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ONGs e setor produtivo lançam Aliança pela Restauração da Amazônia

Plataforma na internet vai mapear onde estão estão as melhores oportunidades para fazer restauração, onde estão as sementes e os viveiros, onde plantar tem o menor custo, unindo financiadores com, por exemplo, produtores rurais que precisam ajustar os seus passivos ambientais

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Por Giovana Girardi
Atualização:

Em setembro de 2015, como contribuição aos esforços internacionais para reduzir o aquecimento global, o Brasil anunciou, entre outras metas, o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de florestas degradadas até 2030. No final do ano passado, o País aderiu a um desafio mundial de restauração de florestas, reforçando aquela meta, mas até agora não há muita indicação de como isso vai ser alcançado.

Indígenas Xavantes que colaboram com a Rede de Sementes do Xingu coletam e limpam buriti. A rede produz a chamada 'muvuca', uma mistura de sementes para projetos de restauração. Crédito Rogério Assis / ISA Foto: Rogério Assis/ISA/Divulgação

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Pensando nisso, um grupo de ONGs ambientalistas e representantes do setor produtivo lançam nesta segunda-feira (30), em Belém, a Aliança pela Restauração da Amazônia com o objetivo de fazer essa roda começar a andar. A ideia é gerar inteligência para ganhar eficiência nos plantios de modo a reduzir o custo e ganhar escala. Pelos cálculos do grupo, da meta de 12 milhões de hectares (mha), de 4,5 mha a 5 mha estão na Amazônia. Há estudos que indicam, no entanto, que o passivo da região é muito maior, de 8 mha. Mas em vez de restauração, o que se continua vendo na região é perda de vegetação. Os últimos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estimam que entre agosto de 2015 e julho de 2016 foram

desmatados quase 8 mil km²

(ou 800 mil hectares). O resultado prático da aliança será uma plataforma na internet que possa ajudar a canalizar recursos e unir interessados em fazer a restauração com, por exemplo, produtores rurais que precisam ajustar os seus passivos ambientais (quem desmatou ilegalmente e precisa plantar para cumprir o Código Florestal). Hoje existem experiências de reflorestamento no Brasil, mas são localizadas, em pequena escala e bastante caras. Estudo feito pelo Instituto Escolhas com base em projetos já existentes estimou que alcançar a meta total poderia custar entre

R$ 31 bilhões e R$ 52 bilhões

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. "O esforço para atingir isso requer uma lógica diferente dos projetos hoje existentes, que são dispersos. É preciso sair do varejo e criar uma inteligência para esses projetos dialogarem", afirma Rodrigo Medeiros, vice-presidente da Conservação Internacional, ONG que está fazenda a secretaria executiva da aliança. O plano é ter com o passar do tempo nesta plataforma um mapeamento da Amazônia apontando onde estão as melhores oportunidades, onde estão as sementes e os viveiros, onde plantar tem o menor custo. "Queremos aproximar quem tem terra com quem precisa restaurar com as organizações que já fazem esse tipo de projeto. Mostrar onde estão os maiores déficits de vegetação e onde é mais fácil promover uma regeneração natural com um simples cercamento da área", explica. "É o tripé: oportunidade, necessidade e logística." Parte desses dados virá da transparência do Cadastro Ambiental Rural, hoje um dos motivos de batalha entre o agronegócio e o Ministério do Meio Ambiente. Por lei, as informações fornecidas pelos agricultores sobre suas propriedades têm de estar disponíveis, mas parte do setor tem pedido que isso não ocorra. "Uma das vantagens da transparência é justamente promover trabalhos como esse da aliança, que vai gerar oportunidades", diz Medeiros. Segundo Aurélio Padovezi, do World Resources Institute (WRI), organização que trabalha com projetos restauração e também vai compor a aliança, o projeto vai criar um espaço de diálogo entre os vários setores interessados na Amazônia. "Hoje a região é visada para a expansão de commodities, para a exploração de madeira e de outros produtos da biodiversidade, como castanha, açaí. A aliança busca entender essas dinâmicas para descobrir como será possível acomodar a demanda da restauração em todos esses contextos", afirma. "Vamos agregar a inteligência territorial que esses setores já têm. Eles sabem melhor que ninguém onde é área de aptidão agrícola, onde é melhor restaurar, quais são as regiões que vão mais facilmente se regenerar naturalmente. Articular tudo isso para enxergar de fato onde estão as melhores possibilidade de fazer restauração", complementa. Neste primeiro momento, além da CI e do WRI, a aliança é composta por Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), Instituto Socioambiental (ISA), Embrapa, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Amazônia Live/Rock in Rio, Amata e Grupo AFB (Agropecuária Fazenda Brasil). O Ministério do Meio Ambiente é parceiro da iniciativa.

Rock in Rio e o Xingu.

Apesar de estar sendo lançada oficialmente somente nesta segunda, a aliança já começou a plantar árvores, em uma iniciativa de um evento que num primeiro momento nada parece ter a ver com árvores, o Rock in Rio. No ano passado eles lançaram o "

Amazônia Live

", projeto socioambiental planejado para ocorrer em todas as edições do show até 2019. Na ocasião eles anunciaram que plantariam 3 milhões de árvores (doadas em sua maioria pelo festival, pela CI e pelo Banco Mundial) e o plano de chegar a 4 milhões com doações. No site do Amazonia Live, qualquer pessoa pode plantar uma árvore pagando R$ 5,5. O plantio já está sendo realizado na região da Bacia do Rio Xingu. Lá, o método utilizado é a chamada muvuca, uma mistura de sementes de diversas espécies coletadas por indígenas e moradores da região que participam da Rede de Sementes do Xingu, organizada pelo Instituto Socioambiental (ISA). Um dos objetivos da aliança é também valorizar esse tipo de trabalho, que hoje, como as demais etapas do processo, também ocorre em pequena escala, mas que é o primeiro passo dos projetos de restauração.

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Correções

Ao contrário do informado anteriormente, o plantio do Amazonia Live não está sendo realizado no Parque Indígena do Xingu, mas na região da Bacia do Xingu. O texto já foi corrigido.

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