Degelo gera lucros e apreensão em vila do Ártico

Ela dá uma sonora gargalhada ao ouvir que as mudanças climáticas são um problema para o “futuro da humanidade”. “Como é que ainda podem dizer algo assim? Todos os dias tenho de me adaptar a essa mudança”, diz Elisapee Sheutiapik, prefeita de Iqaluit, cidade canadense mais próxima do Ártico. “No verão de 2008 nossos termômetros bateram todos os recordes. Tivemos temperaturas de 26 graus, algo que nunca tínhamos visto na vida. Consultei o sistema meteorológico do Canadá, que confirmou: foi a temperatura mais alta já registrada perto do Ártico.”

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Por Jamil Chade
Atualização:

 

Em entrevista concedida ao Estado por telefone, a prefeita diz que as mudanças climáticas estão ocorrendo de forma muito mais rápida do que as pessoas imaginam. “É só fazer uma visita a Iqaluit e vocês constatarão isso. Nos últimos anos vimos que o degelo era real, por causa do aumento da área de terra”, conta Elisapee, que pertence à etnia inuíte, integrantes da nação esquimó que vivem no Ártico canadense e na Groenlândia. “Primeiro, todos comemoraram. Afinal, isso significava que o clima estava mais agradável e podíamos viver sem ter de lutar tanto contra o gelo e a neve. O fluxo de turistas aumentou bastante, já que o acesso à cidade ficou mais fácil.”

 

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Na verdade, Iqaluit teve outros ganhos com o aumento da temperatura. A cidade, de apenas 7 mil moradores, virou foco de interesse de cientistas de todo mundo. A ponto de a prefeita ter descoberto uma forma de melhorar a renda da população: cada habitante pode receber US$ 700 por ano coletando dados sobre o impacto do aquecimento na região, fornecidos a pesquisadores de vários países.

 

Mas tanto Elisapee como o resto da população logo se deram conta de que a mudança no clima não era apenas positiva. A primeira consequência negativa foi a subida das águas, com inundações que destruíram a única ponte de Iqaluit. Casas próximas de rios e lagos foram atingidas. Caçadores foram surpreendidos pelo derretimento acelerado do gelo.

 

“Muitos de nossos costumes terão de ser revistos”, diz a prefeita. “Nós sabíamos que, numa determinada época do ano, podíamos andar sobre o lago. Hoje não sabemos mais.”

 

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