04 de outubro de 2016 | 13h59
O cineasta Fernando Meirelles quer fazer com que o maior número de pessoas possível entenda e se mobilize pela questão das mudanças climáticas. Depois de levar o problema para 3,5 bilhões de pessoas na abertura da Olimpíada no Rio, ele está agora desenvolvendo uma série de TV com a BBC. Por um lado, quer difundir informações sobre o tema e, por outro engajar as pessoas para que elas se mobilizem sobre isso.
Meirelles contou seus planos na manhã desta terça-feira, 4, durante o debate "Saindo do gueto ambientalista: o desafio de mobilizar as pessoas para a sustentabilidade", promovido pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), em parceria com o Estado.
Ele e mais três especialistas em comunicação discutiram como fazer com que o tema seja incorporado nas discussões do dia a dia das pessoas, das empresas e dos governos. Um dos pontos principais defendidos é que sustentabilidade deixe de ser um setor, uma área, um departamento, uma editoria e entre no coração das ações.
Meirelles, que se disse um pessimista sobre o futuro do planeta diante das ameaças das mudanças climáticas, contou que virou um leitor voraz desses assuntos, em grande parte justamente porque tem medo, e que por conta disso, viu a necessidade de ajudar na forma como essa mensagem chega à sociedade.
Para ele, parte do problema está na dificuldade dos cientistas em comunicarem seus estudos e na imprensa, que, diz ele, ainda não enxergou a importância da pauta.
“Apesar de todas as previsões (de problemas por causa do aquecimento global) estarem acontecendo mais rápido do que se imaginava, apesar de a velocidade da mudança do clima ser absurda, o radar das redações não pega mudanças que estão acontecendo em 15 anos, é tudo muito imediatista, por isso a sociedade não se mobiliza”, afirmou em sua apresentação. “E a informação da ciência é muito técnica, apoiada em gráficos. E isso é sensacional, precisa mesmo ter rigor, mas só comunica com o seu clube”, complementou.
A aposta do cineasta é falar não para a cabeça das pessoas, mas para o corpo inteiro. E para isso, diz que é preciso contar histórias.
Daí veio a ideia de criar uma série. Meirelles adiantou que está fazendo o roteiro, em um projeto com a BBC, que deve entrar em produção no ano que vem. Em dez episódios, de 50 minutos de duração, ele quer trazer uma perspectiva de futuro. Serão três núcleos: um de cientistas na Inglaterra, outro de ecoterroristas que estão a ponto de fazer uma ação desesperada para chamar atenção do mundo; e um político, sobre diplomatas durante a Conferência do Clima do Vietnã, que será realizada no final de 2017.
“Tem casal de namorados, tem ação, helicóptero, tiro e no meio disso vamos entendendo a motivação dos personagens e é isso que me interessa. Espero que depois de assistir a esses dez episódios a pessoa tenha equacionado um pouco a questão inteira do clima: o que está acontecendo, o que pode vir a acontecee, o que cada um pode fazer", detalhou.
Depois da apresentação de Meirelles, ocorreu a mesa redonda “Desafios e tendências da comunicação para a sustentabilidade”. Dela participaram, além de Meirelles, Mônica Gregori, sócia da Agência Cause, que fez o estudo “O Fluxo das Causas”, sobre desafios e oportunidades de comunicar grandes causas como cidades sustentáveis e mudanças climáticas; Ricardo Guimarães, especialista em comunicação e identidade de marca; e Tom Moore, um dos responsáveis pela articulação da campanha global de comunicação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil.
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