Desmatamento em unidades de conservação aumenta 312% em maio

Na semana passada, o governo autorizou uma nova operação militar na Amazônia liderada pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão

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Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - O índice de desmatamento verificado em unidades de conservação federal registrou um aumento de 312% em maio deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. As florestas protegidas, que são fiscalizadas pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), registraram 11.296 hectares de desmatamento, número bem superior ao registrado em maio de 2020, quando 2.741 hectares de florestas foram perdidos.

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O Estadão teve acesso a informações atualizadas do Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), ferramenta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que fiscaliza ações de desmatamento. Os números se referem à devastação registrada especificamente em unidades de conservação.

O desmatamento acumulado também aponta que o País caminha para um novo recorde. As medições oficiais são feitas de agosto de um ano até julho do ano seguinte. Entre agosto de 2020 e maio de 2021, as unidades de conservação somam 33.820 hectares de mata devastada. Esse volume é 40% superior ao verificado entre agosto de 2019 e maio de 2020, intervalo que registrou 24.165 hectares de florestas perdidas.

Queimada em Santo Antônio do Matupi, no sul do Amazonas Foto: Gabriela Biló/Estadão

Os números revelam o avanço dos crimes sobre as unidades de conservação, que são as áreas da floresta que ainda abrigam a maior parte das madeiras nobres. A mesma situação ocorre dentro de terras indígenas.

Na semana passada, o governo autorizou uma nova operação militar na Amazônia liderada pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão. As ações vão se concentrar em locais onde, historicamente, ocorrem os mais altos índices de queimadas e desmatamento. Nesta relação estão 11 municípios prioritários. No Estado do Pará, serão priorizados São Félix do Xingu, Altamira, Novo Progresso, Pacajá, Portel, Itaituba e Rurópolis. No Amazonas as ações se concentrarão na região de Apuí e Lábrea. No Estado do Mato Grosso, a região de Colniza deve receber reforço, assim como Porto Velho, em Rondônia.

As unidades de conservação correspondem a cerca de 18% da área continental e mais de 26% da zona costeira e marinha. No Brasil, existem 334 unidades de conservação federais. O ICMBio, que teve seu orçamento reduzido significativamente pelo governo Jair Bolsonaro nos últimos três anos, conta hoje com mais de mil servidores lotados nessas unidades, que ocupam uma área superior a 171 milhões de hectares.

Isso quer dizer que, na média, cada servidor seria responsável por uma áreaequivalente a dos municípios de São Paulo (1.521,11 km²) e do Rio de Janeiro (1.200,25 km²) juntos.

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Em 2014, o ICMBio contava com 1.851 servidores efetivos. Em 2019, eram 1.589. No mesmo período, o número de prestadores de serviços, terceirizados, também caiu: de 2.332 para 1.659. Atualmente, há mais de 1.300 cargos vagos. A tendência é de piora, por causa de aposentadorias previstas e não autorização de concursos públicos.

Há limitações, ainda, quanto à disponibilidade de agentes em cada região do País. As unidades federais localizadas no Rio de Janeiro, São Pauloe Minas Gerais, que somam 3,4% do território protegido, concentram 27% do quadro de servidores do ICMBio, enquanto Amazonas e Pará, que detêm 55% da área federal protegida contam com tão somente 14,6% dos servidores.

Procurados, o Ministério do Meio Ambiente e o ICMBio não se manifestaram sobre os números até a publicação da notícia.

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