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Quem são e como vivem os povos da Amazônia

A força dos brigadistas de Alter no combate ao incêndio em área de proteção ambiental

Por Maria Fernanda Ribeiro
Atualização:
Vista da comunidade do fogo que atingiu Alter do Chão no sábado à noite (foto: Eugenio Scannavino Netto)  

Um incêndio de grandes proporções em uma Área de Proteção Ambiental, talvez o maior já registrado na floresta de Alter do Chão, no Pará, chamou a atenção do Brasil e do mundo exatamente no momento em que a Amazônia arde e todos assistem em choque as consequências das desastrosas políticas ambientais do atual governo, que incentiva invasores e criminaliza ambientalistas. Iniciado na noite de sábado, o fogo só foi oficialmente extinto quase quatro dias depois, na manhã de quarta-feira, mas não sem deixar seu rastro de destruição em uma das paisagens mais belas do Brasil.

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Além de contar com a ajuda do Exército e do Corpo de Bombeiros, a atuação dos voluntários da Brigada de Alter do Chão foi fundamental para que o fogo fosse debelado. Eles foram os primeiros a chegar no local após uma ligação de moradores de Alter de que havia focos de incêndio no percurso para a Ponta de Pedra. Dois voluntários foram de moto até o local para checar o tamanho do problema.

Segundo Manu Yael, uma das voluntárias, havia mais focos do que o imaginado e eles, então, acionaram a polícia militar para que uma viatura pudesse levar mais brigadistas até o lugar e avisaram também o Corpo de Bombeiros. Quando todos chegaram, inclusive o Exército, no período da tarde do domingo, os brigadistas já atuavam desde às cinco da manhã no combate ao incêndio, com seus escassos equipamentos e vestuários improvisados.

A Brigada de Alter do Chão conta com 22 voluntários, todos moradores da cidade, mas nem sempre foi assim. Apesar de ter sido fundada oficialmente no ano passado, os pioneiros, do qual Manu faz parte, trabalham no combate a incêndios na comunidade há três anos. No entanto, nenhum tão grande como esse. "Já tínhamos apagado um incêndio de um hectare na serra do Carauari, depois ajudamos no combate à casa de um amigo que pegou fogo, mas sentimos que precisávamos de formação. De nove anos que moro aqui, é o maior incêndio que já presenciei", afirma Manu.

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Vista do fogo da cidade de Alter do Chão (imagem cedida pela Brigada de Alter)  

Foi então que fizeram um curso oferecido pelo Corpo de Bombeiros e passaram a pensar na criação de uma brigada. Conseguiram formar seis pessoas e com esse grupo seleto continuaram a combater incêndios pela floresta, mas ainda de forma improvisada. E mais uma vez perceberam que precisavam de mais pessoas e equipamentos próprios se quisessem trabalhar em segurança pela proteção da Amazônia.

Lançaram este ano o primeiro financiamento coletivo para a formação de mais brigadistas e em meio à floresta em chamas em vários estados do país - mas ainda não em Alter do Chão -, o dinheiro vindo de pessoas físicas pelo Brasil e pelo exterior começou a chegar. Pessoas que encontraram na Brigada de Alter do Chão uma forma de ajudar a Amazônia. A brigada ganhou mais voluntários preparados e treinados e foram esses 22 homens e mulheres que mostraram sua atuação incansável durante um dos, se não o maior, incêndio florestal de Alter do Chão, em que as investigações apontam como sendo de origem criminosa. De acordo com o Ministério Público Federal, há a suspeita de que a área onde o foco começou seja de um grileiro conhecido pela Justiça de outros carnavais. Em 2018, ele chegou a ser condenado por desmatamento ilegal dentro da APA (Área de Proteção Ambiental), mas está foragido.

Todo o trabalho da Brigada pode ser acompanhado de perto pela rede social Instagram, no perfil brigadadealter. E a novidade é que a segunda etapa do financiamento coletivo para a compra de equipamentos, como os de proteção individual, sopradores, tanques de água, enxadas, roçadeiras, rádios e sinalizadores foi alcançada, com a sociedade mais uma vez mostrando que o senso de coletividade é capaz também de combater, entre outras atrocidades, incêndios.

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Eu na Floresta

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