Em entrevista concedida ao Estado por telefone, a prefeita diz que as mudanças climáticas estão ocorrendo de forma muito mais rápida do que as pessoas imaginam. “É só fazer uma visita a Iqaluit e vocês constatarão isso. Nos últimos anos vimos que o degelo era real, por causa do aumento da área de terra”, conta Elisapee, que pertence à etnia inuíte, integrantes da nação esquimó que vivem no Ártico canadense e na Groenlândia. “Primeiro, todos comemoraram. Afinal, isso significava que o clima estava mais agradável e podíamos viver sem ter de lutar tanto contra o gelo e a neve. O fluxo de turistas aumentou bastante, já que o acesso à cidade ficou mais fácil.”
Na verdade, Iqaluit teve outros ganhos com o aumento da temperatura. A cidade, de apenas 7 mil moradores, virou foco de interesse de cientistas de todo mundo. A ponto de a prefeita ter descoberto uma forma de melhorar a renda da população: cada habitante pode receber US$ 700 por ano coletando dados sobre o impacto do aquecimento na região, fornecidos a pesquisadores de vários países.
Mas tanto Elisapee como o resto da população logo se deram conta de que a mudança no clima não era apenas positiva. A primeira consequência negativa foi a subida das águas, com inundações que destruíram a única ponte de Iqaluit. Casas próximas de rios e lagos foram atingidas. Caçadores foram surpreendidos pelo derretimento acelerado do gelo.
“Muitos de nossos costumes terão de ser revistos”, diz a prefeita. “Nós sabíamos que, numa determinada época do ano, podíamos andar sobre o lago. Hoje não sabemos mais.”