27 de outubro de 2009 | 13h12
Sob um calor inclemente, na rodoviária de Porto Velho, uma passageira cercada de malas e caixas, reclama do preço que pagou pela passagem de avião para voltar de Manaus à capital rondoniense.
Mais de cem quilômetros estrada acima, no assentamento Renascer, a professora primária conta que há cinco anos dá aulas no local e, por falta de transporte público, é obrigada a pegar carona na ida e na volta.
As duas histórias tem como ponto comum a BR-319. No trecho urbano da rodovia, onde fica a rodoviária, a autônoma Hilda Oliveira me contou que pagou R$ 300 pela passagem aérea.
Já a passagem do ônibus da Eucatur que liga Porto Velho a Humaitá, no Amazonas, a última parada na rodovia, é bem mais barata: R$15.
De acordo com o gerente da empresa na capital de Rondônia, Maximino Bedin, se estivesse em operação, o trecho até Manaus chegaria a uns R$ 120 e encheria até seis ônibus por dia.
Até Humaitá são quatro serviços por dia, mas para Márcia da Silva, que ganha menos de R$ 700 por mês como professora da rede municipal, o preço é proibitivo.
Ela teria que pagar o valor do bolso diariamente para saltar no Renascer, um povoado com 68 famílias nas margens da BR-319.
Em vez disso, ela se vira como caroneira para percorrer as quase duas horas que separam o local da capital do estado vizinho.
As duas mulheres veem nos planos de reabertura da estrada a expectativa de uma qualidade de vida melhor.
Hilda de Oliveira diz que visitaria a filha em Manaus mais frequentemente. A professora Márcia sonha com a instituição de transporte público.
O que pude perceber, entretanto, é que pelo menos no caso da professora, mais do que solução direta para os problemas do assentamento Renascer, a BR-319 é vista como uma impalpável esperança no futuro.
Na escola municipal de 80 alunos em que Márcia trabalha não há segundo grau..
"As crianças aqui são praticamente condenadas a parar de estudar, por falta de escola depois do ensino médio", diz.
Eu pergunto o que a BR-319 tem a ver com isso, e ela me diz que pelo menos assim o governo deve voltar a olhar para as pessoas que vivem à beira dela.BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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