A. Latina é muito sensível a mudanças climáticas, diz Cepal

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Por RODRIGO MARTÍNEZ
Atualização:

A América Latina e o Caribe são regiões altamente expostas ao impacto das mudanças climáticas e sua vulnerabilidade pode aumentar se prosseguir a marcha atual da deterioração dos ambientes naturais, afirmou na quarta-feira a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). As mudanças climáticas, somadas à alta do preço dos alimentos, poderiam além disso aumentar a pobreza regional se não forem tomadas medidas a esse respeito, disse o secretário-executivo da Cepal, José Luis Machinea. Machinea afirmou que as mudanças climáticas já provocaram efeitos graves como inundações, tempestades tropicais de grande intensidade, secas e deslizamentos de terra que deixaram vários mortos e muitos prejuízos econômicos, sociais e ambientais. Nos últimos anos, além disso, observaram-se alterações nos ecossistemas, queda da biodiversidade e o derretimento de geleiras na região andina, afetando as comunidades que dependem delas, acrescentou. "Os cenários climáticos do futuro indicam que esta vulnerabilidade poderia aumentar se perseverar a tendência de crescente deterioração dos sistemas naturais da região, deterioração essa que decorre da exploração excessiva, da grande desigualdade que caracteriza a região e da limitada governabilidade em matéria ambiental", disse Machinea. Ao intervir em uma discussão sobre as mudanças climáticas realizadas na Cepal, em Santiago, Machinea defendeu que o derretimento do gelo na cordilheira dos Andes terá consequências negativas para a agricultura, a extração de minérios e a vida em cidades sul-americanas. "Nós nos preocupamos com a possibilidade de, no futuro imediato, cidades como Lima e La Paz enfrentarem uma grande carência de água. E também devemos nos preparar economicamente para esse tipo de situação", disse. MOMENTO DE ENTRAR EM AÇÃO Segundo dados de Machinea, em 2004, as emissões de gases do efeito estufa na América Latina e no Caribe representaram apenas 10 por cento do total mundial -- somente a África ficou abaixo da região em termos absolutos. Não obstante, se forem levadas em conta as emissões per capita, a América Latina fica acima da média da África e da Ásia sem contar a China (que registra 3 toneladas por pessoa). As matas e o solo da América Latina e do Caribe "comportam-se não como locais de absorção mas como fontes de emissões, e isso porque a região continua perdendo área verde e sua fronteira agrícola e pecuária continua ampliando-se", afirmou Machinea. As emissões de gases decorrentes do desmatamento na região chegam a cerca de 20 por cento das emissões totais, apesar de, no caso do Brasil, essa cifra elevar-se para 60 por cento e, no do México, para 30 por cento. O chefe da Cepal afirmou ter chegado o momento de os países latino-americanos adaptarem suas finanças públicas e seu modelo de investimento à nova normalidade climática, de criar seguros e outros mecanismos de mitigação do risco, de minimizar as perdas e de aproveitar a oportunidade para corrigir o que seja necessário corrigir. "Devemos também evitar a socialização das perdas privadas por meio das finanças públicas com o objetivo de salvaguardar a saúde econômica e a estabilidade dos governos da região", afirmou Machinea.

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