PUBLICIDADE

Como aproveitar frutas e legumes fora do padrão

Serviço dá destinação a produtos que seriam descartados e auxilia a reduzir o desperdício de alimentos

Por Iolanda Paz
Atualização:

Cenouras brancas, pepinos tortinhos, melancias pequenas… esses são exemplos de "imperfeitos", frutas e legumes que, embora frescos e nutritivos, não se encaixam no padrão estético do mercado e, por isso, acabam indo para o lixo. São esses produtos que compõem a cesta entregue pela Fruta Imperfeita, serviço de delivery criado por Roberto Matsuda no fim de 2015. 

PUBLICIDADE

"Não é que essas frutas e legumes estejam estragados, eles apenas têm tamanhos, cores e formatos diferentes", explica Matsuda. Na Fazenda Santa Adelaide Orgânicos, uma das fornecedoras do projeto, cerca de 15% da coleta é composta pelos "imperfeitos".

Comércio

A ideia do negócio surgiu da percepção de que pequenos produtores enfrentam dificuldades para vender esses produtos no varejo e na indústria. Na primeira situação, os supermercados convencionais não costumam aceitar porque imaginam que seus consumidores não vão querer comprá-los. 

Embora frescos e nutritivos, frutas e legumes não se encaixam no padrão estético do mercado Foto: Fabio Lucio

No segundo caso, e diferentemente dos grandes produtores, os pequenos agricultores não conseguem enviar cargas de "imperfeitos" para, por exemplo, serem transformados em sucos, geleias ou molhos, porque a logística não compensa financeiramente pela menor quantidade colhida por semana. 

Para tentar evitar o desperdício, a saída para os pequenos produtores é doar ou consumir, mas parte acaba sendo jogada fora. "O objetivo do nosso projeto é justamente ir atrás desses pequenos produtores, comprar deles os produtos que não estão sendo vendidos e revender para o consumidor final", explica Matsuda. Segundo o fundador da Fruta Imperfeita, o projeto começou como um movimento de conscientização em redes sociais e pequenos eventos para primeiramente mostrar a existência dos "imperfeitos', desconhecidos por muitas pessoas. 

Quando a empresa estava começando, havia a proposta de abrir uma loja, mas logo essa ideia foi abandonada. "Os consumidores acabariam tentando escolher os menos imperfeitos", lembra Matsuda. A solução foi trabalhar com cestas "surpresa" montadas com produtos de fornecedores locais e entregues diretamente na casa dos assinantes. 

Publicidade

Os tamanhos diferem por peso. As cestas podem ser compostas somente de frutas, ou só de legumes, ou ainda podem ser mistas. Como são produtos sazonais, os consumidores não podem escolher exatamente o que vão receber, mas têm a opção de colocar algumas restrições por gosto e preferência. 

Surpresa

"Adoro não saber o que vai vir na cesta, porque é um exercício de criatividade. Tenho que descobrir o que é, da onde vem e como prepara", diz Lais Lupinacci, assinante da Fruta Imperfeita desde 2019. "Por ser outra pessoa escolhendo, elimina o olhar viciado e vem o que é da estação do ano, com uma variedade muito maior", argumenta. 

Lais cresceu no interior de São Paulo e sempre teve contato com esse tipo de alimento, que nascia nas pequenas plantações dos quintais de seu pai. "Lembro como eu me encantava com a diversidade de vegetais quando era criança", conta. "É sobre tornar a comida lúdica de novo e sair de uma plasticidade de todos os produtos do mesmo tamanho e padronizados para uma naturalidade."

PUBLICIDADE

Assinatura

A consultora de segurança dos alimentos assina a maior cesta da Fruta Imperfeita, a de 10 quilos. Ela e o companheiro consomem todos os produtos recebidos na semana e só compram frutas e legumes no supermercado se precisarem de algo específico para determinada receita. "Poucas coisas só de complemento, mas, se eu não quiser, as frutas e os legumes já estão garantidos", diz Lais. 

Com seis anos de projeto, a Fruta Imperfeita tem cerca de 1,5 mil assinantes que recebem as cestas semanal ou quinzenalmente. Além deles, alguns consumidores fazem pedidos de maneira esporádica, totalizando uma base de mais de 2,5 mil clientes. O serviço de delivery atende também bairros das cidades de São Paulo, Guarulhos e do ABC. A consulta da disponibilidade pode ser feita pelo CEP no site da Fruta Imperfeita. 

Publicidade

Roberto Matsuda criou delivery para conectar produtores e consumidores Foto: Fabio Lucio

A chave do sucesso do projeto está em viabilizar financeira e logisticamente que os produtos "imperfeitos" cheguem à sede da empresa e sejam escoados para os consumidores finais. 

Toda semana, a equipe de Roberto Matsuda mapeia os produtos disponíveis em uma base de 40 a 50 produtores próximos de São Paulo. Os fornecedores e as variedades mudam bastante ao longo dos meses e, quando não há quantidades suficientes de "imperfeitos", Matsuda conta que também compram alguns produtos considerados perfeitos para completar as cestas dos clientes. 

Preços

Hoje, os preços dos produtos da Fruta Imperfeita não diferem tanto daqueles encontrados no varejo. No começo do projeto, chegou a existir um apelo para que essas frutas e legumes fossem vendidos mais baratos, já que até então eles estavam majoritariamente sendo descartados. Porém, com o decorrer do tempo, a visão da empresa mudou. "Tentamos pagar ao pequeno produtor um valor justo, que seja igual ao que ele vende de produto 'perfeito'."

Negócio

Como empresa, a Fruta Imperfeita acredita em um consumo consciente, buscando reduzir o desperdício de alimentos e valorizar alimentos locais, sazonais e de pequenos produtores. Para Roberto Matsuda, o projeto poderia ser replicado em outras cidades, mas o engenheiro mecânico ressalta que existem dificuldades operacionais e logísticas que precisam ser superadas antes que o negócio chegue ao ponto de ser rentável. "Nesses seis anos, vimos pelo menos uns quatro ou cinco projetos semelhantes que tentaram começar, mas não conseguiram seguir em frente." A produtora de alimentos orgânicos Fazenda Santa Adelaide Orgânicos, localizada no município de Morungaba, a 100 km da capital, é parceira do projeto da Fruta Imperfeita. 

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.