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Climatologista alerta sobre urgência da criação de leis que considerem o aumento do nível do mar

Carlos Nobre, presidente do conselho diretor do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, defende que novas construções na região costeira só sejam permitidas se tiveram no mínimo 1,5m de elevação ao nível do mar

Por Clarissa Thomé
Atualização:
Só no Rio, o patrimônio imobiliário sob “alto risco” por causa da elevação do nível do mar foi estimado em R$ 124 bilhões Foto: Marcos de Paula|AE

RIO - O climatologista Carlos Nobre, presidente do conselho diretor do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, defendeu que novas construções na região costeira só sejam permitidas se tiverem no mínimo 1,5 m de elevação em relação ao nível do mar. O pesquisador alertou sobre a urgência da criação de leis que levem em consideração o aumento do nível do mar.

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"É preciso discutir política pública de ocupação da zona costeira. Quando o tema chega às câmeras municipais, o “assunto morre” em função da força de grupos econômicos”, criticou. Nobre participou nesta segunda-feira, 5, do lançamento do relatório “Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas”, no Museu do Amanhã, zona portuária do Rio.

O documento aponta que, só no Rio de Janeiro, o patrimônio imobiliário sob “alto risco” por causa da elevação do nível do mar foi estimado em R$ 124 bilhões.

“Os tomadores de decisão, principalmente vereadores e prefeitos das cidades costeiras, têm de acordar para o fato de que a elevação do nível do mar é um problema urgente. Todos os dados já indicam que as ressacas estão cada vez mais frequentes, mais fortes, invadindo mais. Isso ocorre por causa de uma combinação de aumento de 20 cm de aumento do nível do mar que ocorreu nos últimos 100 anos, e também com as tempestades oceânicas mais intensas, porque o oceano está mais quente. As zonas costeiras brasileiras têm de virar prioridade de políticas para adaptação. Passamos do tempo em que deveríamos ter planos”, afirmou o especialista.

Nobre explicou que “por razões complexas da dinâmica oceânica”, o aumento do nível do mar na zona costeira brasileira ocorre acima da média mundial. “Se há uma coisa óbvia é o aumento do nível do mar. É mais óbvio do que o aumento de temperatura, ou eventos extremos. Mas se a gente olhar os marcos legais, as leis de ocupação da zona costeira, não há única menção ao aumento inexorável e irreversível do nível do mar”.

Ele ressaltou que na agricultura há um esforço de buscar adaptação às mudanças climáticas. “Na zona costeira, as ações de política pública para a adaptação são praticamente zero”, afirmou. “Precisamos de políticos tomadores de decisão corajosos porque os interesses econômicos da ocupação do litoral de alto valor agregado, condomínios de luxo, atividades esportivos, é imenso. Os construtores não dizem para quem vai comprar um imóvel que dali a 100 anos aquele terreno estará embaixo do mar, que será um desinvestimento”.

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