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Com mudanças climáticas, saída é priorizar a infraestrutura verde

Cuidados com florestas se somam a grandes obras para garantir oferta de água para a população do planeta

Por Eduardo Geraque
Atualização:

SÃO PAULO - Em um contexto de mudanças climáticas, investir na chamada infraestrutura verde e focar também na demanda de água são duas soluções prioritárias para o País evitar transtornos com a escassez hídrica. Segundo os especialistas que debateram sobre o tema durante o Fórum Estadão Sustentabilidade, não existe uma solução única para fugir de futuras crises hídricas. A saída tem de ser sempre sistêmica, afirmam.

Além do investimento nas áreas verdes, que ajudam na melhora da oferta de água, especialista afirma que as obras de engenharia são importantes Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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“Não tem bala de prata. Precisamos de um conjunto de ações bem calibrado”, afirma Guarany Osório, coordenador do Programa de Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas.

Para o pesquisador, apenas as grandes obras de engenharia para aumentar a oferta de água, a chamada infraestrutura cinza, não são suficientes. “Temos que ter também instrumentos voltados para a demanda. Como mecanismos de mercado baseados na quantidade de água que é consumida pelas pessoas”, diz Osório.

Estimativas feitas pela FGV na região do semiárido brasileiro para os próximos 50 anos mostram uma perspectiva preocupante. “Quando você aplica os cenários climáticos para a bacia Piancó-Piranhas-Açu, por exemplo, um dos locais que estudamos, se não considerar a mudança climática significa negligenciar um déficit hídrico adicional de 133% ao problema, que já é grave”, diz. Por isso, defende, é preciso “ter soluções novas para resolver o problema”.

O problema das mudanças climáticas é grave, e tende a piorar ainda mais, por isso temos que trabalhar para não ficar ainda mais caro no futuro.

Guarany Osório, coordenador do FGVCES

Para Samuel Barreto, gerente nacional de água da ONG The Nature Conservancy, o problema é que a chamada infraestrutura verde - ações que visam ao reflorestamento de áreas ao redor de mananciais ou à preservação de matas que estão de pé - está longe da prioridade dos governantes. “Temos deixado esses projetos em quarto ou quinto plano. Mas precisam estar em primeiro lugar, porque contribuem para a melhoria da qualidade e da quantidade de água. Não podemos abdicar de nada.”

A era que nós estamos vivendo é a era do imprevisto. Aquilo que ocorreu no passado em relação à água dificilmente vai ocorrer no futuro.

Samuel Barreto, gerente de água da The Nature Conservancy

Sem seca. A partir da esquerda, Renato Saraiva, Guarany Osório e Samuel Barreto debatem recursos hídricos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Soluções combinadas

Além do investimento nas áreas verdes, que ajudam na melhora da oferta de água, o especialista afirma que as obras de engenharia também são importantes. E também lembra de outro problema grave que existe no Brasil em relação aos recursos hídricos. “O País perde, em média, 37% de tudo o que é produzido de água. Em algumas regiões do País perde-se 70%, como na Amazônia”, diz Barreto. O biólogo defende uma combinação de todas as soluções. “Pelo lado da demanda, na agricultura e na indústria temos que melhorar esses sistemas. Eles são ineficientes”, afirma.

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Para Renato Saraiva, diretor do departamento de Revitalização de Bacias Hidrográficas e Acesso à Água da Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, a crise de recursos hídricos vivida pelo Brasil nos últimos anos não é obra do acaso. “Ela decorre de um grande modo de desenvolvimento em que a variável ambiental foi negligenciada”.

O gestor, assim como os outros debatedores, é um entusiasta da infraestrutura verde. “Continuamos precisando muito da infraestrutura cinza, dos engenheiros civis, mas precisamos dos geólogos, dos hidrólogos, dos agrônomos, dos botânicos e dos ecólogos para compreendermos melhor a água na natureza.

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