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Brasileiro vai propor ao G-20 plano contra desperdício de alimento

José Graziano da Silva, diretor da FAO, quer o estabelecimento de uma rede mundial de banco de comida para minimizar o problema

Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - O brasileiro José Graziano da Silva, diretor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), vai propor ao G-20 o estabelecimento de uma rede de banco de alimentos como forma de tentar minimizar o desperdício de comida que a cada ano afeta 1,3 bilhão de toneladas de alimentos. Em entrevista ao Estado, Graziano informou que levará a proposta à reunião do grupo no início de maio, em Istambul, na Turquia, e que vai desenhar uma estratégia mais ampla para tentar barrar esse fenômeno. 

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Nesta sexta-feira, 17, Graziano esteve em Genebra, na Suíça, para reuniões com outro brasileiro: Roberto Azevedo, diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os dois são os brasileiros com cargos mais elevados nas entidades internacionais. 

No centro do debate estava a coordenação de posições no que se refere à agricultura. "Nossa estimativa é de que um terço dos alimentos produzidos no mundo são desperdiçados", explicou Graziano. O volume representa mais da metade da colheita de cereais.

Os brasileiros José Graziano, diretor da FAO, e Roberto Azevedo, diretor da OMC, se encontraram nesta sexta-feira, 17, em Genebra, na Suíça Foto: FAO/Divulgação

Apenas o que seria desperdiçado pelos consumidores dos países ricos já seria equivalente a tudo o que a África Subsaariana produz por ano. Nos Estados Unidos, o governo aponta que 25% dos alimentos que estavam disponíveis aos consumidores para que fossem comprados ou comidos acabaram no lixo, com perdas de US$ 161 bilhões. 

Uma das propostas de Graziano será a criação de bancos de alimentos pelo mundo que, em cada país, recolheria sobras, estoques e doações, transferindo para outra parcela da população.

Se no Brasil a iniciativa é ainda incipiente, ele aponta que o modelo de maior sucesso é o Canadá. Criado ainda nos anos 1980, a iniciativa hoje conta com 800 bancos de alimentos e que fornecem comida para 850 mil pessoas no país - 34% deles são crianças. 

"Num ano de crise para os países em desenvolvimento, jogar um terço dos alimentos no lixo não só não faz sentido, como também prejudica o meio ambiente", disse Graziano. "Não só o que se gasta para produzir, mas também para destruir depois."

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No G-20, Graziano vai defender que os governos estabeleçam padrões e regras para a criação dos bancos de alimentos. Além disso, vai sugerir a aprovação de leis de desoneração fiscal para quem faça doação de alimentos, como restaurantes, supermercados ou grandes redes. 

Validade. Outra necessidade de harmonização será a do prazo de consumo dos produtos. Segundo Graziano, alimentos em perfeito estado acabam sendo jogados no lixo por conta da indústria usar termos que confundem o consumidor. 

Um dos problemas é o termo "Vender até", usado em grande escala nos Estados Unidos. Um quarto dos produtos jogados no lixo vem da impossibilidade de supermercados colocarem esses itens nas prateleiras, mesmo que a data de consumo esteja ainda dentro do prazo.

Outra fonte de confusão é o termo usado em produtos "Melhor consumir até" ("Best by"). A etiquetagem se refere a uma sugestão dos produtor de que aquele alimento está em seu melhor estado de gosto dentro daquele prazo. Mas não significa que o alimento esteja inadequado para o consumo. Ainda assim, 10% dos alimentos no lixo vem dessa confusão. 

No Brasil, 20% dos alimentos comprados são desperdiçados. No mundo, as perdas chegam a US$ 1 trilhão por ano. 

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