Após um ano, rede brasileira do Pacto Global discute resultados de carta da Rio +20

'Em 2013 estão aderindo cerca de 10 novas organizações por mês', diz presidente Jorge Soto

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Por Bruno Deiro
Atualização:

Nesta sexta-feira, dia 10, um encontro em São Paulo reuniu cerca de 200 empresas e organizações signatárias da Carta de Compromisso com o Desenvolvimento Sustentável, da Rede Brasileira do Pacto Global. Para discutir os avanços do documento, entregue ao Ministério do Meio Ambiente há quase um ano, durante a Rio +20, o evento contou com a presença do líder mundial do Pacto Global da Organização das Nações Unidas, Georg Kell. O desafio, segundo os organizadores, é ampliar as ações e criar projetos colaborativos de sustentabilidade.

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O documento apresentava 10 compromissos do setor privado em questões como direitos humanos, preservação ambiental e combate à corrupção. Em entrevista ao Estado, o presidente do Pacto Global Brasil, Jorge Soto, afirma que há diversos exemplos pontuais e que a rede tem crescido, mas que a iniciativa ainda precisa criar modelos que inegrem governos locais e instituições. "Nosso desafio é dar um passo além", afirma Soto, que é diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

A carta-compromisso do Pacto Global foi entregue ao Ministério do Meio Ambiente em meio ao clima favorável da Rio +20. Quase um ano depois, como evitar que as propostas não se percam?

Ano passado, 104 novas organizações aderiram aos princípios do Pacto Global, um crescimento de 25%. Em 2013, estão aderindo cerca de 10 novas organizações por mês. É importante lembrar que essas organizações também se comprometem a reportar anualmente a evolução do atendimento desses princípios e esses relatórios são públicos. Ou seja é importante lembrar que a adoção não é apenas conceitual, é concreta. Hoje, a rede brasileira é a 4ª maior do mundo. Também temos focado na capacitação dessas organizações. Ano passado, realizamos seis eventos e sete treinamentos. Foram mais de 2700 pessoas atingidas.  Neste período, que ações o setor privado brasileiro pode apresentar como resultados efetivos em relação à iniciativa de contribuir para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza?

Por outro lado, temos uma série de exemplos de ações concretas de empresas que aderem a esses princípios. Na questão de mudanças climáticas, por exemplo, a Braskem, empresa química, reduziu em 13,7% a intensidade de suas emissões de gases de efeito estufa entre 2008 e 2012 e pretende alcançar uma redução de 18% até 2020. O Banco do Brasil financiou programas de Agricultura de Baixo Carbono em mais de R$ 2,5 bilhões até 2012. A Itaipu, geradora de energia, capturou mais de 2 milhões de toneladas de gases de efeito estufa com seus investimentos em reflorestamento. E o Grupo Libra, da área de logística, definiu que irá reduzir 50% suas emissões de gases de efeito estufa até 2012. Como pode observar, são muitos os exemplos individuais. O desafio que passaremos a enfrentar agora é a construção de iniciativas coletivas, com foco em sinergias e aumento da escala.   Um dos compromisso firmados na carta era o de definir metas concretas em cada um dos negócios para o desenvolvimento sustentável e relatar publicamente a evolução destes compromissos. Quais os setores estão mais avançados neste sentido?

Infelizmente não temos uma consolidação dessas informações, mas a Rede Brasileira do Pacto Global tem 33 setores empresariais representados. E os que tem maior número de adesões são: Financeiro; Químico; Construção e Materiais; Eletricidade; Alimentos; Gás, Água e Utilidades; Serviços de Saúde; Comunicação; Serviços de Computação e Informática; e Logística. Mas nem sempre o número de signatários por setor é um indicador representativo. Por exemplo, o setor de óleo e gás tem apenas 4 signatários, mas lá está a Petrobras, a maior empresa brasileira.

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Como o Pacto Global tem visto a ação do governo brasileiro para contribuir com o desenvolvimento sustentável?

Entendemos que o governo brasileiro tem tido uma atuação importante nas negociações multilaterais para o avanço da sustentabilidade no mundo. Tem sido fundamental no avanço das negociações da convenção quadro de mudanças climáticas, assim como na convenção da biodiversidade. Na Rio+20, assumiu a liderança das negociações do documento do acordo intitulado “o futuro que queremos”, e continua a puxar o avanço, participando ativamente na definição dos objetivos globais da sustentabilidade, que estão em negociação. Internamente tem também alcançado resultados concretos na redução do desmatamento na Amazônia, a qual foi determinante para a redução de 35% nas emissões de gases de efeito estufa entre 2005 e 2011. Tem também incentivado a energia eólica etc. Mas o principal sucesso tem sido na inclusão social. Mais de 30 milhões de pessoas chagaram à classe média e a população que vive abaixo da linha de pobreza caiu de 40% em 2003 para 24% em 2009. No lado econômico saímos de uma média de crescimento de 2,6% na década de 1990 para 3,6 na década de 2000. É importante lembrar que a sustentabilidade engloba o tripé desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e desenvolvimento ambiental. E muitas pessoas olham para a sustentabilidade se lembrando apenas do lado ambiental. Obviamente é possível e é necessário fazer mais. Na nossa carta de compromissos emitida na Rio+20, que teve mais de 220 assinaturas de presidentes de organizações, destacamos 5 aspectos que entendemos que devem ser prioritariamente reforçados: o fortalecimento da educação, o favorecimento de investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento de ciência e tecnologia, a promoção da produção e do consumo mais sustentável, o apoio às empresas que assumam os riscos da introdução de novos produtos e serviços mais sustentáveis e o fortalecimento da participação empresarial e da integração das diversas políticas nacionais e globais. No Brasil, assim como em diversos outros países, o mercado de venda de créditos de carbono ainda não decolou, especialmente pela falta de regulamentação. Acha que é uma aposta importante?

No Brasil, o uso de instrumentos econômicos já é previsto na Politica Nacional de Mudanças Climáticas. Mas seu uso deve ser bem planejado de forma a alavancar ao mesmo tempo a mitigação das mudanças climáticas e a competitividade internacional dos produtos e serviços brasileiros. Há que aprender com as experiências de outras regiões. Na Europa por exemplo, apesar de muito bem regulado, o mercado ainda não decolou. Por outro lado, entendemos que o Brasil pode se tornar uma potência da economia verde e inclusiva. Há uma série de produtos que, produzidos aqui, já têm um diferencial comparativo em relação a outras regiões do mundo. Por exemplo, o Polietileno, uma resina termoplástica, tem uma pegada de carbono 11% menor que a média dos EUA e 38% menor que a média europeia. E o recente produto desenvolvido pela Braskem, o Polietileno de origem renovável, ao invés de emitir, captura, ou seja retira da atmosfera, mais de 2 toneladas de CO2e, os gases de efeito estufa equivalentes a CO2,  para cada tonelada de polietileno produzida. Um incentivo governamental ao desenvolvimento desse tipo de alternativa, poderia colocar em evidência o lado oportunidade desse movimento. 

É possível que as empresas que compõem o Pacto Global se comprometam com metas específicas e prazos definidos, ou ações como a carta servem apenas como diretrizes de boas práticas sustentáveis?É totalmente possível. O compromisso assumido já prevê o estabelecimento de metas e respectivos prazos. Individualmente há vários exemplos, nosso desafio é dar um passo além. Discutir o que é possível fazer juntos de forma colaborativa, e não apenas entre as empresas, com os governos locais e com as organizações multilaterais. 

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