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Aveludado Porto biológico

Um brinde sustentável com Maria João de Almeida

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Por Redação
Atualização:

Recentemente fui ao Douro visitar várias quintas da Fladgate Partnership (Quinta da Roeda; Quinta de Santo António e Quinta do Panascal) em que a conhecida empresa produtora de vinhos do Porto tem implementado diversas medidas direcionadas à prática de uma agricultura sustentável, fato que contribui para a proteção ambiental do Douro. No final do passeio, já no Panascal, provou-se o primeiro vinho do Porto biológico certificado, um ruby reserva denominado Terra Prima, elaborado pelos enólogos David Guimaraens e Manuel Aranha, com o apoio da equipe de viticultura.

 

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Esse Porto, com aguardente também biológica, é um vinho rico e concentrado, de aroma a fruta preta madura, suportado por taninos firmes, mas bem integrados. Na boca é volumoso, aveludado e suculento. Esse é um dos primeiros vinhos do Porto orgânicos a ser desenvolvido no Douro, baseado no conhecimento obtido por meio de uma parcela de vinha cultivada organicamente desde 1992, na Quinta do Panascal. Segundo David, foi seu pai, Bruce Guimaraens, o grande impulsionador desse tipo de cultura, tendo plantado a primeira vinha biológica na Quinta do Panascal, que serviu de base às técnicas que hoje se praticam na Fladgate e permitiram chegar a um modelo de agricultura sustentável.

 

Enquanto a agricultura biológica não utiliza nenhum tipo de produtos químicos (apenas cobre ou enxofre para combater as doenças da vinha), o modelo sustentável utiliza-os, mas elimina os herbicidas de ação residual (existentes na agricultura convencional), utiliza as ervas autóctones espontâneas no controle da erosão dos solos (um dos maiores problemas da região) e simplifica o penoso trabalho na vinha, visto que permite alguma mecanização. Segundo António Magalhães, o responsável pela viticultura da Fladgate, essas medidas permitem, além de um maior respeito pelo ambiente, uma maior sustentabilidade econômica e humana.

 

Ainda hoje a maioria dos produtores utiliza o modelo de vinhas em patamares largos, com duas filas de videiras, que obriga ao uso intensivo de herbicidas de ação residual que, mais tarde ou mais cedo, acabam por ir parar ao rio. Além disso, descura-se um dos grandes problemas do Douro, a erosão. A viticultura tradicional nos ditos socalcos largos mostrou-se errada ao longo dos anos, contribuindo fortemente para a erosão causada pelas chuvas. Atualmente, ao fazer suas plantações a Fladgate Partnership (hoje detentora de 11 propriedades e 1,2 milhão de videiras) tem apostado cada vez mais em patamares mais estreitos ou vinha ao alto. Faz uma melhor seleção e condução das suas castas, adequando-as ao terroir mais apropriado (indispensável para a qualidade das uvas) e tenta ao máximo simplificar as tarefas. Uma lição de viticultura que apaixonaria muitos bons enófilos que gostam de saber a origem do que estão a beber.

 

 

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