E a Petrobras jogou a toalha...

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Por Rodrigo Martins
Atualização:

Após a polêmica do diesel e da sua exclusão, na semana passada, do Índice de sustentabilidade da Bovespa, a Petrobras anunciou na noite de ontem, em nota, seu desligamento do Instituto Ethos. No comunicado, a empresa afirma "que vem sendo alvo de uma campanha articulada com o objetivo de atingir a imagem da companhia e questionar a seriedade e eficiência de sua administração" e acusa as organizações não-governamentais e as Secretarias de Meio Ambiente de São Paulo e Minas Gerais de engendrarem uma "campanha difamatória" contra a empresa. A íntegra está aqui.

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"O grupo de pessoas que atua de forma deliberada e difamatória contra a Petrobras é composto por integrantes das Secretarias de Meio Ambiente dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, Secretaria do Verde e Meio Ambiente da Cidade de São Paulo, e de algumas organizações não-governamentais que se intitulam representantes da sociedade civil de São Paulo", diz o comunicado.

O centro da polêmica é a redução do teor de enxofre no diesel produzido pela Petrobrás. Segundo a resolução 315/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o teor do enxofre no óleo diesel comercializado no Brasil deveria ser reduzido, a partir de janeiro de 2009, para 50 ppm (partes de enxofre por milhão). Atualmente, o diesel fornecido chega a 2.000 ppm.

Às vésperas da data estipulada pela norma, a Petrobrás não se adaptou para produzir o diesel com 50 ppm e comercializá-lo em todo o território brasileiro - mesmo tendo tecnologia para isso. A partir de janeiro, o diesel mais limpo será fornecido somente em ônibus novos que circulam em São Paulo e Rio de Janeiro. Em maio, chega aos ônibus de Fortaleza, Recife e Belém e, em agosto, a Curitiba.

O restante do diesel vendido no interior e demais capitais conterá 1.800 ppm - arranjo que foi considerado insatisfatório pelas ONGs e Secretarias do Verde.

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A decisão de sair do Ethos é emblemática. A entidade, que foi responsável por disseminar o conceito de gestão com sustentabilidade entre as companhias brasileiras, entendeu o recado. A Petrobras jogou a toalha, e desistiu de tentar ser uma empresa minimamente comprometida com questões como redução da poluição e saúde pública. Agora, é só 'business as usual'...

"Ao se desligar do Instituto Ethos, a Petrobras rompe com o compromisso de ser uma empresa socialmente responsável", afirma Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos. "Parece que é uma tentativa de confundir o mercado. Quer desviar a questão principal e se colocar como vítima. Mas vítima do quê? A empresa é pública e precisa prestar contas", completa Young.

A nota da Petrobras ainda pretende deixar transparecer que a Resolução Conama não obriga a nada disso que as ONGs estão dizendo, e que não é o tóxico enxofre, e sim o ozônio, o responsável pela grande poluição nas regiões metropolitanas. A tentativa da Petrobrás de virar o discurso a seu favor chega a dar vergonha.

Em resposta à Petrobras, o Ethos, em nota aos veículos de comunicação, diz que "crê que a decisão da Petrobrás de desligar-se do seu quadro de associados tem como intenção interromper o diálogo, pelo fato de o instituto estar cumprindo sua função. O Ethos, porém, jamais se prestará a ser um instrumento de marketing socioambiental das empresas."

"O Ethos gostaria de ver a Petrobras, com toda a importância que tem em seu setor, liderando as discussões sobre energias limpas, na busca pela urgente descarbonização da economia. No entanto, a decisão da empresa parece confirmar que ela escolheu o caminho oposto. Lamentamos sua postura, pois ela reitera uma grande perda para o movimento de desenvolvimento sustentável no Brasil. Uma empresa pública, que, portanto, pertence a todos nós, deveria estar alinhada às necessidades da população. "

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