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Alerta de desmatamento na Amazônia sobe 34,5% em um ano e é o maior em 5 anos, diz Inpe

Julho teve a primeira queda depois de 14 altas consecutivas, mas não o suficiente para representar uma redução no agregado do ano

Foto do author Julia Lindner
Por Giovana Girardi e Julia Lindner
Atualização:

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Em um ano, entre agosto do ano passado e julho deste ano, os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram um aumento de 34,5%, na comparação com os 12 meses anteriores. É o maior valor dos últimos cinco anos, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira, 7, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Dados do sistema Deter indicam que foram desmatados 9.205 km² entre 1º de agosto de 2019 e 31 de julho de 2020, ante 6.844 km² observados nos 12 meses anteriores – que também já era o maior número da série histórica até então.

Gráfico mostra a evolução do desmatamento entre agosto e julho ao longo dos últimos cinco anos Foto: Deter / Inpe

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Logo após os dados serem divulgados, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que coordena o Conselho da Amazônia, afirmou que os sistemas de monitoramento brasileiros "não são os melhores" e precisam ser aprimorados. Mourão também disse que é preciso resolver o "problema fundiário" da Amazônia para controlar a devastação ambiental na região (leia mais abaixo).

Com os números de julho, se encerra o chamado ano de referência do desmatamento da Amazônia, medido sempre nesse intervalo e que fornece a taxa anual oficial de devastação da floresta. O Deter é um sistema dinâmico de monitoramento por satélite, que fornece em tempo real alertas para orientar a fiscalização em campo. Por conta disso, ele só indica uma tendência do que está ocorrendo. Quem traz a taxa oficial de desmatamento é outro sistema no Inpe, o Prodes, que “vê” mais e faz um retrato ainda mais dramático.

No período de agosto de 2018 a julho de 2019, o Prodes apontou que a Amazônia perdeu 10.129 km². O valor representa uma alta de 34,41% em relação aos 12 meses anteriores. Entre agosto de 2017 e julho de 2018, a perda havia sido de 7.536 km². 

Foi a maior taxa de devastação da Amazônia desde 2008. Com a alta já indicada pelo Deter, a expectativa é que o Prodes deste ano também feche com uma nova alta. De acordo com o Observatório do Clima, "se a variação entre os dados do Deter e os do Prodes ficar na média histórica, poderemos ter cerca de 13.000 quilômetros quadrados de desmatamento, a maior taxa desde 2006". O dado deve ser apresentado em novembro.

O Brasil tinha como meta internacional, como forma de ajudar a conter o aquecimento global, fechar o ano de 2020 com uma taxa de menos de 4 mil km² e zerar o desmatamento ilegal até 2030.

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A devastação da floresta entrou em ritmo acelerado desde maio do ano passado, o que vem gerando pressão por parte de investidores estrangeiros e nacionais. Por 14 meses, os valores registrados foram superiores aos observados nos mesmos meses do ano anterior. Em sete deles, o valor foi o mais alto da série histórica.

Queda em julho

Julho apresentou a primeira queda no comparativo. O mês passado registrou uma perda de 1.654,32 km², ante 2.255,33 km² em julho de 2019. Ainda assim, trata-se do segundo pior julho da série histórica do Deter, de cinco anos. Em julho de 2016 a perda registrada foi de 739,46 km²; em 2017 foi de 457,53 km² e em 2018, 596,27 km². 

Valor agregado de 12 meses é o maior dos últimos cinco anos e 34,5% superior ao observado no mesmo período do ano passado Foto: Deter / Inpe

Julho do ano passado teve o pior dos registros para todos os meses e foi considerado catastrófico por especialistas – 200% acima do pior valor para julho até então (2016). O mês representou sozinho 33% de todos os alertas observados entre agosto de 2018 e julho de 2019. Mesmo os mais pessimistas não acreditavam que este ano repetiria aquele resultado, de modo que uma queda para o mês já era esperada.

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Desde maio, está em vigor uma operação do Exército para impedir crimes ambientais na Amazônia. É a Verde Brasil 2, iniciada em 11 de maio pelo Conselho da Amazônia e liderada por Mourão. Na quarta-feira, o general se adiantou em relação à divulgação do Inpe e divulgou os dados de julho em sua conta no Twitter, em tom de comemoração. O valor indicado por ele foi um pouco menor do que o apresentado nesta sexta pelo Inpe.

“A diminuição do desmatamento no #BiomaAmazônia ficou caracterizado pelo início da inversão de tendência como mostra o gráfico abaixo, revelando resultados positivos da #OperaçãoVerdeBrasil2”, escreveu Mourão.

Especialistas ponderam, no entanto, que para falar em inversão de tendência é preciso observar um período mais longo. Isso porque, por ser um sistema rápido, a visibilidade do Deter pode ser afetada se houver muitas nuvens no período. Por isso, ele pode não ver coisas em um dado mês que vão aparecer nas imagens somente no seguinte.

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O próprio Inpe recomenda que não seja feita uma comparação mês a mês, mas por períodos mais longos, para compensar essas eventuais imprecisões. Assim, os dados de agosto e setembro vão conseguir mostrar se há uma queda sustentada no desmatamento ou não.

Nesta sexta, ao responder sobre os valores do agregado de 12 meses, Mourão voltou a criticar o sistema de monitoramento do Inpe, atitude que já tinha sido tomada anteriormente. Em entrevista ao Estadão em 11 de julho, Mourão  classificou o sistema de monitoramento brasileiro como "péssimo"

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"Há muito desencontro, porque nós temos uns sistemas de monitoramento que não são os melhores. O nosso sistema de monitoramento de apoio à decisão se ressente de uma melhor qualidade, é uma tarefa que nós precisamos avançar", declarou Mourão nesta sexta.

"Os satélites que nós temos são satélites óticos, que não enxergam durante período das chuvas, não enxergam durante o período de nuvens. Precisamos avançar para ter uma tecnologia radar, temos aeronaves não tripuladas de melhor nível, em que possam manter um acompanhamento da situação da cobertura vegetal de forma mais, digamos assim, com melhor qualidade, do que só pura e simplesmente a imagem satelital", acrescentou o vice.

Alguns dias após criticar o sistema, em julho, um grupo de 19 renomados pesquisadores brasileiros publicou um artigo no Estadão defendendo o monitoramento feito no País. Eles destacaram, inclusive, um novo sistema do Inpe, o chamado Deter Intenso, que combina os dados óticos com os de radar, o que aumenta a sensibilidade e permite uma boa visibilidade mesmo com nuvens. O Deter Intenso já está disponível para atender os trabalhos de fiscalização e foi celebrado pelo ministro Marcos Pontes em coletiva de imprensa alguns dias depois.

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