PUBLICIDADE

Com recorde de queimadas na Amazônia desde 2007, governo gasta só 18% do orçamento contra incêndio

No mês de julho, auge do período seco na maior parte do País, R$ 32 milhões de um orçamento total de R$ 175 milhões reservados para essas ações foram utilizados

Foto do author André Borges
Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - No momento em que o Brasil registra os piores índices de queimadas dos últimos anos, o governo federal tem executado um volume mínimo do orçamento previsto para financiar ações de combate e prevenção contra incêndios.

Dados do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop), do governo federal, mostram que, no primeiro semestre deste ano, apenas 18% dos recursos previstos no Ministério do Meio Ambiente (MMA) para ações de “prevenção e controle de incêndios florestais nas áreas federais prioritárias” foram efetivamente liquidados, ou seja, pagos por serviços prestados.

Queimada na região sul do Amazonas; no primeiro semestre deste ano, 7.533 focos de incêndio foram registrados na Floresta Amazônica, crescimento de 17% em relação ao mesmo período de 2021. Foto: Gabriela Biló/Estadão - 27-08-2019

PUBLICIDADE

No mês de julho, auge do período seco na maior parte do País, somente R$ 32 milhões de um orçamento total de R$ 175 milhões reservados para essas ações foram utilizados. Do total disponível, 51% foram empenhados até o momento, ou seja, carimbados para pagamentos.

"Infelizmente, os dados apontam que a mudança de ministro no MMA não resolveu o problema dos incêndios na região amazônica. Pelo contrário, temos a intensificação de crimes ambientais, que consequentemente, são crimes contra a vida dos povos da Amazônia", diz a deputada Vivi Reis (PSOL-PA), que reuniu os dados. O Ministério do Meio Ambiente foi questionado pela reportagem sobre a baixa execução no orçamento, mas não se manifestou a respeito.

Focos

No primeiro semestre deste ano, 7.533 focos de incêndio foram registrados na Floresta Amazônica, crescimento de 17% em relação ao mesmo período de 2021. No Cerrado, por sua vez, foram 10.869 registros, valor 13% maior que o dos seis primeiros meses do ano passado. Os dados são do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Os últimos 30 dias foram particularmente ruins para a Amazônia, quando 2.562 focos de incêndio fizeram do mês o pior junho desde 2007. No Cerrado, houve 4.239 registros, aumento de 1,4% em relação ao ano passado e o pior patamar desde junho de 2010. Desde 2019, primeiro ano da gestão do presidente Jair Bolsonaro, esse índice é crescente. Historicamente, anos eleitorais têm os maiores índices de desmatamento e queimadas.

Publicidade

Devastação

A Amazônia viu 3.988 quilômetros quadrados de sua floresta tombar nos seis primeiros meses de 2022. O desmatamento deste primeiro semestre é o maior já registrado para esse período desde 2016, início da série histórica realizada pelos sistemas do Inpe.

Para se ter uma ideia, o que ocorreu no primeiro semestre de 2022 é praticamente o triplo do volume registrado no mesmo intervalo de 2017, quando o desmatamento chegou a 1.332 km² na região. É o quarto ano consecutivo com recordes de desmatamento no período e supera em 10,6% a área devastada nos primeiros seis meses de 2021. O governo Jair Bolsonaro tem sido alvo de cobranças no Brasil e no exterior por causa do aumento do desmate.

PUBLICIDADE

O mês de junho também teve a pior marca da série histórica. Foram devastados 1.120 km² no mês na Amazônia, 5% a mais que em junho de 2021. Os Estados mais desmatados em junho de 2022 foram o Amazonas (401 km²) e o Pará (381 km²).

No Cerrado, foram desmatados 1.026 km² só no mês de junho, mais que o dobro do registrado em 2021 (485 km²) e 2020 (427 km²), um aumento de 111,5% em comparação a junho do ano passado. No acumulado do ano, entre o início de janeiro e o fim de junho, foram devastados 3.638 km² no Cerrado, um aumento de 44,5% em comparação aos seis primeiros meses de 2021, quando foram destruídos 2.518 km².

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.