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Acordo 'pouco ambicioso' pode estar próximo em Copenhague

Apoio americano a financiamento, recuo da China e esforço de líderes pode superar obstáculos.

Por Eric Brücher Camara
Atualização:

Uma ofensiva diplomática de última hora tenta encontrar um denominador comum na madrugada desta sexta-feira para que se feche um acordo na conferência das Nações Unidas sobre mudança climática, em Copenhague. Os primeiros passos foram dados ainda à tarde, com a menção, pela primeira vez pelos Estados Unidos, de financiamentos de longo prazo para países em desenvolvimento combaterem as mudanças climáticas. Paralelamente, a China teria cedido no sentido de aceitar reformas no sistema de controle de emissões do país, mantendo-o, entretanto, sob controle nacional. O vice-ministro do Exterior chinês, He Yafei, disse que seu país está disposto a dialogar e cooperar desde que isso não leve à intromissão em assuntos internos e "não infrinja a soberania da China". Além disso, como haviam anunciado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, líderes das delegações mais influentes do encontro, entre eles representantes da China, Índia e Estados Unidos, se reuniram para tentar acertar os ponteiros. Entretanto, ainda que se chegue a um acordo, ele não deverá ser ambicioso o suficiente para manter a temperatura da Terra abaixo dos 2ºC, como recomenda o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), segundo um documento vazado para a imprensa nesta quinta-feira. Rota do aquecimento global O relatório, com cabeçalho da convenção sobre mudança climática das Nações Unidas (UNFCCC, na sigla em inglês) e datado do dia 15 de dezembro, soma todas as metas de redução de emissão apresentadas até o momento e conclui que elas não conseguiriam tirar o planeta da rota do aquecimento global, que poderia alcançar 3ºC. A concentração de gases do efeito estufa na atmosfera ficaria por volta de 550 ppm (partes por milhão), bem acima das 450 ppm preconizadas pelo IPCC. O documento provocou fortes reações entre ativistas presentes à reunião do clima. "Ele mostra marcadamente que o acordo sobre a mesa em Copenhague põe em risco a própria viabilidade da civilização na Terra", disse Bill McKibben, fundador da campanha 350.org, que defende a manutenção de uma concentração máxima de gases do efeito estufa em 350 ppm. O documento, calcado em diversos estudos publicados recentemente, entre eles um encomendado pela agência da ONU para Meio Ambiente (Pnuma) a diversas instituições, afirma que seria preciso manter as emissões a no máximo 44 gigatoneladas de CO2e (equivalente em dióxido de carbono dos efeitos de todos os gases do efeito estufa) até 2020. Ações mais ousadas No entanto, as propostas existentes ficam entre 1,9 Gt (na faixa mais alta das propostas apresentadas) e 4,8 Gt (na faixa mais baixa) acima desse nível. Para alcançar o nível, o documento vazado diz que seriam necessárias "reduções agregadas dos países do Anexo I (industrializados)" 30% abaixo dos níveis de 1990 e ações que levassem a cortes de no mínimo 20% dos níveis chamados "business as usual" - ou seja, se nenhuma ação for tomada. Além disso, seriam necessárias "mais reduções de desmatamento, aviação e transporte de cargas marinho". Se a questão do financiamento for resolvida, o que passou a ser possível com os sinais dados pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, embora ela não tenha esclarecido de onde sairia o dinheiro para um fundo de longo prazo e quais os condicionantes para a liberação, um dos maiores obstáculos passa a ser a questão da "transparência" na China. Os americanos não gostam da forma com que os relatórios sobre emissões são tratados no país, sob controle rígido do Estado, impossibilitando a verificação independente dos dados. Na tarde de quinta-feira, o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, chegou a fazer um apelo por flexibilidade na verificação em "todos os nossos países, desenvolvidos ou em desenvolvimento". Como forma de superar o problema, Yudhoyono sugeriu a possibilidade de se criar um mecanismo internacional para monitorar reduções de emissões. Apesar de tantas pendências, a reunião das Nações Unidas sobre mudança climática está marcada para ser concluída nesta sexta-feira. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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