Análise: Prestígio internacional de Obama enfrenta semana decisiva

Presidente americano deve tentar deixar a sua marca nos principais assuntos da pauta global.

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Por Paul Reynolds
Atualização:

Ao participar de sua primeira Assembleia Geral das Nações Unidas como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama vai começar uma semana em que deve tentar deixar a sua aguardada marca nas discussões sobre os principais temas do mundo. Dentro de casa, Obama enfrenta dificuldades para aprovar as suas reformas na Saúde. A operação militar americana no Afeganistão também já foi alvo de críticas. O primeiro discurso de Obama na assembleia da ONU será na quarta-feira, e a expectativa é que ele dê o tom da diplomacia americana para os próximos anos. Essa é a pauta de Obama: Irã O Afeganistão pode ser um problema enorme para o presidente americano, mas é principalmente de natureza militar. Já o Irã é provavelmente o desafio diplomático mais difícil diante de Obama. O país se recusa a aceitar as exigências do Conselho de Segurança da ONU de suspender as operações de enriquecimento de urânio, enquanto americanos e seus aliados fazem lobby por sanções mais profundas contra o país, principalmente sobre as indústrias de gás e petróleo iranianas. Obama vem tentando conquistar o apoio da Rússia e da China. Ao longo da semana, ele deve se encontrar com o presidente chinês, Hu Jintao, e com o seu colega russo, Dmitry Medvedev, para discutir o assunto. Por outro lado, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, também vai tentar causar impacto no encontro, provavelmente reforçando a recusa em interromper a produção de urânio enriquecido, ao mesmo tempo em que provavelmente dirá, como outras autoridades iranianas já o fizeram, que o país não pretende construir armas nucleares. Mudanças climáticas Obama, diferentemente do seu antecessor, George W. Bush, quer que os Estados Unidos desempenhem um papel central nas negociações que devem levar a um acordo de combate às mudanças climáticas pós-Kyoto, em Copenhague, em dezembro. Ele discursou em um encontro de cúpula em Nova York na terça-feira, reunindo chefes de Estado e de governo, convocado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Obama afirmou que o país está ''determinado'' a agir para conter o aquecimento global e que vai assumir as suas "responsabilidades" neste assunto. Ele lembrou também que os países em desenvolvimento precisam assumir responsabilidades na questão climática. Mais uma vez ficou claro que para que se chegue a um acordo em Copenhague, o entendimento entre os dois maiores poluidores do planeta - China e Estados Unidos - será fundamental. O assunto deve estar no alto da pauta do encontro entre os presidentes dos dois países. Rússia O encontro com o presidente Medvedev vai acontecer depois de Obama ter anunciado que abandonou os planos de instalar bases antimísseis na Polônia e na República Tcheca. O projeto, embora, segundo os americanos, tivesse a intenção de defesa diante do Irã, desagradou os russos profundamente. Agora, entretanto, os russos estão satisfeitos. Será que esse clima amistoso pode levar a outros avanços diplomáticos? Ambos os países têm o objetivo de chegar a um acordo sobre armas nucleares até dezembro. O tratado agora pode ter uma escala maior, mas um ponto fundamental será o apoio da Rússia a novas sanções contra o Irã. Desarmamento nuclear Na quinta-feira, Obama vai presidir um encontro do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre desarmamento nuclear. Essa vai ser a estreia de um presidente americano nesta posição. Um sinal de que ele quer avançar até chegar à conferência que no ano que vem vai rever o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Aparentemente, Obama tem planos ambiciosos de reduzir o número de armamentos militares e praticamente eliminar o teste prático de novas ogivas. Ainda em Nova York, vai acontecer a conferência sobre o Tratado para a Proibição Completa dos Testes Nucleares, que ainda não foi ratificado por um número suficiente de signatários para que entre em vigor. Obama prometeu se esforçar para conseguir ratificar o documento, mas a decisão final cabe ao Senado americano. Oriente Médio Na terça-feira, o presidente americano participou de uma série de reuniões a portas fechadas, antes de um encontro com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. No entanto, a Casa Branca foi a primeira a minimizar as expectativas sobre o encontro. "Não temos grandes expectativas diante de apenas um encontro", disse o porta-voz Robert Gibbs. A Obama esperava que até essa época do ano, já existissem condições para negociações bilaterais entre israelenses e palestinos, que poderiam ser lançadas neste encontro. Entre essas condições estava a suspensão de construção de assentamentos israelenses. No entanto, os termos para isso não foram acertados até agora. Se as negociações, entretanto, resultarem em um acordo, abrindo caminho para negociações diretas entre as duas partes, elas seriam consideradas um sucesso. G20 e a economia mundial Na quinta-feira, as atenções vão se voltar a Pittsburgh, onde acontece a reunião do G20, reunindo 19 países industrializados e a União Europeia. A maior questão é saber se os governos devem manter os pacotes de estímulo para sair da recessão ou se já podem se afastar um pouco, já que algumas economias já voltaram a crescer. Também vão ser discutidas reformas às instituições financeiras internacionais e os polêmicos salários e bônus de executivos. Nesta reunião, a mudança climática deve voltar à pauta dos governantes. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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