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COP do Clima reafirma compromissos do passado e joga decisões para 2018

Foram dois pontos de destaque: a reafirmação dos países desenvolvidos dos cumprimentos de suas metas até 2020 – uma vitória para os países em desenvolvimento; e a adoção, para o ano que vem, do chamado Diálogo Talanoa, expressão de Fiji para colaboração e conciliação.

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Por Giovana Girardi
Atualização:
Réplica da Estátua da Liberdade feita pelo artista dinamarquês Jens Galschiot emite fumaça em um parque do lado de fora do local onde ocorriam as negociações da Conferência do Clima em Bonn, na Alemanha. Crédito: Martin Meissner/AP Foto: Estadão

BONN - Em uma conferência de caráter técnico, em que se esperavam avanços modestos sobre como serão as regras do Acordo de Paris - já que elas só fecham para valer no ano que vem - os negociadores da Conferência do Clima da ONU, em Bonn, acabaram chegando a conclusões que, na prática, reafirmam decisões passadas e jogam para 2018 a resolução de temas que emperraram as negociações neste ano, como financiamento.

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A conferência seguia pela madrugada (horário local) deste sábado, 18, com dois pontos de destaque. Um deles é reafirmação dos países desenvolvidos dos cumprimentos de suas metas até 2020 - uma vitória para os países em desenvolvimento. O outro é um processo que deve ocorrer no ano que vem, o chamado Diálogo Talanoa, expressão de Fiji - que tem a presidência da COP - para um diálogo de colaboração e conciliação.

O cumprimento e o aumento de ambição dos compromissos pré-2020 virou a principal celeuma dos 10 primeiros dias da conferência. Isso porque o Acordo de Paris, tema central da reunião, só será válido a partir de 2020 - e é sobre ele que se buscavam estabelecer as regras de funcionamento nesta COP.

+++ Brasil se oferece para sediar Conferência do Clima em 2019 Até lá, países desenvolvidos têm metas de reduções de emissões a cumprir ainda dentro do Protocolo de Kyoto, regime climático anterior, e de doação de US$ 100 bilhões para os países em desenvolvimento até 2020, valor que ainda não está claro sobre como vai ser obtido.

Havia no início da conferência um clima de desconfiança de que esses compromissos não seriam seguidos, mas o assunto acabou sendo contornado. "Acabamos vendo um apetite forte para a redução de emissões antes de 2020. E isso é mais do que esperávamos", comentou Mohamed Adow, ambientalista do Quênia da ONG Christian Aid.

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Era sobre o Talanoa que havia mais dúvidas para o fechamento da conferência. A ideia de haver um diálogo no ano que vem para discutir as metas apresentadas junto ao Acordo de Paris já era prevista pelo próprio acordo. Isso porque já é sabido, desde 2015, que os compromissos feitos pelos países são incapazes de cumprir a principal meta de Paris - conter o aquecimento do planeta a menos de 2°C até o final do século, com tentativas de ficar em 1,5°C.

O primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, que presidiu a COP 23. Crédito: Wolfgang Rattay / Reuters Foto: Estadão

O governo de Fiji propôs que esse diálogo funcione como ocorre com os Talanoas no país. "É todo um processo político em que se garante o direito de haver uma discussão justa para aquelas pessoas que realmente importam", resumiu a ambientalista Raijeli Nicole, da ONG Oxfam em Fiji, se referindo a povos que já estão sofrendo os impactos das mudanças climáticas.

Criou-se em torno do tal diálogo, porém, uma expectativa alta de que os países terão de indicar, já no ano que vem, novas possíveis metas a serem adotadas a partir de 2020, o que deixou muitos desconfortáveis. De fato, o Acordo de Paris não prevê isso, trata-se mais sobre "abrir o caminho para viabilizar a ambição", como explicou um negociador do G-77.

"Nós conseguimos avançar em Bonn em direção aos nossos objetivos comuns, mas essa é uma jornada ambiciosa e todos os países vão precisar acelerar daqui para a frente. Para conseguir cumprir os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris, teremos que arrancar em alta velocidade em 2020. Por enquanto estamos andando rápido, mas todos os países terão que correr", afirmou o ministro do Meio Ambiente do Brasil, Sarney Filho, por meio de nota.

+++ Sarney Filho anuncia planos para biocombustíveis e recuperação florestal na COP do Clima "Os esforços dos países desenvolvidos em Bonn para não abordar as ações necessárias antes de 2020 deixaram o Brasil bastante preocupado. Estamos satisfeitos por ver essa questão de volta ao centro das discussões, mas agora precisamos ver como essas palavras serão materializadas em ações", complementou.

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"Bonn cumpriu sua promessa, mas não atendeu às necessidades do planeta. Previa-se uma COP técnica, desinteressante, e foi exatamente isso. O processo foi resgatado de uma possível reabertura da fissura entre ricos e pobres países, mas, infelizmente, a atmosfera não se preocupa com o processo. O que precisamos agora é mais ambição em cortes de emissões e finanças, e isso esteve fora da mesa. Enquanto isso, a janela para evitar o aquecimento global de 1,5 grau está se fechando rapidamente", comentou Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, no Brasil.

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EUA e carvão. Esta conferência também tinha o desafio de manter em alta o espírito de cooperação e confiança que se formou em torno do Acordo de Paris, de 2015, primeiro marco jurídico universal de luta contra o aquecimento global. A saída anunciada dos Estados Unidos pelo presidente Donald Trump, negacionista declarado das mudanças climáticas, causava apreensão em como os demais iriam se comportar.

Mas o país ficou isolado. A delegação americana oficial chegou a realizar um evento para promover o que chama de "carvão limpo" - em meio à conferência que defende o fim dos combustíveis fósseis -, que rendeu um dos momento mais emocionantes. Centenas de pessoas compareceram ao evento, mas somente com o intuito de fazer um protesto. Congressistas democratas se manifestaram em uma espécie de ato de desagravo, seguidos por jovens que entoaram uma música pedindo o fim do uso de combustíveis fósseis. Na sequência, todos abandonaram a sala, deixando para trás um punhado de defensores do carvão.

Três dias depois, um novo sinal de isolamento foi a criação de uma aliança de 20 países, liderados por Canadá e Reino Unido, com a intenção de iniciar o fim do uso do carvão.

COP 25. O Brasil anunciou sua candidatura para ser a sede da Conferência do Clima de 2019, mas a decisão sobre isso, ao contrário do que se esperava, não seria anunciada ao fechamento de Bonn.

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* A repórter viaja como bolsista do fellowship Climate Change Media Partnership

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