Acordo de Paris obriga ‘transição energética’

Durante COP-21, líderes empresariais se mobilizaram tendo em vista a irreversível mudança para uma economia de zero carbono

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Por Giovana Girardi e Andrei Netto
Atualização:

PARIS - Ao terminar seu discurso de encerramento da 21.ª Conferência do Clima da ONU, no sábado à noite, o presidente francês, François Hollande, decretou: “O mundo mudou. Nós entramos na era do baixo carbono, um movimento poderoso e irreversível”. 

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Ele se referia ao resultado da cúpula, que estabeleceu o primeiro marco legal para que todo o mundo tome ações de combate às mudanças climáticas, a fim de conter o aquecimento do planeta a 1,5°C até o final do século. Mais do que trazer uma regra clara de como isso será atingido, o Acordo de Paris tem o mérito de sinalizar para o mercado que é hora de se mover na direção contrária à da queima dos combustíveis fósseis. 

Nos últimos dias da conferência, algumas ONGs ambientalistas publicaram um gráfico curioso nas redes sociais. Ao mesmo tempo em que as negociações avançavam, as ações da Shell despencavam, segundo mostrou análise de Chris Barrett, da European Climate Foundation. 

Ativistas participaram de uma volta ciclística em solidariedade ao Movimento Global Por Justiça Climática, em Manila, nas Filipinas. Foto: AFP

A julgar pela mobilização de líderes empresariais e suas corporações, a frase do presidente francês tem grandes chances de entrar de fato para a História. Isso porque a COP-21 de Paris marca um divisor de águas: a transição energética e o desenvolvimento sustentável, ao que parece, serão mesmo imperativos do século 21. “O acordo tem o poder de enviar em alto e bom som sinais para os mercados econômicos de que não há mais volta da transição para uma economia de zero carbono”, disse Andrew Steer, presidente do World Resources Institute. 

“Chegamos a um acordo que, totalmente implementado, nos ajudará na transição para uma economia global de energia limpa”, afirmou o secretário de Estado americano, John Kerry, ressaltando que o acordo vai obrigar a iniciativa privada a desenvolver pesquisas e novas tecnologias. “São 188 nações a dizer para o business global: ‘nós temos de avançar nessa direção’. E isso vai mover investimentos, vai criar novos empregos, melhores pesquisas e desenvolvimento.”

Vida real. Na prática, isso já está acontecendo. Tanto que durante a COP-21, enquanto diplomatas perdiam noites de sono discutindo detalhes do acordo, em eventos paralelos ganharam destaque anúncios de empresários e negócios que foram fechados fora do quadro oficial. A Agenda de Ação Lima-Paris, um exemplo, foi definida pela própria organizadora da conferência como “a maior força em redução de emissões”.

Só ali foram anunciados investimentos de centenas de bilhões de dólares para a transição de uma economia de baixo carbono. E cerca de 700 das maiores companhias do mundo se comprometeram com ações pelo clima – o valor de mercado delas equivale ao PIB combinado de China, Alemanha e Japão.

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Dezenas de executivos de multinacionais defenderam um quadro legal para encorajar a fixação do preço do carbono – caso de Gérard Mestrallet, diretor-presidente da companhia energética francesa Engie (ex-GDF Suez), hoje a maior empresa de eletricidade do mundo. Fundador da Microsoft, Bill Gates foi o astro da Mission: Innovation, uma iniciativa para promover pesquisa e energias limpas. O Facebook, de Mark Zuckerberg, tinha um estande na conferência, e, pelos corredores do evento, passaram bilionários como o britânico Richard Branson, do grupo Virgin. 

Líderes empresariais brasileiros também pediram mais energias limpas, mais tecnologia e uma economia mais sustentável. “O que aconteceu nessa COP foi um aporte muito maior do business”, afirmou a economista Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). “O business mostrou que tem tecnologia e soluções de negócios.”

Para Celina Carpi, membro do Conselho de Administração do grupo Libra, que assumiu o compromisso voluntário de reduzir em 85% suas emissões de CO2 e afirma já ter conseguido reduzi-las em 21% desde 2012, a transição é, na realidade, uma oportunidade para o meio empresarial. “O Brasil tem a oportunidade de ter uma infraestrutura de baixo carbono”, diz ela.

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