A temporada de fogo na Amazônia já deveria estar no fim, mas a floresta continua pegando fogo. É o que alerta a ONG Greenpeace, que fez um sobrevoo no início deste mês na região do sul do Amazonas, do Acre e de Rondônia e registrou diversos focos ativos e áreas que recentemente viraram cinzas.
Foram identificados trechos ainda pegando fogo tanto no entorno, mas também dentro de áreas protegidas. A Terra Indígena Sissaíma, do povo Mura, em Careiro da Várzea (AM), por exemplo, estava queimando quando foi feito o sobrevoo.
Os ambientalistas também observaram rastros de queimadas no sul do Estado, em torno da Terra Indígena Tenharim Marmelos, próximo de Humaitá, na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no Acre, e em diversas outras áreas próximas a Rio Branco. Em Rondônia, foram vistas marcas de fogo na terra indígena do povo Karipuna.
De acordo com Danicley de Aguiar, campaigner do Greenpeace na Amazônia, o fogo chama a atenção tanto por estar ocorrendo já ao final da temporada de queimadas - quando em geral se veem poucos focos -, quanto pela região onde eles foram detectados. "O arco do desmatamento está se movendo para novas áreas, cada vez mais para o sul do Amazonas", comenta o ambientalista.
É um processo de conversão de florestas que já estavam degradadas, define. Ou seja, de limpeza da vegetação nativa, que já tinha sido afetada antes, para a colocação, provavelmente, de pasto.
Há um temor de que se trata de um movimento já provocado pelas eleições e por declarações do candidato Jair Bolsonaro (PSL), que prometeu acabar com o que chama da "indústria da multa" do Ibama, fazer uma fusão do Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura e sair do Acordo de Paris. Um de seus principais aliados, o general Oswaldo Ferreira, também se mostrou saudosista à época em que não tinha "Ibama para encher o saco" de quem derrubasse árvore.
Dados do Instituto de Pesquisas Espaciais apontam para uma alta de 36% no desmatamento entre junho e setembro deste ano, na comparação com o ano anterior.
O ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, também vem fazendo alertas nesse sentido. Ele reconhece que a floresta está queimando além do esperado e que as taxas recentes tiveram uma alta.
"Já estamos percebendo uma movimentação diferente de aumento de pressão sobre a floresta neste período eleitoral. A Amazônia é muito sensível. A pressão avança quando há sinais de mudança no horizonte. E ao falar em indústria da multa, o debate pode incentivar a impunidade", disse ao Estado na semana passada.