
28 Outubro 2009 | 10h15
Pode ser o nome, a extensão, a localização, sei lá. A rodovia Transamazônica sempre pareceu ter um ar meio mitológico.
Para começo de conversa, são quase 5 mil quilômetros de estrada, cortando a Amazônia de leste a oeste. O tipo de obra faraônica difícil não se deixar impressionar.
Nesta terça-feira, a expedição da BBC Brasil passou por 35 quilômetros dela. É inevitável quando se passa por Humaitá pela BR-319 rumo a Manaus.
Inevitável também foi perceber que a lendária Transamazônica é, em alguns trechos, nada mais que uma estradinha de barro, dessas que se vê levando a sítios do interior.
A diferença é que vira e mexe aparecem enormes retro-escavadeiras e caminhões do Exército, que trabalham na duplicação e repavimentação das pistas.
Pouco depois de voltar à BR-319, uma placa quase apagada informa: Manaus a 640 quilômetros.
A entrada para a aldeia Tucumã, da etnia Apurinã, fica poucos quilômetros adiante.
E foi em frente a ela que nós nos encontramos com cerca de 20 indígenas.
O cacique da aldeia Tucumã, Luiz Apurinã, não parecia totalmente convencido sobre as vantagens da repaveamento da BR-319.
"Se vai ser positivo? Olha...", vacilou o líder, enquanto a irmã atrás "soprava": "vai ser muito positivo para nós."
Ninguém parece estar muito certo das consequências que a obra pode ter sobre os Apurinã.
Pudera, segundo Luiz Apurinã, grileiros e criadores de gado já são uma ameaça presente na vida da aldeia Tucumã.
"Quanto mais a estrada melhora, mais chegam brancos, né?", disse Martinho Apurinã, um dos moradores mais antigos da aldeia.
Para eles, o mais urgente é a demarcação das suas terras. Sem isso, eles temem perder espaço rapidamente com a reabertura da estrada
Moradores já reclamam até de madeireiros e extrativistas ilegais, que estariam comprometendo a subsistência da aldeia Tucumã.
O chefe-substituto da Funai em Humaitá, Raimundo Parintintin, disse que o problema deve ser solucionado em breve.
"Está sendo feito um levantamento detalhado sobre a situação nessas terras. Nós entendemos a situação deles e queremos demarcar as terras o mais rápido possível", afirmou..
Enquanto esperam, os Apurinã da BR-319 tentam chegar a uma opinião sobre as vantagens da possível reabertura da estrada.BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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