmatamento

Por Fabio de Castro
Atualização:
Preservação das florestas se torna mais difícil à medida que produtos animais são mais consumidos Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

SÃO PAULO - Quanto mais as dietas ricas em carne ganharem espaço no mundo, mais difícil será alimentar toda a humanidade sem transformar florestas em plantações, segundo um novo estudo publicado na revista científica Nature Communications.

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De acordo com os autores do estudo, do Instituto de Ecologia Social de Viena (Áustria), é possível produzir alimentos suficientes para a crescente população mundial sem a necessidade de desmatar. No entanto, as chances de conseguir esse feito variam de acordo com a dieta predominante da população.

A equipe de cientistas, liderada por Karlheinz Erb, traçou 500 cenários diferentes nos quais uma produção sustentável de alimentos seria possível até 2050, sem converter florestas em plantações. Para que 100% dos cenários fossem viáveis, seria preciso que todos os habitantes do mundo adotassem uma dieta vegana - aquela que exclui todos os produtos de origem animal.

Caso a população do planeta se tornasse totalmente vegetariana, 94% dos cenários de produção sustentável seriam possíveis. Caso a combinação de dietas predominantes atualmente seja mantida, cerca de 60% dos cenários seriam viáveis. Caso a atual dieta ocidental - com altos níveis de consumo de carne - passe a predominar em todo o planeta, só 15% dos cenários seriam factíveis.

Segundo Erb, para traçar os cenários em que seria possível preservar as florestas e alimentar uma população em expansão, diversos fatores foram considerados, incluindo tecnologias agrícolas, sistemas pecuários, extensões de plantações e a variedade de dietas humanas.

"De acordo com nossa análise, o comportamento nutricional humano é o componente mais importante. Se a população mundial tivesse uma dieta vegana, todas as combinações de parâmetros seriam factíveis, mesmo aquelas com os níveis mais baixo de rendimento e de expansão das plantações", afirmou Erb.

Segundo ele, embora uma mudança completa da dieta de toda a população mundial seja obviamente pouco realista, a análise ilustra o imenso impacto das dietas nas futuras opções de desenvolvimento.

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Os resultados, de acordo com Erb, mostram claramente que a preservação das florestas se torna mais difícil à medida que produtos animais são mais consumidos. Com uma dieta que envolve um alto consumo de carne, apenas 15% dos cenários analisados permitiriam a preservação de áreas florestais.

De acordo com Erb, todos os cenários se baseiam em níveis intensivos de gestão agrícola e com a expansão maciça das plantações para áreas hoje utilizadas como pastos. No entanto, a pecuária e o uso dos pastos podem também produzir efeitos benéficos. A criação de gado, segundo Erb, permite o uso de área que não pode ser empregadas na agricultura e, assim, contribui para a disponibilidade de alimentos. O efeito benéfico se perde, por outro lado, caso os animais sejam predominantemente alimentados com produtos agrícolas.

"O objetivo de fornecer comida suficiente para toda a população global - algo que ainda não foi atingido - significa que o uso da terra terá que ser expandido para áreas como pastagens naturais - que atualmente são usadas para agricultura de subsistência e que abrigam uma considerável fração da biodiversidade global. Por outro lado, também significa um imenso aumento dos fluxos globais de comércio de comida, já que muitas regiões não são capazes de alimentar sua população domesticamente, mesmo em um mundo no qual a produção média seja suficiente", afirmou Erb.

Segundo Erb, os resultados da pesquisa são especialmente importantes no contexto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). "Os resultados ilustram que os objetivos desenvolvidos para proteger as florestas, centrais para a proteção do clima e para a conservação da biodiversidade, não entram necessariamente em conflito com a segurança alimentar da população mundial", declarou.

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