Giovana Girardi
14 de novembro de 2019 | 18h34
Os dados do Prodes, o sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que fornece a taxa oficial de desmatamento da Amazônia, serão divulgados nesta segunda-feira, 18. A informação foi antecipada pela coluna da Sonia Racy e confirmada ao blog pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
O número vai mostrar quanto foi perdido de floresta entre 1º de agosto de 2018 e 31 julho deste. O anúncio será feito na sede do Inpe, em São José dos Campos.
Alertas indicam que pode ter ocorrido um aumento da perda da floresta no último ano. Crédito: Lourival Sant’Anna/ESTADÃO
Há uma grande expectativa em torno desses números depois que o Deter, outro sistema do Inpe de análise de imagens de satélite e que fornece dados em tempo real a fim de orientar a fiscalização, indicou para uma alta de quase 50% no desmatamento no período, na comparação com os 12 meses anteriores. Os alertas do Deter mostram uma perda de 6.840 km² de floresta neste intervalo, ante 4.571 km² entre agosto de 2017 e julho de 2018.
O Deter, por ser um sistema mais rápido, justamente para ajudar os fiscais do Ibama a tentarem conter um desmate em curso, é mais míope. Só enxerga grandes polígonos e tem algumas limitações. Mas a tendência que ele aponta em geral é confirmada pelo Prodes. Entre os dois sistemas há correlação em torno de 82%.
Por causa disso, o Deter mostra um valor menor do que de fato o Prodes vai constatar. Entre agosto de 2017 e julho do ano passado, por exemplo, o Prodes mediu 7.536 km² de desmatamento – o Deter tinha visto um corte raso de 4.572 km². Nunca ocorreu de o Deter mostrar algo maior do que o Prodes constatou de fato depois.
Com base nessa comparação, há uma expectativa de que o Prodes deste ano possa ficar em torno de 10 mil km². Se isso se confirmar, será a primeira vez desde 2018 que a taxa vai passar dos dois dígitos.
Os dados do Deter foram o pivô da demissão do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão. O cientista foi criticado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro em julho, quando os números que indicavam uma grande alta no desmatamento começaram a chamar a atenção da imprensa. Bolsonaro disse que os dados eram mentirosos e insinuou que Galvão estaria “a serviço de alguma ONG“.
Em entrevista ao Estado, Galvão reagiu, afirmou que a atitude do presidente era “pusilânime e covarde” e disse que os dados do Inpe são transparentes, confiáveis e confirmados por outras instituições em todo o mundo.
Os alertas do Deter vêm indicando desde maio para a alta no desmatamento da Amazônio. Outubro teve a sétima alta consecutiva. Ainda enquanto estava na direção do Inpe, Galvão explicou ao Estado: “Não significa que os 40% de alta vistos pelos alertas vão depois significar uma alta de 40% no Prodes. Os sistemas são diferentes. É como se um olhasse com uma câmera mais aberta e o outro focasse mais. Mas há correlação em torno de 82%. Vai ter alta neste ano com o Prodes, não tenho a menor dúvida”.
Ocorre que justamente por ser mais ágil, o sistema têm algumas limitações. A resolução de suas imagens é de 64 metros, ante 30 metros do Prodes. E o satélite leva 5 dias para fazer imagens de um mesmo local, ante 16 dias no caso do Prodes.
Se por acaso uma dada região estiver com muitas nuvens ao longo desses cinco dias, o Deter pode não ver algo naquele local em um determinado mês. E ver no mês seguinte. Por isso a comparação mês a mês costuma não ser recomendada.
Apesar das explicações e do respaldo da comunidade científica, o desgaste levou à exoneração de Galvão em agosto.
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