Clientes de iFood e UberEats são contra uso de plástico e querem mudanças

Pesquisa diz que 72% dos consumidores gostariam de entrega de comida via delivery sem plástico descartável; 15% já deixaram de fazer pedido por discordarem de receber pedido com talheres, copos ou sachês

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Por André Borges
4 min de leitura

BRASÍLIA – O crescimento vertiginoso de serviços de entrega de comida por aplicativos como iFood e Uber Eats trouxe, sobre suas motos e bicicletas, um problema monumental para o meio ambiente: a produção de bilhões de itens de plástico descartável, material que não é reciclável e que acaba indo para o lixo comum. O problema já incomoda muitos consumidores que usam o serviço e já levou parte deles a, inclusive, deixar de pedir a comida, por causa do volume de plástico gerado em qualquer refeição que se peça.

Essa insatisfação acaba de ser medida por uma pesquisa contratada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela organização Oceana. O Estadão teve acesso exclusivo ao levantamento, que foi feito pela IPEC Inteligência em Pesquisa e Consultoria, que entrevistou mil usuários desses serviços, via internet, entre os dias 6 e 14 de março.

A pesquisa aponta que o iFood realizou nada menos que 48 milhões de entregas por mês em 2020 Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

Ao serem questionados sobre o tema, 72% dos consumidores responderam que gostariam de receber pedidos de delivery de comida sem plástico descartável, ou seja, com algum tipo de embalagem que fosse biodegradável e não agredisse o meio ambiente. O plástico usado em embalagens de comida é um produto de baixa qualidade para ser reciclado, porque está praticamente no fim de sua “vida útil” e não tem valor comercial. Ou seja: vai direto para o meio ambiente, com a maior parte indo parar nos oceanos.

Entre os entrevistados, 15% declararam que já deixaram de solicitar o serviço por se sentirem incomodados com a quantidade de plástico que recebem, como talheres, pratos, copos, sachês, canudos e mexedores, itens que, na maioria das vezes, sequer foram solicitados pelo comprador, mas que são enviados automaticamente, sem questionar, antes, se a pessoa quer realmente receber aquilo.

Para a maioria dos consumidores (86%), as empresas de aplicativo têm tanta ou mais responsabilidade que os restaurantes em entregas livres de plástico descartável e, por isso, deveriam se unir aos comércios para oferecerem alternativas de embalagem. Uma parcela de 30% declarou que os apps têm papel fundamental nessa mudança de hábito.

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De cada cem entrevistados, 88 disseram que não gostariam de receber algum item de plástico em seus pedidos de delivery. Os itens que a maioria dos consumidores não quer receber são canudos e mexedores de bebidas (53%); talheres, como garfos, facas, colheres (52%); e copos de plástico (47%).

Lara Iwanicki, gerente da campanha de plásticos na Oceana, disse que a organização, ao lado do programa da ONU, negocia uma iniciativa com os apps de comida, para que ofereçam, efetivamente, outras alternativas de embalagens e incentivem a redução de plástico pelos restaurantes. “A pesquisa mostra que o consumidor quer atitudes efetivas dessas empresas, mudanças que tragam resultado, e já há exemplos disso no mundo. Em Cingapura, por exemplo, foi feito acordo com a WWF e a indústria de delivery, pedindo a redução de plástico. Essa iniciativa terá potencial de reduzir um milhão de itens de plástico por semana em Cingapura”, diz Iwanicki.

Uma ação imediata, por exemplo, comenta Vitor Leal Pinheiro, coordenador da campanha Mares Limpos no Pnuma, é exigir, sempre, que o consumidor tenha de apontar, em cada compra, qual o item não deseja receber em sua casa, em vez de ter uma opção padrão já configurada. “Já há mecanismos para que os restaurantes ofereçam a escolha ou não dois itens. Mais do que isso, esses aplicativos precisam assumir parte da responsabilidade que têm nesse processo. O usuário está cobrando isso”, afirma Pinheiro.

Dos mil entrevistados, 74% declararam utilizar o iFood para fazer pedidos de comida. Outros 31% citaram o Uber Eats e 26% mencionaram apps dos próprios restaurantes. A pesquisa aponta que o iFood realizou nada menos que 48 milhões de entregas por mês em 2020. Considere uma média de cinco itens de plástico por pedido, e chega-se a 250 milhões de itens lançados no meio ambiente, todo mês.

O aumento dos pedidos de entrega também ampliou o consumo de itens descartáveis. O Brasil produz anualmente 3 milhões de toneladas de plásticos de uso único, ou seja, sem nenhum retorno. Desse total, 13% são produtos como pratos, copos, talheres, sacos plásticos e canudos. Isso equivale a 200 bilhões de itens descartáveis por ano.

Nota do Uber Eats

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Após a publicação desta reportagem, o Uber Eats informou que lançou, em fevereiro de 2019, um recurso que permite aos usuários dispensarem o recebimento de talheres descartáveis, guardanapos e canudos. “O recurso chegou primeiro ao Brasil e ao Chile e, após a experiência bem sucedida, com 93,7% dos restaurantes participantes no país extremamente satisfeitos, a iniciativa foi estendida para todos os empreendimentos cadastrados na plataforma, em todo o mundo” declarou a empresa.