Começo com pouco vira inspiração

Nathalia Muguet, que decidiu aos 25 anos mudar para o campo, fala sobre a experiência

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Por Juliana Pio
Atualização:

Sempre me chamou a atenção a felicidade que as pessoas têm na simplicidade. Na adolescência, fiz intercâmbio nos EUA e fui morar em uma cidade do interior, onde percebi que muitas das relações se pautavam com a natureza. Fiz um curso de permacultura e conheci a agrofloresta e a minha vida fez todo o sentido. Foi nesse momento que percebi que o ser humano, dentro dessa tecnologia agrária, não precisa ser um vilão e sim um agente potencializador dos processos de vida. 

Os agroflorestores Nathalia e Juã, com o filho Iuri, no Sítio Semente, no DF Foto: Sitio Semente

Foi uma longa jornada até sair de Belo Horizonte e ir morar no Sítio Semente, em Sobradinho (DF). Fiz quase três graduações e pude estudar em outros países, como Moçambique e Índia. O meu primeiro contato com a região foi aos 20 anos. Mas passei por vários processos até dizer que era agricultora de fato e decidir, aos 25 anos, me mudar para o campo.

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Esse processo de me aceitar e me compreender como agricultora foi uma libertação. A sociedade não compreende o papel e a importância dessa profissão, que é desvalorizada. Foi um desafio contar para a minha família da cidade que queria fazer faculdade para virar agricultora. E, hoje, isso é o que me dá alegria e prazer interno, os quais acredito ser o maior objetivo de qualquer pessoa na profissão. A lógica da sociedade está invertida. Estamos vivendo um momento de perceber outros potenciais e ser agricultor é interessante e rentável. É um trabalho digno e a gente pode ajudar as pessoas com alimento, mas também pode auxiliar o meio ambiente com os nossos processos agrícolas. 

O Sítio Semente está localizado em um ambiente de Cerrado, que já passou por devastação e foi pasto. Começamos com 3 hectares de produção e hoje estamos com mais de 600 espécies e 700 mil plantas em 7 hectares. Vizinhos se inspiraram e a região se transformou em uma área de desenvolvimento de sistemas agroflorestais, e Brasília em uma grande capital desse contexto de recuperação ambiental. 

Muito do que aprendemos compartilhamos com outras pessoas. Realizamos mais de dez cursos e, ao longo desses dez anos, já passaram mais de 10 mil alunos, do Brasil e de outras partes do mundo. São pessoas da cidade que querem fazer essa transição para a vida rural de forma sustentável e economicamente viável. Quando elas chegam ao sítio e se deparam com a produção e como a gente se relaciona e somos felizes, saem inspirados para fazerem o mesmo.

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