Amazônia mantém rota de desmatamento e passa mais uma vez de 8 mil km² de florestas derrubadas

Entre agosto do ano passado e julho deste ano, 8.590 km² de devastação foram registrados pelo Deter, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)

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Por Emilio Sant'Anna
Atualização:

O desmatamento na Amazônia segue sua rota em 2022. Entre agosto do ano passado e julho deste ano, 8.590 km² de devastação da floresta foram registrados pelo Deter, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que mede o impacto em tempo real. Este é o terceiro índice mais alto da série histórica iniciada em 2015, todos ocorreram durante o governo de Jair Bolsonaro, cuja gestão na área ambiental é criticada no Brasil e no exterior por desmontar os órgãos de combate e fiscalização, sucessivos recordes negativos de desmate e ilegalidades como o garimpo clandestino. 

Para se ter uma ideia do que representa o novo dado para a região, considerando-se apenas julho, foram 1.487 km² de vegetação suprimida, área equivalente à da cidade de São Paulo. O índice é similar ao registrado no ano passado (1.498 km²). Se o recorte for somente o primeiro semestre deste ano, o resultado não é mais animador. Foram 3.988 Km² de floresta que tombaram, o maior já registrado para esse período na Amazônia.

Terreno desmatado em Apuí, no estado do Amazonas Foto: Bruno Kelly/REUTERS/04-09-2021

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Os dados deste ano (8.590 km²) ficam pouco atrás dos de 2021, quando foram registrados 8.780 km² de desmatamento. Ainda assim, uma queda pouco expressiva. O sistema Deter foi criado em 2004 e seu objetivo é detectar o desmate enquanto ele acontece para orientar a fiscalização do Ibama. Os dados finais do desmatamento são observados por outro sistema do Inpe, o Prodes, mais acurado que o Deter, mas cujas estimativas só são divulgadas no fim do ano. 

BR-319

De acordo com ambientalistas e especialistas, não apenas o desmonte dos órgãos de controle contribuem para mais um ano com valores elevados de desmate da Amazônia. A expectativa de asfaltamento da BR-319, rodovia que corta a maior porção intacta da floresta, acelerou esse processo. A pavimentação contrariou pareceres técnicos do próprio governo federal. 

Outro problema, este apontado pelo MapBiomas: segundo dados da plataforma que reúne universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia, apenas 2,4% dos alertas de desmatamento emitidos pelos satélites corresponderam a uma ação em campo de autuação ou embargo de propriedade pelos órgãos ambientais federais de 2019 a 2021

Neste ano, pela primeira vez, o Estado do Amazonas passou Mato Grosso e assumiu o posto de segundo mais desmatado na Amazônia Legal. OPará segue na liderança. Ao todo, foram 3.072 km² de alertas de desmatamento no Pará, 2.292 no Amazonas e 1.433 em Mato Grosso. Os municípios de Lábrea (AM) e Apuí (AM) ocupam as duas primeiras posições emalertas na região. 

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Anos eleitorais trazem um componente a mais de perigo para biomas já ameaçados, como o Estadão mostrou nesta semana. Especialistas apontam que, em anos de eleições, as ações de fiscalização e combate à ilegalidade podem sofrer um afrouxamento. Estudo sobre os impactos desse processo na Mata Atlântica mostram que o desmatamento é maior em Estados em anos de eleições federais e estaduais, quando há alinhamento estadual-federal. Ou seja, isso costuma ocorrer nas situações em que o partido do governador pertence à coligação presidencial em exercício.

O Ministério do Meio Ambiente afirma que os dados do Deter de julho para a região da Amazônia indicam o menor índice para o mês desde 2018. O acumulado dos últimos 12 meses, segundo a pasta, aponta redução de 2,16%.

De acordo com o ministério, “o governo federal tem sido extremamente contundente no combate aos crimes ambientais com a Operação Guardiões do Bioma, que visa coibir crimes ambientais nos estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre e Rondônia”

Procurado, o gabinete da Vice-Presidência da República, responsável pela coordenação do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), não se manifestou. 

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