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Empresários lançam em Nova York desafio para desenvolvimento de 'Amazônia possível'


O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pedu para participar do evento e tomou notas sobre as sugestões; em sua manifestação, apenas citou o que considerou os destaques das falas, mas sem apresentar propostas do ministério

Por Giovana Girardi

NOVA YORK - Um grupo de empresários brasileiros e organizações não governamentais lançou neste domingo, 22, em Nova York, na véspera da Cúpula do Clima da ONU, um desafio para construir o que chamam de "Amazônia Possível". O evento, voltado para pedir que o setor empresarial se comprometa a combater a ilegalidade em suas cadeias - a fim de conter o desmatamento na Amazônia - e ajude a concretizar caminhos para o desenvolvimento sustentável da região, acabou contando, de última hora, com a presença do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Segundo apurou o Estado, Salles pediu para participar do evento - informação que ele mesmo confirmou depois. A agenda ambiental do governo Bolsonaro vem sendo criticada especialmente por ambientalistas, mas mesmo alguns setores do agronegócio têm visto com preocupação mensagens de animosidade do governo, como, por exemplo, quando houve negação dos dados que indicam alta do desmatamento.

Membros do grupo Engajamundo protestam contra Salles no evento 'Amazônia Possével'. Crédito: Camila Oliveira / Engajamundo Foto: Estadão
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Nos últimos dias, Salles, que chegou a dizer que a crise da Amazônia foi um "falha de comunicação", tem feito esforços para falar com imprensa mundial e nacional, mas também com investidores e até mesmo com ambientalistas - algo que não tinha sido praxe na sua gestão. A intenção, como ele explicou, é esclarecer o que "de fato" tem ocorrido na região.

O aumento das queimadas na Amazônia em agosto colocou o Brasil no centro das atenções, e preocupações, mundiais. Os organizadores do evento deste domingo aproveitaram a comoção do momento para convocar, na sede da ONU, empresários a se mobilizarem e investirem em iniciativas que ajudem a desenvolver a região.

Conforme o Estado apurou, a presença do governo federal não estava prevista, mas Salles pediu para ouvir as propostas e foi recebido. Por uma hora e meia escutou e tomou notas do que disseram pessoas como o empresário Guilherme Leal, co-fundador da Natura e integrante do Conselho do Pacto Global da ONU, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), e o cientista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.

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Ao final do evento, Salles foi convidado a se pronunciar por André Guimarães, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e facilitador da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura, que mediou o diálogo e pediu mensagens "inspiradoras" do ministro. Salles lembrou declarações dos participantes, mas não chegou a dizer como o governo poderia ajudar na proposta.

"Vamos salvar a Monalisa como fazer mais, melhor", disse em referência a uma fala de Denise Hills, diretora de Sustentabilidade da Natura, que afirmou estarmos "queimando nossa Monalisa", ao dizer que a Amazônia é o tesouro do Brasil. O ministro também disse que a chave é conseguir ambas as coisas: proteção do ambiente com desenvolvimento.

Durante sua manifestação, alguns participantes chegaram a sair da sala em protesto e dois jovens da organização Engajamundo fizeram uma manifestação silenciosa com máscaras no rosto que diziam: "Salles, ecocida".

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O ministro disse depois que pediu para estar no evento porque ele tem a ver com a política do governo de buscar o desenvolvimento da região e afirmou que vai realizar em novembro, em Belém, no Pará, um evento para discutir a bioeconomia, conceito destacado no encontro deste domingo.

Chamado das ruas

"As ruas estão mostrando pra gente que a crise climática é gravíssima e o trato dela, inadiável. O que nos traz aqui é a gravidade do presente, não só da Amazônia, mas do globo como um todo. Sabemos quão importante é a Amazônia para o Brasil, para a América do Sul e para o globo de maneira mais ampla. Sabemos da influência que uma degradação pode criar seja para o agronegócio, para geração de emprego e renda, seja para as condições climáticas da região", afirmou Leal.

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"Temos um problema, e a primeira coisa para resolvê-lo é reconhecer que ele existe", complementou, antes de convocar os presentes a se engajarem para desenharem o futuro da "Amazônia Possível" que una a proteção da floresta com o desenvolvimento. "O setor privado tem papel fundamental de investir, gerenciar iniciativas, de criar prosperidade compartilhada na Amazônia - onde vivem 20 milhões de habitantes, onde muitos precisam sair da miséria - e ser cúmplices da conservação de uma Amazônia produtiva."

Brito reconheceu que a partir das queimadas de agosto e da repercussão mundial, o cenário mudou. "No futuro vamos olhar para esse mês e ver que foi ali que a sociedade brasileira se reconstruiu e a partir dali surgiu um novo Brasil", afirmou.

"O modelo do agronegócio na década de 70 era o de: vem, desmata 50% que terá o título da sua terra. O problema é que poucos desmataram 50%, muitos desmataram tudo e hoje alguns continuam fazendo isso. E poderia ter sido desmatamento trazendo melhoria da qualidade de vida de quem está lá, mas não foi isso que aconteceu. Acabou perpetuando a pobreza. Hoje há 1 milhão de pessoas na linha de miséria no Pará. É o caso crônico de política pública que não funcionou", disse.

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"Vamos aceitar que há 50 anos não tinhamos conhecimento para aplicar um desenvolvimento mais correto, mas hoje a gente sabe para onde temos de ir", complementou.

Nobre, que neste sábado lançou um painel científico para organizar estudos que mostram o risco de perda da floresta e apontar soluções para sua economia, foi taxativo: "O maior potencial brasileiro é ser uma potência ambiental da biodiversidade", referindo-se aos ganhos possíveis com o incremento tecnológico de produtos da floresta.

Halla Tómasdóttir, CEO do The B Team, coalizão de empresas comprometidas em desenvolver negócios mais sustentáveis, declarou que o modelo de business-as-usual, de dualidade entre produção e proteção, precisa ser redefinido. "Fazer negocio como se fazia antes nos levou para glaciares derretendo, florestas queimando, um nível inacreditável de desigualdade", disse. "E ainda não temos nenhuma tecnologia melhor que a árvore para sequestrar carbono.

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O cineasta Fernando Meirelles, que também participou do encontro, divulgou um pequeno vídeo que sintetiza o que é a ideia da Amazônia Possível. Confira abaixo.

* A repórter viajou a convite da organização No Peace Without Justice.

NOVA YORK - Um grupo de empresários brasileiros e organizações não governamentais lançou neste domingo, 22, em Nova York, na véspera da Cúpula do Clima da ONU, um desafio para construir o que chamam de "Amazônia Possível". O evento, voltado para pedir que o setor empresarial se comprometa a combater a ilegalidade em suas cadeias - a fim de conter o desmatamento na Amazônia - e ajude a concretizar caminhos para o desenvolvimento sustentável da região, acabou contando, de última hora, com a presença do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Segundo apurou o Estado, Salles pediu para participar do evento - informação que ele mesmo confirmou depois. A agenda ambiental do governo Bolsonaro vem sendo criticada especialmente por ambientalistas, mas mesmo alguns setores do agronegócio têm visto com preocupação mensagens de animosidade do governo, como, por exemplo, quando houve negação dos dados que indicam alta do desmatamento.

Membros do grupo Engajamundo protestam contra Salles no evento 'Amazônia Possével'. Crédito: Camila Oliveira / Engajamundo Foto: Estadão

Nos últimos dias, Salles, que chegou a dizer que a crise da Amazônia foi um "falha de comunicação", tem feito esforços para falar com imprensa mundial e nacional, mas também com investidores e até mesmo com ambientalistas - algo que não tinha sido praxe na sua gestão. A intenção, como ele explicou, é esclarecer o que "de fato" tem ocorrido na região.

O aumento das queimadas na Amazônia em agosto colocou o Brasil no centro das atenções, e preocupações, mundiais. Os organizadores do evento deste domingo aproveitaram a comoção do momento para convocar, na sede da ONU, empresários a se mobilizarem e investirem em iniciativas que ajudem a desenvolver a região.

Conforme o Estado apurou, a presença do governo federal não estava prevista, mas Salles pediu para ouvir as propostas e foi recebido. Por uma hora e meia escutou e tomou notas do que disseram pessoas como o empresário Guilherme Leal, co-fundador da Natura e integrante do Conselho do Pacto Global da ONU, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), e o cientista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Ao final do evento, Salles foi convidado a se pronunciar por André Guimarães, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e facilitador da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura, que mediou o diálogo e pediu mensagens "inspiradoras" do ministro. Salles lembrou declarações dos participantes, mas não chegou a dizer como o governo poderia ajudar na proposta.

"Vamos salvar a Monalisa como fazer mais, melhor", disse em referência a uma fala de Denise Hills, diretora de Sustentabilidade da Natura, que afirmou estarmos "queimando nossa Monalisa", ao dizer que a Amazônia é o tesouro do Brasil. O ministro também disse que a chave é conseguir ambas as coisas: proteção do ambiente com desenvolvimento.

Durante sua manifestação, alguns participantes chegaram a sair da sala em protesto e dois jovens da organização Engajamundo fizeram uma manifestação silenciosa com máscaras no rosto que diziam: "Salles, ecocida".

O ministro disse depois que pediu para estar no evento porque ele tem a ver com a política do governo de buscar o desenvolvimento da região e afirmou que vai realizar em novembro, em Belém, no Pará, um evento para discutir a bioeconomia, conceito destacado no encontro deste domingo.

Chamado das ruas

"As ruas estão mostrando pra gente que a crise climática é gravíssima e o trato dela, inadiável. O que nos traz aqui é a gravidade do presente, não só da Amazônia, mas do globo como um todo. Sabemos quão importante é a Amazônia para o Brasil, para a América do Sul e para o globo de maneira mais ampla. Sabemos da influência que uma degradação pode criar seja para o agronegócio, para geração de emprego e renda, seja para as condições climáticas da região", afirmou Leal.

"Temos um problema, e a primeira coisa para resolvê-lo é reconhecer que ele existe", complementou, antes de convocar os presentes a se engajarem para desenharem o futuro da "Amazônia Possível" que una a proteção da floresta com o desenvolvimento. "O setor privado tem papel fundamental de investir, gerenciar iniciativas, de criar prosperidade compartilhada na Amazônia - onde vivem 20 milhões de habitantes, onde muitos precisam sair da miséria - e ser cúmplices da conservação de uma Amazônia produtiva."

Brito reconheceu que a partir das queimadas de agosto e da repercussão mundial, o cenário mudou. "No futuro vamos olhar para esse mês e ver que foi ali que a sociedade brasileira se reconstruiu e a partir dali surgiu um novo Brasil", afirmou.

"O modelo do agronegócio na década de 70 era o de: vem, desmata 50% que terá o título da sua terra. O problema é que poucos desmataram 50%, muitos desmataram tudo e hoje alguns continuam fazendo isso. E poderia ter sido desmatamento trazendo melhoria da qualidade de vida de quem está lá, mas não foi isso que aconteceu. Acabou perpetuando a pobreza. Hoje há 1 milhão de pessoas na linha de miséria no Pará. É o caso crônico de política pública que não funcionou", disse.

"Vamos aceitar que há 50 anos não tinhamos conhecimento para aplicar um desenvolvimento mais correto, mas hoje a gente sabe para onde temos de ir", complementou.

Nobre, que neste sábado lançou um painel científico para organizar estudos que mostram o risco de perda da floresta e apontar soluções para sua economia, foi taxativo: "O maior potencial brasileiro é ser uma potência ambiental da biodiversidade", referindo-se aos ganhos possíveis com o incremento tecnológico de produtos da floresta.

Halla Tómasdóttir, CEO do The B Team, coalizão de empresas comprometidas em desenvolver negócios mais sustentáveis, declarou que o modelo de business-as-usual, de dualidade entre produção e proteção, precisa ser redefinido. "Fazer negocio como se fazia antes nos levou para glaciares derretendo, florestas queimando, um nível inacreditável de desigualdade", disse. "E ainda não temos nenhuma tecnologia melhor que a árvore para sequestrar carbono.

O cineasta Fernando Meirelles, que também participou do encontro, divulgou um pequeno vídeo que sintetiza o que é a ideia da Amazônia Possível. Confira abaixo.

* A repórter viajou a convite da organização No Peace Without Justice.

NOVA YORK - Um grupo de empresários brasileiros e organizações não governamentais lançou neste domingo, 22, em Nova York, na véspera da Cúpula do Clima da ONU, um desafio para construir o que chamam de "Amazônia Possível". O evento, voltado para pedir que o setor empresarial se comprometa a combater a ilegalidade em suas cadeias - a fim de conter o desmatamento na Amazônia - e ajude a concretizar caminhos para o desenvolvimento sustentável da região, acabou contando, de última hora, com a presença do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Segundo apurou o Estado, Salles pediu para participar do evento - informação que ele mesmo confirmou depois. A agenda ambiental do governo Bolsonaro vem sendo criticada especialmente por ambientalistas, mas mesmo alguns setores do agronegócio têm visto com preocupação mensagens de animosidade do governo, como, por exemplo, quando houve negação dos dados que indicam alta do desmatamento.

Membros do grupo Engajamundo protestam contra Salles no evento 'Amazônia Possével'. Crédito: Camila Oliveira / Engajamundo Foto: Estadão

Nos últimos dias, Salles, que chegou a dizer que a crise da Amazônia foi um "falha de comunicação", tem feito esforços para falar com imprensa mundial e nacional, mas também com investidores e até mesmo com ambientalistas - algo que não tinha sido praxe na sua gestão. A intenção, como ele explicou, é esclarecer o que "de fato" tem ocorrido na região.

O aumento das queimadas na Amazônia em agosto colocou o Brasil no centro das atenções, e preocupações, mundiais. Os organizadores do evento deste domingo aproveitaram a comoção do momento para convocar, na sede da ONU, empresários a se mobilizarem e investirem em iniciativas que ajudem a desenvolver a região.

Conforme o Estado apurou, a presença do governo federal não estava prevista, mas Salles pediu para ouvir as propostas e foi recebido. Por uma hora e meia escutou e tomou notas do que disseram pessoas como o empresário Guilherme Leal, co-fundador da Natura e integrante do Conselho do Pacto Global da ONU, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), e o cientista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Ao final do evento, Salles foi convidado a se pronunciar por André Guimarães, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e facilitador da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura, que mediou o diálogo e pediu mensagens "inspiradoras" do ministro. Salles lembrou declarações dos participantes, mas não chegou a dizer como o governo poderia ajudar na proposta.

"Vamos salvar a Monalisa como fazer mais, melhor", disse em referência a uma fala de Denise Hills, diretora de Sustentabilidade da Natura, que afirmou estarmos "queimando nossa Monalisa", ao dizer que a Amazônia é o tesouro do Brasil. O ministro também disse que a chave é conseguir ambas as coisas: proteção do ambiente com desenvolvimento.

Durante sua manifestação, alguns participantes chegaram a sair da sala em protesto e dois jovens da organização Engajamundo fizeram uma manifestação silenciosa com máscaras no rosto que diziam: "Salles, ecocida".

O ministro disse depois que pediu para estar no evento porque ele tem a ver com a política do governo de buscar o desenvolvimento da região e afirmou que vai realizar em novembro, em Belém, no Pará, um evento para discutir a bioeconomia, conceito destacado no encontro deste domingo.

Chamado das ruas

"As ruas estão mostrando pra gente que a crise climática é gravíssima e o trato dela, inadiável. O que nos traz aqui é a gravidade do presente, não só da Amazônia, mas do globo como um todo. Sabemos quão importante é a Amazônia para o Brasil, para a América do Sul e para o globo de maneira mais ampla. Sabemos da influência que uma degradação pode criar seja para o agronegócio, para geração de emprego e renda, seja para as condições climáticas da região", afirmou Leal.

"Temos um problema, e a primeira coisa para resolvê-lo é reconhecer que ele existe", complementou, antes de convocar os presentes a se engajarem para desenharem o futuro da "Amazônia Possível" que una a proteção da floresta com o desenvolvimento. "O setor privado tem papel fundamental de investir, gerenciar iniciativas, de criar prosperidade compartilhada na Amazônia - onde vivem 20 milhões de habitantes, onde muitos precisam sair da miséria - e ser cúmplices da conservação de uma Amazônia produtiva."

Brito reconheceu que a partir das queimadas de agosto e da repercussão mundial, o cenário mudou. "No futuro vamos olhar para esse mês e ver que foi ali que a sociedade brasileira se reconstruiu e a partir dali surgiu um novo Brasil", afirmou.

"O modelo do agronegócio na década de 70 era o de: vem, desmata 50% que terá o título da sua terra. O problema é que poucos desmataram 50%, muitos desmataram tudo e hoje alguns continuam fazendo isso. E poderia ter sido desmatamento trazendo melhoria da qualidade de vida de quem está lá, mas não foi isso que aconteceu. Acabou perpetuando a pobreza. Hoje há 1 milhão de pessoas na linha de miséria no Pará. É o caso crônico de política pública que não funcionou", disse.

"Vamos aceitar que há 50 anos não tinhamos conhecimento para aplicar um desenvolvimento mais correto, mas hoje a gente sabe para onde temos de ir", complementou.

Nobre, que neste sábado lançou um painel científico para organizar estudos que mostram o risco de perda da floresta e apontar soluções para sua economia, foi taxativo: "O maior potencial brasileiro é ser uma potência ambiental da biodiversidade", referindo-se aos ganhos possíveis com o incremento tecnológico de produtos da floresta.

Halla Tómasdóttir, CEO do The B Team, coalizão de empresas comprometidas em desenvolver negócios mais sustentáveis, declarou que o modelo de business-as-usual, de dualidade entre produção e proteção, precisa ser redefinido. "Fazer negocio como se fazia antes nos levou para glaciares derretendo, florestas queimando, um nível inacreditável de desigualdade", disse. "E ainda não temos nenhuma tecnologia melhor que a árvore para sequestrar carbono.

O cineasta Fernando Meirelles, que também participou do encontro, divulgou um pequeno vídeo que sintetiza o que é a ideia da Amazônia Possível. Confira abaixo.

* A repórter viajou a convite da organização No Peace Without Justice.

NOVA YORK - Um grupo de empresários brasileiros e organizações não governamentais lançou neste domingo, 22, em Nova York, na véspera da Cúpula do Clima da ONU, um desafio para construir o que chamam de "Amazônia Possível". O evento, voltado para pedir que o setor empresarial se comprometa a combater a ilegalidade em suas cadeias - a fim de conter o desmatamento na Amazônia - e ajude a concretizar caminhos para o desenvolvimento sustentável da região, acabou contando, de última hora, com a presença do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Segundo apurou o Estado, Salles pediu para participar do evento - informação que ele mesmo confirmou depois. A agenda ambiental do governo Bolsonaro vem sendo criticada especialmente por ambientalistas, mas mesmo alguns setores do agronegócio têm visto com preocupação mensagens de animosidade do governo, como, por exemplo, quando houve negação dos dados que indicam alta do desmatamento.

Membros do grupo Engajamundo protestam contra Salles no evento 'Amazônia Possével'. Crédito: Camila Oliveira / Engajamundo Foto: Estadão

Nos últimos dias, Salles, que chegou a dizer que a crise da Amazônia foi um "falha de comunicação", tem feito esforços para falar com imprensa mundial e nacional, mas também com investidores e até mesmo com ambientalistas - algo que não tinha sido praxe na sua gestão. A intenção, como ele explicou, é esclarecer o que "de fato" tem ocorrido na região.

O aumento das queimadas na Amazônia em agosto colocou o Brasil no centro das atenções, e preocupações, mundiais. Os organizadores do evento deste domingo aproveitaram a comoção do momento para convocar, na sede da ONU, empresários a se mobilizarem e investirem em iniciativas que ajudem a desenvolver a região.

Conforme o Estado apurou, a presença do governo federal não estava prevista, mas Salles pediu para ouvir as propostas e foi recebido. Por uma hora e meia escutou e tomou notas do que disseram pessoas como o empresário Guilherme Leal, co-fundador da Natura e integrante do Conselho do Pacto Global da ONU, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), e o cientista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Ao final do evento, Salles foi convidado a se pronunciar por André Guimarães, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e facilitador da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura, que mediou o diálogo e pediu mensagens "inspiradoras" do ministro. Salles lembrou declarações dos participantes, mas não chegou a dizer como o governo poderia ajudar na proposta.

"Vamos salvar a Monalisa como fazer mais, melhor", disse em referência a uma fala de Denise Hills, diretora de Sustentabilidade da Natura, que afirmou estarmos "queimando nossa Monalisa", ao dizer que a Amazônia é o tesouro do Brasil. O ministro também disse que a chave é conseguir ambas as coisas: proteção do ambiente com desenvolvimento.

Durante sua manifestação, alguns participantes chegaram a sair da sala em protesto e dois jovens da organização Engajamundo fizeram uma manifestação silenciosa com máscaras no rosto que diziam: "Salles, ecocida".

O ministro disse depois que pediu para estar no evento porque ele tem a ver com a política do governo de buscar o desenvolvimento da região e afirmou que vai realizar em novembro, em Belém, no Pará, um evento para discutir a bioeconomia, conceito destacado no encontro deste domingo.

Chamado das ruas

"As ruas estão mostrando pra gente que a crise climática é gravíssima e o trato dela, inadiável. O que nos traz aqui é a gravidade do presente, não só da Amazônia, mas do globo como um todo. Sabemos quão importante é a Amazônia para o Brasil, para a América do Sul e para o globo de maneira mais ampla. Sabemos da influência que uma degradação pode criar seja para o agronegócio, para geração de emprego e renda, seja para as condições climáticas da região", afirmou Leal.

"Temos um problema, e a primeira coisa para resolvê-lo é reconhecer que ele existe", complementou, antes de convocar os presentes a se engajarem para desenharem o futuro da "Amazônia Possível" que una a proteção da floresta com o desenvolvimento. "O setor privado tem papel fundamental de investir, gerenciar iniciativas, de criar prosperidade compartilhada na Amazônia - onde vivem 20 milhões de habitantes, onde muitos precisam sair da miséria - e ser cúmplices da conservação de uma Amazônia produtiva."

Brito reconheceu que a partir das queimadas de agosto e da repercussão mundial, o cenário mudou. "No futuro vamos olhar para esse mês e ver que foi ali que a sociedade brasileira se reconstruiu e a partir dali surgiu um novo Brasil", afirmou.

"O modelo do agronegócio na década de 70 era o de: vem, desmata 50% que terá o título da sua terra. O problema é que poucos desmataram 50%, muitos desmataram tudo e hoje alguns continuam fazendo isso. E poderia ter sido desmatamento trazendo melhoria da qualidade de vida de quem está lá, mas não foi isso que aconteceu. Acabou perpetuando a pobreza. Hoje há 1 milhão de pessoas na linha de miséria no Pará. É o caso crônico de política pública que não funcionou", disse.

"Vamos aceitar que há 50 anos não tinhamos conhecimento para aplicar um desenvolvimento mais correto, mas hoje a gente sabe para onde temos de ir", complementou.

Nobre, que neste sábado lançou um painel científico para organizar estudos que mostram o risco de perda da floresta e apontar soluções para sua economia, foi taxativo: "O maior potencial brasileiro é ser uma potência ambiental da biodiversidade", referindo-se aos ganhos possíveis com o incremento tecnológico de produtos da floresta.

Halla Tómasdóttir, CEO do The B Team, coalizão de empresas comprometidas em desenvolver negócios mais sustentáveis, declarou que o modelo de business-as-usual, de dualidade entre produção e proteção, precisa ser redefinido. "Fazer negocio como se fazia antes nos levou para glaciares derretendo, florestas queimando, um nível inacreditável de desigualdade", disse. "E ainda não temos nenhuma tecnologia melhor que a árvore para sequestrar carbono.

O cineasta Fernando Meirelles, que também participou do encontro, divulgou um pequeno vídeo que sintetiza o que é a ideia da Amazônia Possível. Confira abaixo.

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