‘Brasil volta à berlinda no ambiente', diz embaixador
Sérgio Amaral considera que Brasil era visto como uma liderança ambiental, não como uma ameaça
Entrevista com
Sérgio Amaral
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Sérgio Amaral
26 de agosto de 2019 | 03h00
O embaixador Sérgio Amaral, que até há pouco tempo ocupava o mais alto posto do Itamaraty nos EUA, vê o Brasil de volta à berlinda na questão ambiental. “Nos últimos anos, éramos vistos como uma liderança e não como ameaça.”
Acho que sim, depois de termos feito um longo progresso a partir da Rio 92. Progressivamente, o Brasil foi tomando consciência da questão ambiental: a sociedade se mobilizou para isso, sobretudo os mais jovens. O risco desse episódio é a gente perder o longo esforço feito para consolidar essa nova visão ambiental, um ativo que o Brasil conquistou.
Pouco antes de eu voltar para o Brasil, eu participei de uma reunião em Washington e um dos oradores era o Tom Lovejoy, ícone da causa ambientalista. Ele dedicou a conferência a mostrar como o Brasil tinha evoluído no compromisso com a proteção do meio ambiente e da Amazônia. E mostrou resultados completos de que como o desmatamento havia sido reduzido. O risco que eu vejo nesse episódio é o fato de não termos reiterado nosso compromisso com a causa ambiental.
Temo que esse longo esforço venha a ficar comprometido e exija que comecemos tudo de novo para recuperar a confiança. É importante entender a visão dos europeus. No Brasil, já existe um compromisso grande, sobretudo dos mais jovens. Na Europa, esse compromisso é ainda maior. O compromisso da minha geração com a causa social e a igualdade foi substituído pela causa ambiental entre os mais jovens. Eles são militantes dessa causa. Na Alemanha, o Partido Verde ganhou 20% dos votos para o parlamento europeu. Um em cada cinco alemães tem compromisso com a questão ambiental. Sem querer entrar no debate entre Angela Merkel e (Jair) Bolsonaro, ela está fazendo isso em defesa de uma causa importante para a sociedade alemã.
O risco é que este voto no Parlamento possa se transformar em voto do consumidor. Mais do que tarifas, taxas ou represálias, o consumidor alemão vai preferir outros países ao Brasil. Ele vai associar a imagem dos nossos produtos à devastação da Amazônia. E na França a questão não é menos importante.
Acho melhor tomar medidas do que não tomar. Temos de ter políticas preventivas. E temos de cumprir essas decisões. As regras brasileiras de proteção ambiental são boas, mas o Brasil tem de dizer o que vai fazer para cumpri-las. Esses compromissos não são com os países estrangeiros. Eles têm de ser entendidos como uma decisão da sociedade brasileira.
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