De office boy a marceneiro, ‘laranjas’ atuaram em transações milionárias do comércio ilegal de ouro

Investigação identifica movimentação de recursos que envolvia cooperativa de lavagem de dinheiro e aponta indícios de esquema

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Por André Borges
3 min de leitura

BRASÍLIA - Com 25 anos, Hadria Consuelo da Silva Souza tentava levar a vida com o salário de R$ 2,8 mil por mês, trabalhando numa empresa atacadista de alimentos. Para se deslocar, usava a sua Honda Biz. Na conta bancária de Hadria, porém, os negócios eram bem mais ambiciosos. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou que, em curto espaço de tempo, Hadria recebeu nada menos que R$ 12,588 milhões da cooperativa de ouro Cooperouri, em nove transações.

Investigação identifica movimentação de recursos que envolvia cooperativa de lavagem de dinheiro e aponta indícios de esquema Foto: Polícia Federal

Ao checar mais a fundo quem realmente movimentava o dinheiro, a Polícia Federal descobriu que, na realidade, os responsáveis pela conta eram Douglas Alves de Morais e Fábio Monteiro da Silva, ambos diretores da Cooperouri e reais beneficiários dos valores enviados pela cooperativa. “Trata-se de uma tentativa de ocultar o real destinatário dos recursos, demonstrando a provável lavagem de dinheiro”, afirma o relatório da PF que investigou organização criminosa envolvida na exploração irregular de ouro na terra indígena Kayapó, no sul do Pará

Hadria não estava sozinha. O marceneiro Antonio Marcos da Silva Teixeira, de Boa Vista, é dono de apenas um veículo Gol, sem mais propriedades, mas recebeu da Cooperouri, em 13 lançamentos, mais de R$12,407 milhões. Ao checar suas transações bancárias por meio de relatório do Banco Central, a PF também concluiu que os reais beneficiários e operadores da conta eram os diretores da cooperativa do Pará.

A situação se repete com o office boy Ronaldo da Silva Marinho, também de Roraima. Em apenas quatro transações com a Cooperouri, Marinho viu sua conta bancária receber mais de R$ 3,296 milhões. O inquérito, porém, não esclarece se elas foram enganadas ou faziam parte do esquea criminoso. 

O uso de laranjas também inclui garimpeiros que atuam diretamente e dão suporte à extração do minério dentro da terra indígena Kaiapó. É o caso do garimpeiro Francisco Edilson, pessoa que, segundo as investigações, atuava como laranja ou “testa de ferro” no esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens.

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O investigado, que já foi preso e condenado por roubo de uma moto, com uso de arma de fogo, está envolvido em transações financeiras que ultrapassam R$ 4,138 milhões. Neste montante estão valores usados na compra de escavadeira hidráulica, maquinários utilizados na extração de minério e compra de combustível, entre outros itens.

Edilson não tem vínculo trabalhista, tampouco é sócio de empresa, mas aparece como proprietário e operador de um avião Cessna. Além disso, tem em seu nome diversos carros de luxo, como a Dodge RAM 2500 Laramie, que custa mais de R$ 400 mil.

Negociação para a compra de ouro incluía uma série de empresas e pessoas Foto: Polícia Federal

Procurada, a Cooperativa de Garimpeiros de Ourilandia e Região (Cooperouri) não se manifestou até o fechamento deste texto. A reportagem não conseguiu contato com a empresa CHM do Brasil. A italiana Chimet SPA foi acionada, mas não se manifestou até esta publicação.

A reportagem não conseguiu contato com os investigados Francisco Edilson, Arlan Monteiro de Almeida, Hailton Monteiro de Almeida, Gustavo Machado Seixas, Sidney Soares Gomes Brito, Marcus Vinicius Alvarez Guimaraes, Patricia Ferreira Soffa, Douglas Alves de Morais, Fabio Monteiro da Silva, Giacomo Dogi, Walterly Guedes Pereira dos Santos, Vergelina Pereira dos Santos e Andre Felipe Picone Rosa. O Estadão também não conseguiu contato com Hadria Consuelo da Silva Souza, Antonio Marcos da Silva Teixeira e Ronaldo da Silva Marinho.