Dez dias na Amazônia: retratos de uma floresta em chamas

Equipe do 'Estado' viveu a realidade do fogo na mata e entrevistou madeireiros, brigadistas e moradores

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Por André Borges e Gabriela Biló
2 min de leitura
Brasil fecha o mês de junho com o maior número de focos de queimadas na Amazônia dos últimos 13 anos, de acordo com Inpe. Foto: Gabriela Biló/Estadao

AMAZONAS - No meio da floresta amazônica, muito longe das nuvens de fumaça das queimadas que cobriram a região Sudeste do País, o pequeno Mauro Neto, de oito anos, entra às pressas em casa, corre até o quarto, pega um cartaz e volta para a varanda, onde a reportagem conversava com seus pais.

O menino, que vive em Realidade, uma vila de madeireiros de 3 mil habitantes erguida nos arredores de Humaitá (AM), na BR-319, abre orgulhoso o cartaz que ganhou na escola. No papel, a marca de uma mão e uma de um animal, com a frase: “Um por todos e todos contra as queimadas”.

A lição que o pequeno Mauro já aprendeu na escola ainda se propaga de forma lenta pela Amazônia. São poucos, como o menino de Realidade, que conseguem enxergar os prejuízos da derrubada da floresta.

Durante dez dias, o Estado viajou pela região sul do Amazonas, a partir da Transamazônica e da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus. No rastro das queimadas, foram muitos os relatos de ribeirinhos, comerciantes, pequenos produtores, indígenas, madeireiros, fazendeiros e brigadistas, de que o fogo faz parte da rotina da floresta no período das secas. A diferença, desta vez, é o volume dos incêndios.

No rosto do povo da Amazônia, foi possível observar a apreensão daqueles que foram avisados, às pressas, de que deveriam retirar logo os animais de seus sítios, porque outro proprietário iria colocar fogo no mato. Fogo este que avança por unidades de conservação, apesar do trabalho de brigadistas para tentar aplacar os incêndios.

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As lições dadas ao pequeno Mauro Neto, ainda que lentamente, se propagam. Se por um lado madeireiros relatam as dificuldades de operar regularmente por causa da corrupção no setor, por outro há quem tente, com pequenas iniciativas, alterar a lógica do desmatamento. É o caso de Gilson Caetano, um professor de Santo Antônio do Matupi, que mantém uma horta na escola pública, para ensinar alunos a plantarem e a cuidarem da floresta desde cedo. Essa mesma lição é ensinada na terra indígena Tenharin, onde são cultivadas mudas de mogno, jatobá e ipê, o “ouro da floresta”. Motivados pela mesma empolgação do menino Mauro Neto, os projetos têm como objetivo espalhar a ideia de que é possível eliminar as fumaças de queimadas que assombraram o País.