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De um pé de acerola a um programa ousado de impacto socioambiental

Jovem empreendedor do interior de Pernambuco sonha em diminuir a fome e ajudar o meio ambiente estimulando o plantio de árvores frutíferas

Por Eduardo Geraque
Atualização:

A epifania veio em 2018 no trajeto em que o então estudante do Ensino Médio Luan Torres fazia entre sua casa e a Escola Técnica Estadual Governador Eduardo Campos na cidade de São Bento do Una, no interior de Pernambuco. Ele adorava as aulas de filosofia porque as ensinavam a pensar de forma crítica. “Sempre que eu passava por um pé de acerola eu parava para pegar algumas frutas. Um dia, pensei. Muitos dos meus amigos sentem fome, não têm sempre acesso a todas as refeições. E, mesmo assim, existem muitas árvores frutíferas que poderiam oferecer alguma fonte de alimento de forma simples e barata”, explica o agora estudante de arquitetura da Universidade Federal Rural do Semiárido, no Rio Grande do Norte.

A questão social também se aliou à preocupação ambiental que Luan, hoje com 21 anos, sempre teve. O plantio de árvores frutíferas, na visão do universitário, ajudaria a resolver o problema ambiental que muitas cidades da região têm por causa do desmatamento. “As árvores, além de toda a sua importância ambiental, ajudam no conforto térmico”, explica o jovem empreendedor que, imediatamente, começou a pensar em uma forma de estruturar os seus ideais. Hoje, além de tocar o Projeto Arbo, pensa em trabalhar com bioconstrução, quando se formar, para ajudar as cidades a serem mais sustentáveis.

Luan Torres participa de reunião do Projeto Arbo, cujo objetivo é "espalhar árvores frutíferas por todas as regiões do Brasil por meio de embaixadores que se interessem em multiplicar a ideia”. Foto: Projeto Arbo/Divulgação

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“A ideia do Arbo é espalhar árvores frutíferas por todas as regiões do Brasil por meio de embaixadores que se interessem em multiplicar a ideia”, explica Luan. Segundo ele, desde 2018, quando o plano começou a sair do papel, mais de 250 embaixadores já foram formados e mais de 3 mil pessoas, direta ou indiretamente, foram impactadas pelo projeto.

“Chegamos em 13 Estados do Brasil e plantamos algumas centenas de árvores”, diz o futuro arquiteto. “Todos os embaixadores, além dos biólogos e gestores ambientais que participam com a gente são voluntários. Trabalhamos por meio de doações e algumas parcerias. Agora, queremos estar nas cinco regiões brasileiras”, afirma Luan. Apesar de a maioria das pessoas que recebem as informações sobre as árvores frutíferas e técnicas de plantio em geral ser de jovens, não existe nenhum limite de idade para participar. “Trabalhamos quase que totalmente com espécies nativas e, dos nossos voluntários, por volta de 6% são de comunidades ribeirinhas e indígenas”, diz Luan.

Aplicativo de árvores

Para expandir ainda mais a sua ideia, e realmente conseguir colaborar de algum forma com a diminuição da fome no Brasil – e ele tem na cabeça todos os números de quem, hoje, está sofrendo de insegurança alimentar no País –, Luan desenvolveu um aplicativo com o mesmo nome do programa que pode ajudar as pessoas a identificarem árvores frutíferas e, dessa forma, fazer o plantio de forma mais coerente com as características da região em que vivem.

Plantação de acerola: pé da fruta inspirou o projeto do estudante Luan Torres, hoje com 21 anos. Foto: Hélvio Romero/Estadão

“Nosso próximo passo é fazer, por meio do aplicativo, com que as pessoas consigam comprar produtos produzidos por agricultores regionais que também serão mapeados por nós. Dessa forma, podemos conseguir alguma renda para também ampliar os plantios das árvores”, planeja Luan. O empreendedor espera que as pessoas usem o aplicativo tanto perto da escola, ou de suas casas, como ele fez de forma até que meio instintiva no passado.

A preocupação socioambiental do jovem do agreste de Pernambuco já o levou a vários programas de formação de novas lideranças políticas. Ele passou pelo Congresso Nacional e também foi jovem embaixador do Brasil em Washington. O estágio incluiu algumas semanas na capital americana em janeiro de 2020, antes da pandemia. Por ser ainda um dos jovens transformadores da rede Ashoka, Luan esteve na COP de Glasgow, no ano passado.

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“Foi uma experiência interessante se conectar com todas as pessoas e discussões. Algo riquíssimo mesmo”, afirma. “A política ambiental brasileira tem desestimulado os jovens a seguir em frente. Dá um certo desânimo. Tanto que ficamos quase uns cinco meses meio parados com o Arbo. Mas agora estamos com 50 embaixadores e vamos seguir em frente. Temos que continuar plantando essas sementinhas para elas frutificarem”, diz Luan, tanto no sentido figurado quanto real.

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