As ações sociais têm de começar dentro da empresa

Corporações precisam 'arrumar a casa' para conseguir causar algum impacto; e o engajamento ajuda a resolver questões globais

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Por Luiza Pollo
Atualização:

Calcular impactos ambientais e avaliar governança corporativa parecem ser processos bastante intuitivos. Mas o S do ESG acaba virando uma incógnita: quais mudanças sociais podemos esperar de uma empresa? E como avaliar seu impacto? Segundo o relatório global “The Time Has Come” de 2020, o mais recente, desenvolvido pela KPMG com base em 5,2 mil empresas de 52 países, o Brasil está preocupado com essas questões. Mundialmente, 80% das corporações divulgam relatórios de sustentabilidade ou responsabilidade corporativa, enquanto por aqui a média sobe para 85%. “Temos problemas importantes para resolver, e sabemos que as empresas são centros de recursos financeiros, intelectuais, de relacionamentos, e que sem elas fica cada vez mais difícil resolvê-los”, disse Nelmara Arbex, sócia-líder da prática de ESG da KPMG no Brasil, durante o painel A Solução da Desigualdade Passa pela Integração Social, no Summit ESG 2021. 

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Para ela, o exemplo de responsabilidade social começa dentro da própria empresa, nas práticas que aplicam com seus funcionários. Salários justos, condizentes com condições de vida digna para os empregados, relações transparentes com a cadeia de fornecedores, troca ativa com a comunidade onde está inserida – ajudando no acesso a treinamentos, tecnologias e emprego –, além de filantropia, são alguns exemplos de como o S se reflete nas corporações. 

Segundo o relatório da KPMG, 67% das empresas se preocupam em conectar as informações de seus relatórios com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 17 pontos definidos pelas Nações Unidas para “acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade”, como define a própria ONU, até 2030.

Educação

Dentre eles está a educação, bandeira defendida no Summit por Alexandre Sanches Garcia, pró-reitor, professor e coordenador do Centro de Pesquisa ESG da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). “Quando os líderes se atualizam, fazem formação continuada, isso tem efeito multiplicador na instituição, não só aplicando o que aprendeu, mas também entre os colaboradores, que podem se espelhar.”

Do ponto de vista dos investidores, Ana Siqueira, CFA e sócia cofundadora da Artha Educação, defende que as avaliações empresariais precisam levar em consideração que “negócios são fundamentalmente pessoas”. “Como analista de renda variável, eu olhava toda a parte de governança e, só depois de ter uma visão geral eu ia para os números. Quando você vai direto para os números, você esquece de pensar quais são os valores da empresa, a qualidade, a reputação”, afirma.

Três perguntas para Claudia Yoshinaga, do Centro de Estudos em Finanças da FGV-EAESP

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Por que os conceitos E e G estão mais consolidados? E porque isso não ocorre com o S (sustentabilidade)?

Quase todo analista de renda variável vai dizer que olha aspectos de governança na hora de fazer uma recomendação de uma empresa. Desde o início dos anos 2000, com grandes escândalos corporativos, os olhos do mercado se voltaram para isso. (Quanto ao ‘S’) talvez a pauta social seja mais difícil de ser percebida. Isso porque o primeiro afetado acaba sendo o público interno da empresa. São os funcionários que conseguem avaliar se a empresa tem medidas adequadas ou não para tratar a sua força de trabalho. 

Atores. Claudia diz que acionistas podem guiar mudanças Foto: Taba Benedicto/Estadão

Como quantificar o impacto social? Existem exemplos que possam ser trazidos? E como estamos no País?

Na Noruega, por exemplo, foi aprovada uma medida que tornou obrigatória a participação das mulheres em conselhos de empresas. Assim foi possível medir o impacto dessa medida. No Brasil, a preocupação ainda se resume a cumprir as leis trabalhistas. Não demos o passo a mais para promover diversidade e inclusão.

Como essas questões podem ser solucionadas? O público pode causar algum barulho?

Sim. Mas eu diria que precisa vir principalmente da parte dos acionistas, em especial os institucionais, que têm uma porção mais representativa do capital das empresas. 

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