Ações do Brasil 'contradizem mensagens' do relatório sobre clima, diz cientista do IPCC

Pesquisador alemão fez comentário durante lançamento de relatório do IPCC que mostra a importância no combate ao desmatamento da Amazônia para conter o aquecimento global

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Por Giovana Girardi e Roberta Jansen
Atualização:
Inpe é responsável por monitorar o desmatamento na Amazônia e oferecer a taxa oficial de perda anual da floresta Foto: Daniel Beltra / Greenpeace

Apesar de optar por fazer uma análise mais geral sobre a situação do planeta, sem dar destaque para os países de modo individual, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC,deu uma cutucada na forma como o governo brasileiro vem lidando com a Amazônia.

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Durante a entrevista coletiva que os pesquisadores membros do painel deram na manhã desta quinta-feira, 8, para lançar o relatório especial sobre mudanças climáticas e uso da terra, o cientista alemão Hans-Otto Portner, co-chair do grupo de trabalho 2 do IPCC, afirmou que as mudanças que estão sendo feitas no Brasil no que se refere à gestão da Amazônia “contradizem todas as mensagens apresentadas no relatório”.

O documento pela primeira vez focou em como a agropecuária, o desmatamento e outros usos da terra contribuem com o aquecimento global. Os cientistas destacam que os setores respondem por 23% das emissões de gases de efeito estufa do planeta. A perda da vegetação, por sua vez, faz o planeta absorver cada vez menos o CO2 em excesso na atmosfera, minando ainda mais sua capacidade de combater as mudanças climáticas em curso. Segundo os autores, se esse problema não for atacado, não será possível evitar a crise climática.

Eles alertam que a redução do desmatamento, o aumento do reflorestamento e a redução das emissões da agropecuária são fundamentais para alcançar a meta de conter o aquecimento do planeta a menos de 2°C até o final do século, como prevê o Acordo de Paris. Mas essas ações também têm limite, uma vez que o aquecimento leva à degradação dos ecossistemas e à perda de produtividade agropecuária.

A situação brasileira não é citada especificamente no texto, mas com o desmatamento em alta, o País foi alvo de questionamento da imprensa que estava presente na entrevista coletiva. Foi em resposta a uma pergunta que o pesquisador alemão se manifestou.

Para Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, coletivo que reúne dezenas de ONGs brasileiras, opina que o relatório passa dois recados para o governo brasileiro. “Ao negar o aquecimento global e estimular o desmatamento da Amazônia, a administração de Jair Bolsonaro está rasgando dinheiro, já que o sistema alimentar será reorientado para atividades de baixo carbono que o Brasil tem potencial de liderar”, diz. 

“Ao mesmo tempo, ao aderir à ideologia obscurantista de Donald Trump, o presidente do Brasil desperdiça oportunidade de negócios, inovação e investimento nesse novo setor de uso da terra que o relatório do IPCC delineia”, complementa o ambientalista em nota à imprensa.

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