Após reunião polêmica, ministro do Meio Ambiente manda exonerar chefe de parque do ICMBio

Ricardo Salles deve publicar exoneração de Fernando Weber até o fim da semana; o ministro teria exigido comparecimento obrigatório de servidores em evento do órgão, mas eles alegam que não foram informados

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Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mandou exonerar nesta terça-feira, 23, o chefe do Parque Nacional Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, Fernando Weber, vinculado ao Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). O Estado apurou que a exoneração deve ser publicada na quarta ou quinta-feira.

O ministro confirmou a decisão à reportagem. Questionado sobre as razões que levaram à demissão de Fernando Weber, disse apenas que “cargo de confiança é prerrogativa do Executivo escolher”. Salles disse que já escolheu um sucessor para o cargo, mas não mencionou seu nome.

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente Foto: Adriano Machado/Reuters

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A demissão ocorre dez dias depois de Salles fazer uma reunião com ruralistas e produtores para discutir as limitações do parque gaúcho. Trata-se do segundo servidor que deixa o ICMBio após o encontro polêmico, ocorrido no dia 13. Dois dias depois da reunião, o presidente do órgão, Adalberto Eberhard, pediu exoneração do cargo.

Salles e Eberhard visitavam a região do Parque Nacional Lagoa do Peixe. Após ouvir queixas de pescadores e produtores locais sobre o ICMBio, o ministro pediu para que os funcionários do órgão se juntassem a ele na mesa. “Não tem nenhum funcionário?”, perguntou na sequência. “Vocês vejam a diferença de atitude: está aqui o presidente do ICMBio que, embora seja um ambientalista histórico, uma pessoa respeitada no setor, veio aqui ouvir a opinião de todos vocês. E na presença do ministro do Meio Ambiente e do presidente do ICMBio, não há nenhum funcionário aqui.”

Salles, então, anunciou a abertura de processo administrativo disciplinar contra todos os funcionários. A plateia aplaudiu com entusiasmo. Eberhard manteve-se em silêncio. No dia 15, foi até seu gabinete em Brasília, limpou as gavetas, despediu-se dos funcionários e entregou a carta de demissão ao ministro.

Funcionários relataram ao Estado que não foram ao evento com o ministro e o presidente do ICMBio simplesmente porque não haviam sido convocados para a cerimônia, que foi acompanhada por políticos gaúchos, além de representantes do agronegócio. Alguns servidores chegaram a ir ao evento, ao saberem que o ministro havia ameaçado puni-los pela ausência. O chefe do parque, Fernando Weber, que será exonerado, juntou-se à mesa, ao lado do ministro, mas não teve a chance de responder às críticas.

Procurado pelo Estado, Weber disse apenas que estava “reunindo a equipe da unidade de conservação para dar as informações sobre a exoneração”.

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Críticas. Na semana passada, servidores federais da área ambiental divulgaram uma carta aberta à sociedade de repúdio às “declarações e posturas” do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “O ministro vem, reiteradamente, atacando e difamando o corpo de servidores do ICMBio através de publicações em redes sociais e de declarações na imprensa baseadas em impressões superficiais após visitas fortuitas a unidades de conservação onde não se dignou a dialogar com os servidores para se informar sobre a situação e sobre eventuais problemas e dificuldades”, escrevem os servidores em carta assinada pela Associação Nacional de Servidores da Carreira de Meio Ambiente (Ascema Nacional).

No documento, os servidores também destacam o funcionamento do ICMBio, e lembram que o órgão, que gere 334 unidades de conservação em todo o País, tem 1.593 servidores – “um para cada 100 mil hectares de área protegida”, dizem. Eles comparam que o serviço de parques dos EUA tem 1 servidor para cada 2 mil hectares de área protegida – cada profissional brasileiro precisa cuidar de uma área 50 vezes maior que o seu par americano.

Reportagem do Estado mostrou, no fim de semana, que a área ambiental do governo Bolsonaro passa por um processo de militarização. Do alto escalão do Ministério do Meio Ambiente até as diretorias do Ibama e do ICMBio, postos-chave estão agora sob a tutela de oficiais das Forças Armadas e da Polícia Militar. A orientação dada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro e levada a cabo pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é a de acabar com o “arcabouço ideológico” no setor. Já são pelo menos 12 militares.

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