Mais de 600 cientistas europeus e cerca de 300 indígenas pediram que a União Europeia (UE) vincule as importações oriundas do Brasil ao cumprimento de compromissos ambientais. O manifesto foi publicado nesta quinta-feira, 25, na revista científica Science.
A declaração denuncia que o bloco europeu, um dos maiores parceiros de negócios do Brasil, é um "líder mundial" na importação de produtos agrícolas que "causam desmatamento".
O documento afirma que as florestas brasileiras perderam em média mais de um campo de futebol a cada hora entre 2005 e 2013 como resultado das importações da UE.
Os cientistas afirmam ainda que a UE importou do Brasil mais de 2 bilhões de euros (2,24 bilhões de dólares) em ração pecuária em 2017, sem saber se foi cultivada em terras desmatadas ou associadas a conflitos com tribos indígenas.
"A Europa é cúmplice dos crimes cometidos em nome do produção agrícola", disse Sonia Guajajara, uma das líderes da chamada Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
A pesquisadora Laura Kehoe, da Universidade de Oxford, estudante de hábitos alimentares que causam desmatamento, pediu à UE que "pare de importar o desmatamento e se torne um líder mundial em comércio sustentável".
"Pedimos a UE para aproveitar essa oportunidade crucial para garantir que o Brasil proteja os direitos humanos e o meio ambiente", sublinhou a carta publicada no revista Science.
Os cientistas recomendam à UE que defenda a Declaração de Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, melhore procedimentos para rastrear produtos associados com desmatamento e conflitos contra povos indígenas e obtenha o consentimento para definir critérios precisos sobre como comercializar certos itens.
Além disso, cientistas e indígenas também denunciaram que, "enquanto o mundo olha para o outro lado, o povo do Brasil e as florestas que eles protegem estão sendo atacados".
Eles também declararam que o governo do presidente Jair Bolsonaro "ameaça o direito dos povos indígenas e das áreas naturais". /EFE