Clima mais seco agrava risco de queimada na Amazônia, diz estudo

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Por ALISTER DOYLE
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As queimadas agrícolas serão a maior ameaça à Amazônia nas próximas décadas, agravadas pelo clima mais seco provocado pelo aquecimento global, disseram pesquisadores na segunda-feira. De acordo com eles, a devastação provocada pelo fogo é mais preocupante do que a transformação da floresta em cerrado, como resultado das secas mais freqüentes -- uma tendência prevista no relatório de 2007 da Comissão Climática da Organização das Nações Unidas (ONU). "O fogo associado à atividade humana e ao ressecamento deve ser o que eliminará a floresta, em vez da pressão gradual da mudança climática", segundo o estudo feito por Mark Bush, do Instituto de Tecnologia da Flórida, e seus colegas dos Estados Unidos. Examinando o histórico das queimadas na Amazônia nos últimos 3.000 anos, os pesquisadores disseram que o fogo é principalmente causado por pessoas, já que os raios provocam uma parcela reduzida dos incêndios. "A Amazônia não queima se as pessoas não a queimarem", disse Bush à Reuters. O clima mais seco, a maior presença humana e as queimadas para abrir áreas para plantio fazem com que a Amazônia esteja sob constante ameaça, disseram eles em artigo na revista britânica Philosophical Transactions, da Royal Society B, que teve número especial sobre a Amazônia. Avaliando restos de carvão, os pesquisadores concluíram que os indígenas amazônicos já faziam queimadas mesmo antes da chegada dos Europeus à América. "Após a época do contato europeu, as queimadas se tornaram-se mais escassas", afirmaram. Em 2007, o Painel Climático da ONU previu que o aquecimento global e o ressecamento do solo "levarão a uma gradual substituição da floresta tropical pelo cerrado no leste da Amazônia", o que chamaram de "savanização" da floresta, até 2050. O relatório dizia também que a biodiversidade amazônica poderia ser muito afetada. Esse modelo não levava em conta o impacto das queimadas. "O fogo é a maior ameaça ligada ao clima na floresta amazônica," disse a equipe liderada por Jos Barlow, da Universidade de Lancaster (Inglaterra), em outro artigo na mesma edição da revista, ressalvando porém que a mata tem capacidade de regeneração. "Incêndios episódicos podem levar a drásticas mudanças na estrutura e composição da floresta", disseram eles, recomendando alterações nas práticas agrícolas. O fogo, segundo eles, é "um dos poucos aspectos da mitigação da mudança climática sobre o qual retemos algum controle direto". Estima-se que o desmatamento, especialmente pela queima de florestas tropicais, responda por cerca de 20 por cento das emissões mundiais de gases do efeito estufa. Um estudo da Universidade de Leeds (Inglaterra) mostrou que árvores e trepadeiras em partes intactas da Amazônia cresceram com mais rapidez nas décadas de 1980 e 90, aparentemente ajudadas pelo clima mais quente, e que isso ajudou a conter o aquecimento geral. Eles alertaram que "este subsídio da natureza agora está sob risco [por causa] da seca, das mudanças na biodiversidade, do desmatamento e da mudança climática em si". REUTERS MPP

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