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Carro flex abastecido com gasolina polui menos

Problema estaria relacionado à falta de adequação dos motores ao combustível vegetal

Por Afra Balazina
Atualização:

É muito provável que quem tenha carro com motor flex polua menos ao usar gasolina do que álcool. Os números variam de acordo com o modelo do veículo. Mas, na média, ao verificar a emissão da frota de 2008, os carros flex que usam álcool emitem mais monóxido de carbono (0,71 grama por quilômetro) do que os que utilizam gasolina (0,51 grama por quilômetro).

 

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Em relação aos aldeídos, que ajudam na formação do ozônio - principal preocupação em áreas urbanas como São Paulo -, o carro a álcool em geral emite quase oito vezes mais. Esses dados foram compilados pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), com base em informações da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

 

A população está acostumada a ouvir que o álcool é um combustível limpo por ser renovável. Isso tem peso quando se discute o aquecimento global porque suas emissões de CO2 são neutralizadas - a cana-de-açúcar absorve o gás-estufa.

 

Mas as novas informações prejudicam a imagem do combustível ao relacioná-lo mais diretamente à poluição do ar nas cidades. A pedido do Estado, o Iema comparou modelos de carros flex de diferentes montadoras com as informações divulgadas na terça-feira, 15, pelo governo federal por meio da Nota Verde.

 

Em geral, os carros se saíam melhor ao usar a gasolina. Na emissão de hidrocarbonetos é grande a desvantagem do álcool no Celta, no novo Gol e no Fiesta, por exemplo. Na avaliação dos óxidos de nitrogênio, dos seis modelos avaliados, somente no novo Gol o álcool era menos poluente.

 

Tanto os hidrocarbonetos quanto os óxidos de nitrogênio contribuem para a formação do ozônio. Apesar de ser importante na estratosfera para proteger a Terra dos raios ultravioleta do Sol, o ozônio é prejudicial à saúde das pessoas na faixa de ar próxima do solo.

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A explicação para o desempenho do álcool se deve, em parte, ao fato de o motor flex ser mais adequado à gasolina, pois o mercado mundial não utiliza o etanol. "É um sinal de que a tecnologia dos veículos flex precisa evoluir", diz André Ferreira, diretor-presidente do Iema. Segundo ele, "não se pode dizer que, por ser bom para o clima global, o álcool seja limpo."

 

Francisco Nigro, pesquisador da Escola Politécnica da USP, diz que, do ponto de vista do lançamento de poluentes que degradam a qualidade do ar da cidade, não há mais diferença entre gasolina e álcool. Com o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), a gasolina teve uma melhora maior do que o álcool. E o catalisador teve importante papel na redução das emissões.

 

Para Nigro, agora é importante investir na formação de pessoas para trabalhar com motores no País. "O Brasil tem uma vantagem competitiva ao usar um combustível renovável e com balanço de CO2 favorável. Mas precisa se esforçar para manter a competitividade."

 

Isso não significa que a gasolina virou a mocinha da história. "Por vir do petróleo, ela possui componentes que produzem poluentes, como o benzeno, que os americanos chamam de perigosos. Para eles, não há limite seguro", explica Carlos Lacava, da Cetesb.

 

Márcio Veloso, coordenador-substituto do Proconve, reforça que os carros atendem ao padrão. "Podem até emitir mais quando se usa o álcool, mas estão dentro do que estabelece a lei." Mesmo assim, 11.559 pessoas com mais de 40 anos morrem por ano nas seis maiores capitais em razão da poluição do ar, segundo estudo da USP e seis universidades federais.

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