Anúncio de meta brasileira para Copenhague não tem data

Ministros e o presidente Lula não definiram qual será o compromisso brasileiro para oa quecimento global

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Por Tania Monteiro e Leonencio Nossa
Atualização:

Terminou mais uma vez sem consenso encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com ministros das áreas de meio ambiente, agricultura e infraestrutura para definir a meta e de redução de emissões de gases de efeito estufa. Em reunião hoje no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a equipe ministerial avaliou que será preciso mais um encontro, no dia 14, para discutir a proposta que será apresentada à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague, no próximo mês, e os ministros anunciaram o "aço verde" como mais um esforço sustentável do Brasil para o meio ambiente.

 

 

Numa entrevista após o encontro com Lula, na portaria do CCBB, os ministros Carlos Minc (Meio Ambiente), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Celso Amorim (Relações Exteriores) se limitaram a dizer que a proposta já anunciada de reduzir o desmatamento na Amazônia em 80% até 2020 diminuirá em pelo menos 20% as emissões de gases. Ressalvaram ainda que este número poderá ser "um pouco" ampliado, com medidas adotadas em outros biomas. Minc quer uma meta de 40% na redução das emissões. Já outros ministros defendem uma meta menor.

 

Os ministros se esforçaram para mostrar coesão e compromisso com ações na área ambiental. Minc chegou a anunciar o "aço verde", uma jogada de marketing que foi endossada por Dilma. Ele disse que o governo irá propor que as siderurgias só utilizem carvão vegetal de áreas reflorestadas, o que garantiria um selo de "aço verde". Nas contas do ministro, metade do carvão vegetal usado hoje nas siderurgias vem de mata nativa. "O objetivo é que a siderurgia venha plantar todas as árvores que necessitar", afirmou.

 

"O Brasil pode ter um aço verde", avisou Minc com a comemoração dos demais, ao explicar que está sendo feita "uma ampla negociação para que em um prazo determinado de anos, a siderurgia venha a plantar todo o carão vegetal, todas as árvores que ela vai necessitar". Amorim emendou então que, como no mundo tudo ganha rótulo em relação á emissão de gás, "nós poderemos dizer que temos o aço verde".

 

Indagada se poderia haver uma medida legislativa para obrigar as siderurgias a usar carvão vegetal, a ministra disse que não. "São mais incentivos é muito mais criar condições para que isso se torne atrativo, com percepção da vantagem comparativa comercial no futuro. Não é no sentido da punição, mas, mas muito mais no sentido de criar incentivos financeiros, incentivos de todas as formas. Um aço carimbado de verde ele tem outra característica", avisou.

 

Na reunião anterior do grupo para discutir a posição brasileira que será levada a Copenhague, Minc defendeu o anúncio de uma meta e, depois, deu uma entrevista sozinho para defender a redução de gases num cenário de crescimento de 4%, enquanto Dilma defendia um crescimento de até 6%. Ontem, diante das câmeras, os ministros trocaram gentilezas e disseram apenas que a meta de redução de emissões que será apresentada pelo Brasil será "significativa".

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"Todos os cenários de crescimento foram avaliados", com 4%, 5% e 6% de crescimento, informou a ministra Dilma, justificando que os dados obtidos "surpreendeu" o governo já que todos três os cenários de crescimento eram consistentes. "Estamos fazendo uma coisa cautelosa credível e não estamos vendendo facilidades", declarou ela ao comentat que o nível do crescimento modifica o tamanho do esforço.

 

"O que percebemos é que, pelas características do Brasil, não é um esforço impossível porque a variação (da emissão com estes percentuais) está dentro do intervalo de confiança bastante razoável, não oscila muito entre 17 e 20%", prosseguiu a ministra, insistindo que essa proposta não é para Copenhague. "Esta é uma proposta prá nós e é um esforço voluntário do Brasil", disse ela acentuando que, se o crescimento for maior do que 5 ou 6% a emissão será apenas "um pouco" maior.

 

A ministra Dilma Rousseff adiantou que possivelmente não será definida uma meta de redução de emissões de gases na próxima reunião ministerial para discutir o assunto. "Pode ser que no dia 14 a gente não apresente o número diretamente, mas as medidas, até porque o número tem de ter credibilidade", disse. "Nós não estamos aqui para fazer uma proposta que não tenha credibilidade. Todos os números que nos colocarmos serão testados e checados porque estamos fazendo isso de forma voluntária", declarou.

 

"Não estamos fazendo isso porque alguém definiu, mas porque achamos que é fundamental que o Brasil preserve alguma de suas características de país sustentável, já que nós temos a matriz energética mais renovável", completou ela, ao destacar que "a gente tem de fazer avaliação de emissão para ver como é que fica a matriz energética, prá ver como fica a agricultura, a indústria e os demais setores".

 

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Sobre a proposta de ajuda financeira para ajudar a cumprir a meta de aumento de até dois graus de temperatura, o ministro disse que o Banco Mundial estima em US$ 400 bilhões de financiamento para o mundo. "É um bom parâmetro pra se discutir, mas o Brasil acha que vai precisar de mais", salientou.

 

Questionada se teme que a indústria e o agronegócio se oponham às metas que o governo possa adotar em termos de meio ambiente já que pode afetar o crescimento da atividade econômica deste setor, a ministra respondeu que "de maneira alguma". E emendou: "o ministro (da Agricultura) Stephanes mostrou que todas as iniciativas na área da agricultura, do agronegócio e da pecuária, no sentido de reduzir as emissões de CO2 elas resultam em aumento de produtividade significativa de um lado e de outro, de aumento de renda e em vantagem para o produtor".

 

Além de Dilma, Minc e Amorim, participaram do encontro com Lula os ministros Sérgio Resende (Ciência e Tecnologia), Reinhold Stephanes (Agricultura), Edison Lobão (Minas e Energia) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

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